Fernando A. VelosoI; André VillelaII; Fabio Giambiagi
IIbmec-RJ. E-mail: fveloso@ibmecrj.br
IIEPGE/FGV e UCAM. E-mail: Andre.Villela@fgv.br
IIIBNDES. E-mail: fgiambia@bndes.gov.br
Durante o período 1968-1973, o PIB brasileiro cresceu a uma taxa de cerca de 11,1% a.a., enquanto no período 1964-1967 o crescimento havia sido de 4,2% a.a..2 Como mostra a Tabela 1, uma característica notável do "milagre" é que, simultaneamente a taxas muito elevadas de crescimento econômico, o período 1968-1973 caracterizou-se por taxas de inflação declinantes e relativamente baixas para os padrões brasileiros e por superávits no balanço de pagamentos.
Como se pode observar na Tabela 1, enquanto a taxa de crescimento do PIB acelerou-se ao longo do tempo, elevando-se de 9,8% a.a. em 1968 para 14% a.a em 1973, a inflação, medida pelo Índice Geral de Preço (IGP), declinou de 25,5% para 15,6% durante o período.
Além disso, embora o saldo de transações correntes tenha sido deficitário no período, o balanço de pagamentos foi superavitário em todos os anos e crescente ao longo do período, em função da entrada líquida de capitais de empréstimo e investimentos diretos. Também deve ser destacado que, em função do crescimento extraordinário das exportações, a relação dívida externa líquida/exportações declinou de 2,0 para 1,4 entre 1968 e 1973.
A Tabela 2 contrasta vários indicadores econômicos do período 1968-1973 com o período 1964-1967. Ela confirma que o período 1968-1973 foi extraordinário não somente no que diz respeito às taxas de crescimento econômico, mas também em relação ao comportamento da inflação e das contas externas.
Como mostra a Tabela 2, enquanto a taxa média de crescimento do PIB elevou-se de 4,2% a.a no período 1964-1967 para 11,1% a.a em 1968-1973, a taxa de inflação declinou de 45,4% para 19,1%. Também se verificou uma forte aceleração na taxa de crescimento das exportações e importações em 1968-1973, saltando de 4,1% e 2,7% a.a. para 24,6% e 27,5% a.a., respectivamente, entre os dois períodos.
Embora o saldo de transações correntes tenha se deteriorado em cerca de US$ 1,2 bilhão ao ano em 1968-1973, o saldo do balanço de pagamentos, que era deficitário em US$ 13,8 milhões em 1964-1967, tornou-se superavitário em US$ 1,1 bilhão, em média anual, no período 1968-1973.
Alguns estudos recentes têm revelado outra dimensão importante do "milagre", que não tinha sido enfatizada anteriormente. Em particular, Gomes et alii (2003) mostram, utilizando uma metodologia de contabilidade do crescimento, que o crescimento da produtividade total dos fatores (PTF) foi o principal determinante do crescimento econômico brasileiro entre 1967 e 1976. Os autores também documentam uma queda da relação capital-produto no período.
Um estudo de Bacha e Bonelli (2004) também forneceu evidências de que o período 1968-1973 se distingue dos demais no que diz respeito ao comportamento da produtividade. Os autores mostram que, entre 1946 e 2002, houve uma forte tendência de declínio da relação entre o produto e uma medida do estoque de capital ajustado pelo seu grau de utilização. No entanto, entre 1968 e 1973, houve uma elevação da relação produto-capital em uso, o que é consistente com a queda da relação capital-produto encontrada em Gomes et alii (2003) para o período 1967-1976.
Portanto, a literatura brasileira recente de crescimento econômico fornece sólidas evidências de que o "milagre" brasileiro foi um "milagre" de produtividade.
Parte integrante de
Determinantes do "milagre" econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica*
Revista Brasileira de Economia
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