Pólvora,
vapor, petróleo, energia nuclear, Internet... Acompanhe uma breve
reflexão sobre os divisores de águas na trajetória do homem em busca de
poderio e capacidade de dominação... e o que nos reserva o futuro
Da Redação
Elemento número um: A PÓLVORA
Constituiu,
no fim do século 5, a primeira revolução em tecnologia militar. Em
1494, o Rei da França, Charles VIII, de só 24 anos, invadiu a Itália com
uma força relativamente pequena, de 27.000 soldados profissionais. Mas
eles compensavam seu pequeno número com a novidade do equipamento que
transportavam: armas de fogo.
Em apenas seis meses a campanha
militar superou a resistência oferecida por castelos italianos
supostamente indestrutíveis. Da mesma forma, foram varridos dos campos
de batalha os toscos exércitos de camponeses formados nas regiões de
Gênova, Florença, Roma e Nápoles. Grossas paredes de pedra – algumas
milenares – desabaram ante o olhar atônito dos defensores, depois de
atingidas por projeteis pesados. Bêstas e armaduras e aperfeiçoadas
durante décadas na Era Medieval, deixaram, instantâneamente, de
representar a modernidade no enfrentamento humano.
A ferocidade e
o treinamento do corpo expedicionário francês revelaram-se decisivos
quando combinados à potência da artilharia rudimentar. Mas a chamada
Idade da Pólvora não mudou somente as relações humanas no campo de
batalha. Ela também alterou, e de maneira significativa, a forma de
negociação entre diplomatas e governantes.
Elemento número dois: O VAPOR
Entre
o fim do século 18 e a primeira metade do século 19, a máquina a vapor
passou por milhares de experimentos, antes que seu funcionamento pudesse
ser considerado como verdadeiramente revolucionário. Ela produzia a
transformação de energia térmica em energia mecânica, por meio da
expansão do vapor de água. A pressão adquirida pelo vapor deslocava
êmbolos que permitiam, por exemplo, o movimento das rodas de potentes
locomotivas.
O desenvolvimento dessa pesquisa logo apontou para
outras perspectivas: a transformação da energia térmica em energia
cinética, ou energia de movimento, em imensas turbinas que impulsionavam
geradores elétricos e gigantescos transatlânticos. No século 20,
bombas, bate-estacas e muitas outras máquinas passaram a ser comandadas
por máquinas a vapor.
A pesquisa acerca da aplicabilidade da
máquina a vapor contribuiu decisivamente para a expansão da indústria
moderna. Até então, muitas tarefas eram executadas na dependência
exclusiva da potência dos músculos dos operários, da energia animal, ou
das facilidades proporcionadas pelo vento e pela água.
Entretanto,
uma única máquina a vapor realizava o trabalho de centenas de cavalos. E
também fornecia a energia necessária para acionar todas as máquinas de
uma fábrica. A locomotiva a vapor era capaz de deslocar cargas pesadas a
grandes distância em um único dia.
Entre 1866 e 1905, a difusão
dessa forma de se obter energia pelo vapor alterou, profundamente, o
panorama mundial dos transportes, especialmente os que facilitavam a
ligação entre os continentes. A utilidade dos mecanismos a vapor também
foi logo aplicada a certas armas de guerra – como os grandes navios de
batalha. Dessa maneira, a descoberta da função a vapor pode ser
considerada como o elemento-chave da segunda revolução da tecnologia
militar no planeta.
Mas a máquina a vapor será especialmente
útil aos Estados dotados de certa elite intelectual. Ela servirá para
dinamizar o comércio, as comunicações, e, em razão de sua extraordinária
versatilidade, influenciará até mesmo os segmentos produtivos que nada
têm a ver com a Política – mas são decisivos para o aquecimento da
economia interna (e do emprego) –, como o do vestuário. O recurso do
vapor criará uma nova faixa de status social. Algo que irá agudizar a
diferença entre sociedades progressistas e arcaicas, entre potências de
“primeira e de segunda classes”.
Elemento número três: O PETRÓLEO
Nos
anos de 1930, os aplicativos da indústria petroquímica permitiram a
consolidação de uma importante mudança qualitativa nos sistemas de
transporte – cuja eficiência pelo surgimento dos motores de combustão
interna foi acentuada – e de armamentos, antes dependentes de mecanismos
a vapor.
A mecanização dos exércitos europeus logo abriu um
fosso em relação às forças militares das chamadas “potências de segunda
ordem”. Carros protegidos por grossas chapas de metal – precursores dos
modernos veículos blindados –, navios que navegavam sob as ondas,
chamados inicialmente de submersíveis – e aviões de ataque, modificaram o
panorama das manobras de guerra.
Ficaram para trás os problemas
de mobilidade no campo de batalha. Em fins de 1939 torna-se evidente
que a indústria bélica e as empresas petrolíferas tendem a seguir
juntas, gerando empregos e novas plataformas de negócios, de alcance até
então desconhecido – as chamadas operações “multinacionais”.
A
raça humana torna-se, rapídamente, dependente dos produtos advindos do
petróleo, e das atividades de um seleto grupo de 13 conglomerados
gigantes do setor petroquímico, fortemente ligados a instituições
financeiras de primeiro nível. Em pouco tempo esses grandes grupos
estarão controlando os mercados internacionais e as políticas de
trabalho de 90% da superfície habitada do planeta.
Elemento número quatro: A ENERGIA NUCLEAR
O
instrumento mais revolucionário e letal do poderio humano surge da
violência brutal que desaba, em 1945, sobre as cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki, na forma de duas “bombas atômicas”. Os relatos
beiram a ficção: vítimas que, simplesmente, evaporaram, devido à
virulência da explosão...
As detonações anunciaram, ademais, o
fim de quase mil anos de supremacia militar europeia sobre o chamado
mundo civilizado. Com a reação dos soviéticos, Moscou logo estabeleceu
uma rivalidade com Washington no campo da disputa pela hegemonia
mundial.
Sob a chamada Guerra Fria, a ciência estabeleceu outros
usos para a energia nuclear, como a geração de energia (supostamente)
“limpa”, e a propulsão de grandes navios cargueiros, destinados a
agilizar o intercâmbio de mercadorias – um meio de transporte que
revelou-se muito menos utilizável, por seus riscos operacionais, do que
se imaginava.
Está claro: o controle da energia nuclear depende
de procedimentos de manipulação extremamente exigentes – e esse grau de
exigência nem sempre pode ser atentido pelo homem e suas corporações.
Nos
últimos 50 anos, dezenas de incidentes e acidentes evidenciaram, por
exemplo, os problemas de refrigeração dos reatores nucleares fincados em
terra para a produção de energia elétrica.
Atualmente, até
mesmo os submarinos nucleares vêm tendo o seu uso questionado pelos
estrategistas navais. Estes especialistas asseguram: os submersíveis de
propulsão diesel-elétrica, que podem desligar seus motores e adotar uma
condição de silêncio completo no fundo dos oceanos, são rivais à altura
dos mais avançados navios nucleares que singram as profundezas.
Elemento número cinco: A INTERNET
A
rede internacional de computadores foi aproveitada como instrumento do
Poder Militar pela primeira vez em 1991, após a invasão relâmpago do
Kuwait por forças iraquianas.
Os computadores agilizaram de
maneira inacreditável tanto o processamento de informações captadas por
satélites artificiais em órbita da Terra, como as comunicações que
passavam pelos links que esses engenhos estabeleciam na estratosfera.
Mas
a Internet também facilitou o surgimento das chamadas “ameaças
assimétricas”, isto é, os ataques conduzidos por operadores solitários
ou de pequeno porte, contra inimigos de muito maior poderio e estrutura,
cujas atividades na web ainda parecem estar relativamente
desprotegidas.
A rede mundial permite agora que um agressor
detecte, alcance e destrua bens armazenados de forma virtual, de dia e à
noite, o ano inteiro, a muitos milhares de quilômetros de distância. O
condutor da ofensiva pode empreender a ação de uma situação muito
confortável e segura. Bancos de dados de grandes conglomerados
industriais, de instituições bancárias e até de organismos de alta
segurança – como o Pentágono (edifício-sede do Departamento de Defesa
dos EUA) e da CIA (a Agência Central de Inteligência americana)
constituem, ainda hoje, alvos em potencial. Sistemas de armas e de
segurança nacional precisam ser rapidamente reorientados para entrarem
em sintonia com a nova doutrina de guerra do século 21...
A
revolução proporcionada pelos chips de computador é tão ampla, que
apenas um “míssil inteligente” – dirigido por satélite – pode fazer o
trabalho de destruição que, há (somente) 10 anos, exigiria o empenho de
810 homens e 54 armas de artilharia, operando por três dias
consecutivos.
Nos gabinetes de líderes das grandes potências
mundiais, desde o mês de dezembro de 2002, o uso de armas robotizadas e a
laser, além dos ataques a computadores em redes financeiras e sites
governamentais da web vêm sendo considerados instrumentos de Poder de
última geração.
Mas... e o futuro? O quadro das
ameaças que aguarda o gênero humano reúne uma série de facilidades
tecnológicas que tanto podem servir para o bem como para o mal. Nesse
cenário, os exemplos mais evidentes parecem ser: (1) a nanotecnologia,
miniaturização de sistemas que permite a criação de novas e poderosas
capacidades de sobrevivência e destruição; (2) o custo muito baixo de
sistemas de posicionamento global por GPS; e (3) os incríveis avanços
nos sistemas de telefonia celular (capacidade voz, vídeo e dados em
tempo real) – todos elementos potencializados pelo uso descontrolado da
Internet.
Há, contudo, outros fatores que não dizem respeito a
tecnologias, mas não devem ser desprezados. Ao contrário. Nesse momento,
o mais surpreendente deles talvez seja o elevado nível de compreensão
que os grupos terroristas do Fundamentalismo Islâmicos (e seus
imitadores no mundo ocidental) parecem ter adquirido sobre o
funcionamento dos mercados europeus, a exata localização das fontes de
energia do Ocidente e a vulnerabilidade das suas reservas de água.