domingo, 19 de janeiro de 2014

Coréia do Norte - O reino da Família Kim

Em novembro último, o Exército da Coréia do Norte bombardeou uma ilha ocupada pela vizinha Coréia do Sul. O episódio seria apenas mais um na tensa rotina de convivência entre os dois países, não fosse a suspeita de que o ataque tenha sido ordenado por Kim Jong-un, o sucessor do atual Líder nacional, Kim Jong Il. Na Coréia do Norte é assim: o Poder passa de pai para filho, como se a nação não passa
Morgana Gomes



A primeira dinastia socialista
Três anos depois, em 1948, quando a União Soviética estabeleceu a República Democrática Popular na Coreia do Norte, como líder oficial do Partido dos Trabalhadores Coreano, Kim Il-Sung passou a ter um poder quase que total sobre o país, ao exercer um papel similar ao que Mao Tsé Tung (1893 – 1976) desempenhou na China. Entre 1950 e 1953, liderou os nortecoreanos na guerra contra a Coreia do Sul, na época, protegida pelos Estados Unidos e Nações Unidas. Após o acordo de paz entre as duas Coreias, intensificou seu governo ditatorial, tendo como base o culto à personalidade. Desde então, passou a ser tratado como "Grande Líder". Ao mesmo tempo, seu filho Kim Jong-il (1942), ao ganhar o atributo de "Estimado Líder", acabou designado à sucessão. Embora houvesse pleitos eleitorais na Coreia do Norte, antes de morrer de parada cardíaca em 1994, aos 82 anos, Kim Il-Sung conseguiu empossar seu filho no cargo de secretário-geral do Partido dos Trabalhadores da Coreia, partido que governa de fato a República Popular Democrática da Coreia do Norte, assegurando a sucessão familiar. Embora, haja quem diga que essa situação tenha sido decidida de forma quase que ditatorial, o certo é que Kim Jong-il foi preparado, desde cedo, para substituir o pai.

Retratos oficias de Kim Sung Il e Kim Jong Il presentes em cada vagão do metrô de Pyongyang


A segunda dinastia socialista da família Kim
Ao longo de sua vida escolar, Kim Jong-il foi preparado para atuar na política, tanto que participou de grupos de estudo de teoria política marxista e, ao entrar na universidade, dedicou-se a economia política marxista. Em 1961, juntou-se ao Partido dos Trabalhadores da Coreia, ao mesmo tempo em que começou a acompanhar o pai em tours de orientação em fábricas, fazendas e outros locais de trabalho. Nessa época, ele ainda era chamado de playboy, por gostar de mulheres, bebidas e filmes de faroeste. Contudo, após graduar-se em 1964, deu inicio à própria ascensão na hierarquia do poder. Como instrutor chefe do Comitê Central do Partido, trabalhou para que as atividades da entidade não se afastassem da linha ideológica definida por seu pai. Ele também colocou em prática medidas para garantir o sistema ideológico do Partido, atuando sobre os meios de comunicação, escritores e artistas, enquanto supervisionava as atividades de propaganda.


Mapa da Coréia, dividida em Norte e do Sul, pelo paralelo 38

Entre 1967-1969, voltou sua atenção para os militares, por acreditar que os burocratas do Exército do Povo Coreano oprimiam organizações políticas do Exército. Por conseguinte, durante a Quarta Reunião Plenária do Comitê, expôs certos oficiais que foram posteriormente expulsos. Em 1973, tornou-se encarregado de assuntos de organização e, simultaneamente, de propaganda e assuntos do partido, posição que lhe permitiu se firmar como intérprete oficial de Kim Il-sung. e de suas ideias. Em 1974, foi eleito para o Comitê Político do Partido, período em que lançou um novo método de guiar a revolução que, por sua vez, ofereceu formação política, científica e técnica em cursos de curta duração. No final da década de 1970, já estava envolvido no planejamento econômico e em várias campanhas para desenvolver rapidamente determinados setores da economia, ao mesmo tempo em que trabalhava em iniciativas destinadas a construir uma massa de movimentos políticos dentro das Forças Armadas. Também foi ativo nos esforços para criar uma campanha para a reunificação da Coreia. Em paralelo, o governo começou a construir o culto de sua personalidade e Kim Jong-il passou a ser regularmente aclamado pela mídia como o "destemido líder" e "o grande sucessor à causa revolucionária”. Surgiu, então, a figura mais poderosa por trás de Kim Il-Sung. No final de 1991, foi nomeado comandante supremo das forças armadas norte- coreanas. Considerando que o exército é a base real de poder na Coreia do Norte, este foi um passo fundamental para a ascensão política, planejada pelo pai que, em 1992, declarou publicamente que seu filho estava no comando de todos os assuntos internos da Coreia do Norte. Logo em seguida, as transmissões de rádio começaram a se referir a Kim Jong-il como o "Querido Pai", já sugerindo uma promoção. Com a morte de Kim Il-Sung, o filho Kim Jong-Il que já ocupava o cargo de secretário-geral do Partido dos Trabalhadores da Coreia desde 1997, também assumiu a presidência da Comissão Nacional de Defesa. Em 1998, quando sua colocação foi declarada como sendo "o mais alto cargo do Estado", ele passou a ser considerado o líder máximo da República Democrática Popular da Coreia do Norte, posição que ocupa até hoje.

A futura terceira dinastia dos Kim
Em junho de 2009, como já era esperado, Kim Jong-il também nomeou o seu filho Kim Jong-un para a sucessão. O jovem que também é conhecido como Kim Jong-woon ou Kim Jung Woon é o terceiro e mais jovem filho do atual líder coreano com sua última esposa Ko Young-hee (1953 – 2004). A informação se tornou pública por meio do impresso JoongAng Daily. Porém, pouco se sabe de Kim Jong-un.

Provavelmente, ele nasceu em 1983 ou no principio de 1984. Por muito tempo, apenas uma fotografia, de quando tinha 11 anos, confirmava sua existência. É certo que estudou na Suíça, época em que usou um pseudônimo para fingir ser filho de um motorista, embora estivesse sob a tutela de Ri Tcheul, embaixador norte-coreano no país. Sabe-se que, ao retornar à sua terra natal, renunciou às influências ocidentais. Somente em 28 setembro de 2010, sua imagem oficial foi divulgada. Fisicamente, o jovem general de quatro estrelas do Exército Popular da Coreia do Norte, é bem parecido com o pai; inclusive, ambos partilham de alguns problemas de saúde idênticos, como coração e diabetes. A imprensa noticia que parte dos preparativos para a consagração de Kim Jong-un, como sucessor de seu pai, já começou. No entanto, analistas de política internacional acreditam que, diante de uma morte inesperada de Kim Jong-il, devido a inexperiência do jovem para liderar o país de imediato, seu tio, Chang Sung-Taek (1946), vice-presidente da Comissão de Defesa Nacional, poderá atuar como regente da Coreia do Norte. De qualquer forma, no momento que Kim Jong-un se tornar lider da Coreia do Norte, seu país e o Nepal serão as únicas duas monarquias comunistas do mundo...
Kim Jong-un sucessor do trono

Manutenção do poder pelo culto à personalidade

Na história, os monarcas sempre procuraram ser cultuados de diversas maneiras. Na China Imperial, no Antigo Egito, no Japão, no Tibete, no Império Romano, entre outros, eles eram considerados deuses. Já os reis europeus afirmavam governar por vontade de Deus e, em consequência, exerciam o direito divino sobre a Terra. Com o posterior desenvolvimento da fotografia, da gravação sonora, do cinema e da comunicação de massa, bem como da educação pública e das técnicas de publicidade, os líderes políticos puderam projetar uma imagem positiva de si mesmos, como nunca antes fora possível. Nessas circunstâncias, no século XX, surgiram os recentes cultos à personalidade, cuja estratégia é a propaganda política baseada na exaltação das virtudes (reais ou supostas) e na figura do governante, que passa a se destacar em cartazes gigantescos, que impregnam a mente do povo que é incitado, pelos meios de comunicação, a bajulá-lo como um ser perfeito, protetor da nação.

Na Coreia da Norte, por volta de 1950, Kim Il-Sung começou tirar proveito desse recurso, de início para si próprio, depois para promover a sucessão de seu filho que, por sua vez, também vem empregando a mesma estratégia para se consagrar como lider e projetar seu jovem sucessor. No caso do “eterno” Presidente da Coréia do Norte, o culto à personalidade lhe rendeu mais de 500 estátuas, nas quais os cidadãos ainda depositam tributo anual por ocasião do aniversário oficial ou de morte. Sua imagem também aparece associada ao transporte público. Cartazes e fotos se destacam em cada estação de trem, nos aeroportos e nas passagens fronteiriças que levam a China. Se não bastasse, seu retrato ainda estampa as notas de 100 norte won. Portanto, fica difícil esquecê-lo, diante do bombardeio visual que, de forma direta ou indireta, induz ao culto de sua imagem.
Revista Leituras da História

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