O ex-monge foi perseguido pela Igreja Católica por defender conceitos como o infinito e o panteísmo Galileu
Estátua de Giordano Bruno em Roma (Foto: Wikimedia Commons)
Após a notícia de que Bruno Borges, morador do Acre de 24 anos, desapareceu deixando para trás nada menos que 14 cadernos criptografados e uma estátua de Giordano Bruno avaliada em R$ 7 mil, a internet foi à loucura tentando desvendar a ligação entre eles. Para além das especulações malucas e das teorias da conspiração, é um bom momento para aprender sobre a vida do téologo e filósofo que viveu durante o século 16.
Giordano Bruno foi um monge italiano da Ordem dos Dominicianos desde os seus 15 anos. Nascido em 1548, dedicou-se ao estudo da teologia de São Tomás de Aquino e da filosofia aristotélica assim que entrou no seminário, tornando-se membro da Academia Florentina. Aos 17, ingressou na Ordem dos Pregadores.
Com o passar do tempo, pórem, começou a adotar ideias controversas na época como, por exemplo, a negação de qualquer tipo de imagem religiosa que não fosse o crucifixo. Em 1575, pouco depois de receber seu doutorado em teologia, abandonou a ordem.
Foi grande defensor do conceito de infinito e de uma espécie de panteísmo. Segundo ele, os seres humanos ainda não eram capazes de realmente entender o conceito de Deus, que estaria em tudo e em todos. Para Bruno, Deus era a inteligência e a vida por trás de tudo que existe no mundo, e a matéria formadora dos objetos era expressão passiva de sua vontade.
Escultura de Giordano Bruno na casa do jovem desaparecido (Foto: Reprodução/G1)
Em resumo, Giordano Bruno, era hilozoísta — quem defende a ideia de que absolutamente tudo possui vida dentro de si — e panpsiquista — quem acredita que tudo tem alma. Por ter ideias tão liberais em torno da religião, ele era grande defensor da unificação das religiões, a favor de que Deus estava além de qualquer tipo de dogma ou regra.
O infinto era, para ele, algo complexo demais para a mente humana, já que os sentidos estão reservados a compreender apenas o que pode ser limitado pelo espaço e pelo tempo. Segundo Bruno, o universo possuía essa mesma propriedade e o número de planetas seria incalculável. A ideia do filósofo era de que muito possivelmente existissem muitas Terras com muitos messias por aí.
Na estrada
O teólogo peregrinou pela Europa dando aulas e divulgando suas teorias. Passou por Suíça, Inglaterra, França, Alemanha e República Tcheca. Entre suas viagens, converteu-se ao calvinismo e chegou a dar aulas na Universidade de Oxford, mas logo abandonou a religião de Calvino por considerá-la contrária à liberdade intelectual.
Giordano Bruno defendeu o conceito de que a verdade deve prevalecer sobre as vontades e as crenças, inspirando, séculos mais tarde, o movimento iluminista. Uma vez, Bruno escreveu que “só os espíritos mais fracos é que pensam com a multidão por ser ela multidão. A verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria".
Após vários ataques em diferentes regiões, foi preso em Veneza pelo Santo Ofício. A pedido do papa, foi entregue ao tribunal da Santa Inquisição e condenado a sete anos de prisão. Durante esse tempo, por não concordar em negar as próprias convicções, acabou sendo queimado no dia 17 de fevereiro de 1600.
O programa "Cosmos: a spacetime odyssey", produção apresentada por Neil deGrasse Tyson em 2014, mostrou em um de seus episódios a incrível história de Giordano Bruno através de uma animação. A série foi inspirada no programa original "Cosmos" de 1980, realizada por Carl Sagan e sua esposa Ann Druyan e tem como objetivo trazer a ciência e o prazer da pesquisa para dentro da casa de jovens telespectadores.
Revista Galileu