terça-feira, 10 de dezembro de 2013

História ensaboada

Cinzas vegetais e sebo de bode faziam parte da receita do primeiro sabão

Ei, você! Já tomou banho hoje? Com sabão, não foi? Ainda sentindo o cheirinho gostoso de sua espuma, responda: você sabe como surgiu esse importante artigo de higiene?



Não dá para dizer ao certo quando o sabão foi inventado, mas o historiador romano Plínio, o Velho – que viveu do ano 23 ao ano 79 da nossa era – já relatava a preocupação dos povos mais antigos com a limpeza (Foto: Wikimedia Commons / Soapy Soap Company / CC BY-SA 3.0)

Antes da invenção do sabão, para limpar algum tecido, era preciso, por exemplo, batê-lo sobre pedras em um rio. A fricção com a pedra e a ação da água arrancavam a sujeira da roupa – sobretudo substâncias gordurosas, que não se dissolvem na água. Porém, haja esforço!

Os antigos sabiam que a adição de cinzas vegetais à água usada para lavar roupa facilitava um bocado o processo. Daí para criar o sabão, foi um pulo!

Plínio, o Velho, contou que os fenícios fabricaram o que hoje consideramos o primeiro sabão de que se tem notícia. Ao colocar sebo de bode com cinzas de plantas em grandes tachos e aquecê-los por várias horas sobre uma fogueira, eles conseguiram fazer um produto diferente…

Cinzas + sebo = sabão + glicerina
Depois que a mistura derretia e fumegava, uma substância esponjosa subia à tona e endurecia quando esfriava, deixando um líquido no fundo do tacho. Ela era amarelada, salpicada de cinzas e, mesmo que tudo o que fosse responsável pelo cheiro de bode tivesse sido removido, apresentava um irresistível cheirinho de sebo derretido.


Apesar de cheio de características repugnantes, o primeiro sabão já registrado dava conta do recado – era capaz de eliminar sujeiras e gorduras, como faz hoje com roupas, panelas e pessoas (Ilustração: Cruz)

Aos seus olhos, pode parecer incrível que, misturando sebo de bode e cinzas, tenha se formado o sabão. Mas o que aconteceu no tacho dos fenícios pode ser muito bem explicado!

As gorduras animais, como o sebo de bode, são ricas em uma substância que praticamente não se dissolve na água. Seu nome? Estearina. Já as cinzas das plantas são ricas em outra substância: os sais de potássio. Quando a estearina entra em contato com esses sais, é formado um composto chamado esteorato de potássio, que nada mais é do que um tipo de sabão.

O líquido que ficava no fundo do tacho dos fenícios, por outro lado, é o que chamamos de glicerina. Já ouviu falar? A glicerina tem muitas aplicações: é utilizada na indústria farmacêutica e na fabricação de explosivos. Com a sua venda, as fábricas de sabão lucram bastante. Além disso, podem misturar a glicerina ao sabão, junto com um pouco de lanolina, óleo de coco e alguns alcoóis, para obter sabonete!

Sabões hoje

Agora que conhecemos a história dos fenícios, no entanto, é preciso dizer: nem só sebo de bode e cinzas de planas podem ser empregados para fabricar sabão. Qualquer gordura animal ou óleo vegetal serve. Atualmente, por exemplo, são bastante utilizados o óleo de coco e o de palma. No lugar das cinzas, é comum empregar soda cáustica, uma substância corrosiva.

Felizmente, os sabões de hoje têm um cheiro mais agradável. Já pensou tomar banho e sair com cheiro de sebo de bode?!


Por que o sabão limpa até os pratos mais engordurados?

Não sei se você já tentou lavar um prato engordurado só com água – não adianta de nada! Já com sabão, a louça fica limpinha! Você sabe explicar por quê?

O sabão é formado por pequenas moléculas com uma propriedade especial: uma parte delas em afinidade com a água e outra parte tem afinidade com a gordura. Ou seja, um lado da molécula de sabão gruda na água e o outro, na gordura! Desse jeito, a água com sabão consegue retirar a gordura, por exemplo, da superfície de uma panela. É como se o sabão formasse uma ponte entre a gordura e a água – que não se misturam normalmente – e os três saíssem juntos.
Breno Pannia Espósito, Instituto de Química, Universidade de São Paulo
Revista Ciência Hoje das Crianças

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