terça-feira, 23 de julho de 2013

O portão de Plutão?

Arqueólogos italianos podem ter encontrado uma porta para o ‘mundo inferior’,descrita em históricos textos gregos e romanos.

O portão de Plutão?
Uma simulação digital de como seria a recém-descoberta 'Porta do Inferno' nos tempos do Império RomanoO local era rota de peregrinação naquela época. (imagem: Francesco D'Andria)
Cientistas italianodescobriram a porta para o ‘inferno’. Calma, não se trata de um sinal do apocalipse. Na verdade, um grupo de arqueólogos italianos encontrou ruínas de um antigo templo que a tradição romana diz abrigar um portal para o mundo inferior,o hades. 
Segundo registros históricos, qualquer animal que entrasse nolocal, cheio de um vapor nebuloso edenso, encontrava a morte instantânea 
Segundo escritode cerca de dois mil anos, esse templo estaria localizado próximo à antiga cidade romana de Hierápolis (perto da atual Pamukkale, na Turquia). Dedicado aHades (Plutão) e Perséfone (Core), ele abrigaria uma espécie de caverna com vapores altamente mortais, a tal ‘porta do inferno’ – descrita pelo historiador gregStrabo como um local "cheio de um vapor tãnebuloso e denso que dificilmente era possível ver o chão" e no qual "qualquer animal que entre encontra a morte instantânea". 
Lugar bacana, não é? Pois bem, naqueles tempos a cidade estava na rota de muitos peregrinos que circulavam pela região. Conforme o arqueólogo Francesco D'Andria, da Universidade de Salento (Itália), declarou ao Discovery News, a maioria dos visitantes do templo vinha em busca da água da fonte existente no local, capaz de produzir profecias e visões em sonhos – e ainda aproveitava as fontes termais das proximidades
descoberta do complexo foi feita a partir da reconstrução das rotas para essas fontes. Em meio às muitas ruínas do local, os italianos identificaram um templo dedicado às deidades do hades e evidências arquitetônicas que batem com as descrições históricas. 
Portão de Plutão
O sítio encontrado pelos arqueólogos apresenta características muito semelhantes ao local descrito nos textos históricos. As inscrições indicam um templo dedicada Hades (Plutão) e Perséfone (Core), senhores do mundo inferior. (foto: Francesco D'Andria)
Fora seu aspecto místico, a letalidade da caverna era quase ‘turística’: os pesquisadores explicam que, apesar de serem proibidode se aproximar da entrada,os peregrinos assistiam aos ritos dodegraus e recebiam pequenas aves para serem levadas até a abertura e comprovar os efeitos fatais. 
Os peregrinos assistiam aos ritos dodegraus e recebiam pequenas aves para serem levadas até a abertura e comprovar os efeitos fatais 
Os sacerdotes também bebiam da água alucinógena e sacrificavam touros em honra a PlutãoOs próprios arqueólogos comprovaram os efeitos dos vapores durante as escavações: diversos pássaros que se aproximaram da abertura quente morriam imediatamente coo vapor tóxico
Segundo D'Andria, a descoberta é excepcional por confirmar informações que só existiam em fontes históricas muito antigas. Ele explica que o templo era popular até o século 4 e foi visitado até o século 6. Coo crescimento dcatolicismo, no entanto, acabou abandonado– e, posteriormente, destruído por terremotos e intempéries. 
Os pesquisadores trabalham, agora, na reconstrução digital do local. Essa não foi a primeira descoberta polêmica e mística do grupo: dois anos atrás, eles anunciaram ter encontrado, na mesma regiãoum túmulo que pode ter pertencido ao apóstolo Felipe, um dos doze discípulode Jesus Cristo, segundo a Bíblia.

Porta dos fundos?

Saindo um pouco da mitologia e da antiguidadeo nosso mundo já possui outra ‘porta para o inferno’, essa bem mais moderna. Localizada não muito longe dali, na região deDerweze  (ou Darvaza), no Turcomenistão, ela arde em labaredas incandescentes desde a década de 1970. No entanto, muito longe de ser obra de algum deus da antiguidade, esse portão em pleno deserto de Karakum é fruto da ação humana.
Derweze
No deserto do Turcomenistão, uma outra 'porta para o inferno', que nada tem a ver codeuses antigos, mas com a economia moderna. (foto: Wikimedia commons)
No início da década de 1970, a então União Soviética pretendia explorar os ricodepósitode gás natural da região. Quando o chão abaixo da plataforma de perfuraçãcedeu, criou um buraco de cerca de 70 metrode diâmetro que liberava gás natural na atmosfera. Para prevenir seus efeitos tóxicos, os geólogodecidiram que a melhoopção seria ‘tacar fogo em tudo’, na esperança de que, em algumas semanas, reservatório se esgotasse. Resultadoo regime comunista acabou, a União Soviética se esfacelou e o nosso ‘inferno moderno’ continua a arder e a espalhar um forte odor pela região
Apesar de nenhum templo ter sido construído e de ninguém sacrificar touros por lá, Darvaza se tornou também uma atração turística – até a tribo que habitava a região foi expulsa de lá em 2004, para não ‘incomodar’ os visitantes. Desde 2010 o governo dpaís vem buscando formas de fechar a porta ou ao menos limitar a sua influência ndesenvolvimento de outros campode extração de gás natural na região

Marcelo Garcia 
Revista Ciência Hoje 

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