terça-feira, 6 de março de 2012

Malcolm X: da infância ao ingresso na Nação do Islã

Foto: © Estate of Malcolm X
Sílvio Anaz

Malcolm X nasceu como Malcolm Little em 19 de maio de 1925 na cidade de Omaha, no Nebraska (EUA). Seu pai, Earl Little, era pastor da Igreja Batista e tinha sido um entusiasta seguidor do ativista negro Marcus Garvey, fundador da Associação Universal para o Progresso Negro. Malcolm era o quarto de oito filhos. Ainda quando era bebê, sua família teve que se mudar às pressas para Wiscosin após a casa onde morava ter sido incendiada por uma organização racista chamada Legião Negra, provavelmente em represália aos sermões que o pai de Malcolm dava na igreja defendendo os direitos civis da população negra.

Após três anos em Wiscosin, eles seguiram para uma fazenda em Michigan, rodeada por uma vizinhança branca e racista que exigia que eles fossem para uma região onde só morassem negros. Earl decidiu ficar e mais uma vez a casa dos Little foi incendiada. O pai de Malcolm não desistiu, mas acabou morto em setembro de 1931. Seu corpo foi encontrado mutilado numa estrada de ferro onde teria sido atropelado por uma composição. A polícia considerou suicídio, mas é mais provável que ele tenha sido vítima de um crime racial.

Malcolm tinha seis anos de idade quando perdeu o pai, e sua mãe, Louise Little, teve imensas dificuldades para evitar que os filhos passassem fome, muitas vezes tendo que cozinhar plantas e ervas que catava nas ruas para servir de alimento para eles. Após sete anos tentando manter os filhos, ela não aguentou e teve um colapso mental. Internada numa instituição psiquiátrica, ela permaneceu lá durante 26 anos. Malcolm e seus irmãos foram encaminhados a lares adotivos e centros juvenis mantidos pelo Estado. Quando cursava a oitava série, um dos seus professores disse a ele que era melhor Malcolm aprender o ofício de carpinteiro do que tentar ser um advogado. Foi a deixa para o já adolescente rebelde se mandar para a casa de uma irmã mais velha em Boston.

Após passar um tempo vivendo de pequenos trabalhos, ele conseguiu um emprego no trem que ligava Boston a Nova York. No tempo que passava em Nova York começou a frequentar o bairro do Harlem e a conviver com os criminosos locais. Logo, Malcolm tornou-se conhecido tanto nas ruas de Roxbury, bairro onde sua irmã morava em Boston, como nas do Harlem, ao mostrar seu jeito durão e liderar gangues de ladrões e traficantes de drogas. Por usar um alisante que tornava seu cabelo vermelho, ele ficou conhecido como "Red"

Em janeiro de 1946, Malcolm acabou preso acusado de assaltos a residências em Boston. Ele foi condenado a dez anos de prisão. Foi nesse período que ele começou a se tornar Malcolm X. Um de seus irmãos, que também estava cumprindo pena na mesma penitenciária, havia aderido à organização Nação do Islã, um movimento que combinava elementos do Islamismo com ideias do nacionalismo negro, e que era liderado por Elijah Muhammad. Ele convenceu Malcolm a seguir seus passos, e o jovem parou de fumar, apostar e comer carne de porco, entre outros mandamentos preconizados pela organização. Suas horas de ócio na prisão foram preenchidas por leituras na biblioteca num processo autodidata que desenvolveu seus conhecimentos e sua capacidade para debater. Seguindo o costume da Nação do Islã, ele também trocou seu sobrenome - segundo a organização, os nomes de família que os negros tinham na América eram originários dos brancos que os escravizaram. No lugar de "Little", Malcolm adotou o "X".

Quando saiu da prisão em agosto de 1952, Malcolm X era um jovem debatedor tão talentoso e carismático que se tornou ministro assistente do Templo da Nação do Islã em Detroit. Dois anos depois ele já era ministro do Templo no Harlem, em Nova York. Mas àquela altura ele era mais do que um ministro num templo, ele tinha se tornado o porta-voz da Nação do Islã nos Estados Unidos e viajava constantemente pelo país atraindo milhares de novos adeptos para a organização. Em dez anos como uma das mais importantes vozes da Nação do Islã ele fez o movimento saltar de cinco centenas de membros para mais de 30 mil.

Discurso raivoso

No começo dos anos 60, as tensões raciais cresceram nos Estados Unidos, e Malcolm X inflamou seu discurso na mesma proporção. Em 1962, a polícia invadiu um Templo da Nação do Islã em Los Angeles, o que resultou na morte de um dos ativistas, e em seis feridos, sendo que um deles ficou paralítico. Malcolm X reagiu com fúria e convocou protestos da comunidade negra que resultaram em conflitos com policiais, prisões e feridos. Para ele, alguém que agredisse um negro merecia ser mandado para o cemitério. Esse tipo de discurso chamou a atenção do FBI, que infiltrou agentes na Nação do Islã. Alheio ou não à vigilância dos órgãos de segurança, o fato é que, do púlpito de seu Templo no Harlem, ele continuou a pregar usando um discurso raivoso contra a população branca. Para ele, havia uma ligação entre a cor da pele negra e o Islamismo, assim como havia uma entre a cor branca e o Cristianismo, o que tornava o homem branco seu inimigo racial e religioso. Um grave engano que ele só entenderia durante sua peregrinação a Meca alguns anos depois. http://pessoas.hsw.uol.com.br

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