Por Teresa Montero, doutora em Literatura Brasileira pela PUC-RJ
Foi na redação da Agência Nacional que a jovem jornalista Clarice Lispector entrou no mundo literário, pelas mãos de seu colega, o romancista e poeta Lúico Cardoso, dotado de uma personalidade enigmática e sedutora.
Clarice não resistiu aos seus encantos e percebeu que Lúcio era um mundo no qual ela gostaria de viver. "Lúcio e eu sempre nos admitimos: ele com sua vida misteriosa e secreta, eu com o que ele chamava de 'vida apaixonante'. Em tantas coisas éramos tão fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos casado."
A parceria amorosa não se concretizou, mas os laços de amizade possibilitaram a descoberta de inúmeras afinidades. Lúcio e Clarice eram daqueles tipos de autores que escreviam movidos por uma exigência íntima, da qual não podiam escapar. Para eles, viver e criar eram sinônimos.
Após a publicação de seu primeiro livro, Perto do coração, Clarice, recém-casada, mudou-se para a Europa com o marido diplomata. Nessa fase, a amizade sobreviveu por meio das cartas. Clarice falava do seu trabalho e pedia conselhos. Sempre atenta à publicação dos livros de Lúcio, gostava de comentar as suas impressões, mostrava-se uma leitora voraz e interessada.
Difícil precisar quem exerceu o papel de discípulo e quem o de mestre, e até que ponto as influências dessa relação repercutiram em seus trabalhos. Em todos os seus depoimentos, Clarice assumiu o papel de discípula, mas o que fica é a impressão de que a relação marcou o encontro de duas pessoas que se descobriram muito próximas no ver, no sentir e no viver.
Tanto que, ao falarem o que pensavam um do outro, os dois escolhiam a imagem do fogo. Dizia Lúcio: "em toda obra dessa grande escritora, alguma coisa íntima está sempre queimando: suas luzes nos chegam variadas e exatas, mas são luzes de um incêndio que está sendo continuamente elaborado por trás de sua contensão. Esse fogo é o segredo íntimo e derradeiro de Clarice."
Já Clarice, ao lembrar-se do amigo, depois de sua morte, escreveu numa crônica: "Lúcio, estou com saudade de você, corcel de fogo que você era sem limite para o seu galope." Essa busca incessante e ilimitada do sentido da vida, a coragem de colocarem toda a sua alma naquilo que escreveram, os uniu para sempre.
Foi na redação da Agência Nacional que a jovem jornalista Clarice Lispector entrou no mundo literário, pelas mãos de seu colega, o romancista e poeta Lúico Cardoso, dotado de uma personalidade enigmática e sedutora.
Clarice não resistiu aos seus encantos e percebeu que Lúcio era um mundo no qual ela gostaria de viver. "Lúcio e eu sempre nos admitimos: ele com sua vida misteriosa e secreta, eu com o que ele chamava de 'vida apaixonante'. Em tantas coisas éramos tão fantásticos que, se não houvesse a impossibilidade, quem sabe teríamos nos casado."
A parceria amorosa não se concretizou, mas os laços de amizade possibilitaram a descoberta de inúmeras afinidades. Lúcio e Clarice eram daqueles tipos de autores que escreviam movidos por uma exigência íntima, da qual não podiam escapar. Para eles, viver e criar eram sinônimos.
Após a publicação de seu primeiro livro, Perto do coração, Clarice, recém-casada, mudou-se para a Europa com o marido diplomata. Nessa fase, a amizade sobreviveu por meio das cartas. Clarice falava do seu trabalho e pedia conselhos. Sempre atenta à publicação dos livros de Lúcio, gostava de comentar as suas impressões, mostrava-se uma leitora voraz e interessada.
Difícil precisar quem exerceu o papel de discípulo e quem o de mestre, e até que ponto as influências dessa relação repercutiram em seus trabalhos. Em todos os seus depoimentos, Clarice assumiu o papel de discípula, mas o que fica é a impressão de que a relação marcou o encontro de duas pessoas que se descobriram muito próximas no ver, no sentir e no viver.
Tanto que, ao falarem o que pensavam um do outro, os dois escolhiam a imagem do fogo. Dizia Lúcio: "em toda obra dessa grande escritora, alguma coisa íntima está sempre queimando: suas luzes nos chegam variadas e exatas, mas são luzes de um incêndio que está sendo continuamente elaborado por trás de sua contensão. Esse fogo é o segredo íntimo e derradeiro de Clarice."
Já Clarice, ao lembrar-se do amigo, depois de sua morte, escreveu numa crônica: "Lúcio, estou com saudade de você, corcel de fogo que você era sem limite para o seu galope." Essa busca incessante e ilimitada do sentido da vida, a coragem de colocarem toda a sua alma naquilo que escreveram, os uniu para sempre.
Revista Cult