O Brasil de JK
Às 20 horas da noite de 8 de janeiro de 1951 entrava no ar, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o primeiro capítulo de O direito de nascer, do cubano Félix Caignet. A mais famosa novela da história do rádio brasileiro ficou em cartaz até setembro de 1952, perfazendo um total de 260 capítulos. No ano seguinte, a Nacional inaugurava um novo estúdio de radioteatro, com recursos tais que foi considerado na época o melhor do mundo. Sob o patrocínio de Melhoral e do Leite de Magnésia de Philips, também em 1953 estreou a série Jerônimo, o herói do sertão, de Moysés Weltman, que ficaria no ar até 1967.
Outro elemento central do padrão de entretenimento radiofônico que a Nacional consagrou e, em grande medida, impôs às concorrentes era o programa de auditório. Forçada por um incêndio, a Rádio Tupi, ainda na avenida Venezuela, remodelou inteiramente seu auditório, aumentando sua capacidade para 1.600 pessoas, o que lhe valeu o apelido de "o Maracanã dos auditórios". Além dele, a emissora de Assis Chateaubriand contava com três estúdios, três orquestras, dois conjuntos regionais e um enorme quadro de artistas e locutores.
O uso político das ondas sonoras não foi menos significativo. Ocupando, no início da década, o quarto lugar na disputa pela audiência no Rio de Janeiro, a Rádio Globo inovava com programas como a Tribuna política, com depoimentos das principais lideranças parlamentares. Outro destaque de sua programação era o Conversa em família, onde, à maneira de uma conversa familiar à mesa do jantar, eram debatidos os principais assuntos políticos.
Outra emissora a investir e a inovar nesse setor foi a Jornal do Brasil, com a inauguração, em 1959, de um serviço de utilidade pública que trazia informações aos ouvintes, como endereços de serviços públicos, e ajudava na aquisição de remédios etc. A estratégia da JB completava-se com uma programação musical baseada em discos. A rádio, além disso, foi uma das primeiras a apoiar o movimento da bossa nova e a divulgar a nova música popular brasileira, instituindo um prêmio ao compositor revelação do ano.
Também a Rádio Tamoio fazia sucesso à época com uma programação dedicada à música, com o uso de discos. Já a Rádio Ministério da Educação teve várias orquestras, como a sinfônica, de câmara, de sopros e a afro-brasileira, além de um quarteto vocal e outro de cordas, um conjunto de música antiga, um coral, um trio, vários duos e um quadro de solistas. Além disso, a emissora estatal gravava discos para irradiação em emissoras estrangeiras e investia em programas educativos, como o Colégio do Ar, que, em convênio com a Divisão de Ensino Secundário do MEC, conferia anualmente centenas de diplomas a jovens e adultos.
As mudanças enfrentadas pelo meio, principalmente em função da concorrência crescente da televisão, conduziram a uma série de novas experiências de gestão e programação. A Rádio Globo, por exemplo, criou um dos formatos mais bem-sucedidos, centrado na figura do comunicador: um verdadeiro mestre-de-cerimônias, com liberdade e capacidade de improvisação, além de forte empatia com os ouvintes.
Estas e outras inovações foram decisivas para que o rádio se preparasse para enfrentar os difíceis novos tempos que, na passagem dos anos 50 para os anos 60, trouxeram o declínio do modelo de programação centrado em música ao vivo e novelas, que havia sido a base do sucesso da Rádio Nacional.
Fernando Lattman-Weltman
FGV - CPDOC
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