segunda-feira, 3 de maio de 2010

CERVEJA, UÍSQUE, VINHO E VODCA

Multidão em êxtase celebra nas ruas a queda do Reich
- Cidades americanas, britânicas, francesas e soviéticas são tomadas por populares embriagados de alegria - Um sóbrio Churchill alerta: ainda falta derrubar o Japão

Carnaval em Manhattan: aliviados, nova-iorquinos comemoram o dia da vitória na Europa

Bastião-mor da resistência ocidental ao nazi-fascismo, foi o primeiro-ministro Winston Churchill quem oficializou aos britânicos o final da guerra, em transmissão radiofônica diretamente de Downing Street, às 15 horas do dia 8 de maio. "Avante Britânia! Vida longa à causa da liberdade!" A voz sempre ébria e inspiradora do leão de Oxfordshire foi a senha para os londrinos cancelarem o chá das cinco e iniciarem, nas mesmas ruas castigadas pelos bombardeios da Luftwaffe, um impetuoso derramamento de cerveja e conhaque em comemoração à derrota da Alemanha.

Agitando bandeiras, assoprando apitos e cantando, os populares entraram em verdadeiro frenesi coletivo. Diversos postes de luz foram tirados para dançar por alcoolizados Fred Astaires, ao som da tradicional canção Terra da Esperança e da Glória, trilha sonora do dia. Boa parte dos festeiros agrupou-se na frente do Palácio de Buckingham, onde, em uníssono, pediam a presença do Rei George VI. Sem a coroa, mas acompanhado da esposa e das filhas, o monarca apareceu para a massa, acenando enquanto o povo entoava "O Rei é um bom camarada... Ninguém pode negar!"

Mais tarde, o casal real recebeu a perenemente edificante e prazenteira visita de seu rotundo primeiro-ministro. O trio voltou à varanda do palácio, onde a população seguia aglomerada, para que Winnie pudesse dirigir mais algumas palavras aos britânicos. "Esta é a vitória de vocês", afirmou. "Em toda nossa longa história, nós nunca vimos um dia maior que este."...
Cascata de papel - Nos Estados Unidos, a notícia da rendição incondicional tedesca foi anunciada por uma agência de notícias oficial no dia 7 de maio. O ponto alto das celebrações ocorreu em Nova York - mais precisamente em Wall Street, onde milhares de pessoas comemoravam a queda do Reich. Os trabalhadores deixaram em peso seus escritórios e foram às ruas ver a cascata de papéis picados que precipitava-se do alto dos arranha-céus. O trânsito nas ruas principais teve de ser interrompido. A Catedral de Saint Patrick ficou superlotada para a missa em celebração do final dos confilitos na Europa.

Em Paris, o jornal Paris-Soir noticiou a capitulação germânica em uma manchete com letras de quinze centímetros de altura. Os aviões aliados que sobrevoavam os céus gauleses foram saudados por famílias inteiras, fartamente servidas de vinho, que sairam às varandas de suas moradas para festejar a proeza. Em Moscou, soldados do Exército Vermelho foram carregados pela multidão em êxtase - nesse caso, aquecidas por vodca puríssima. A grande solenidade, porém, ainda está por vir: o desfile militar oficial para celebrar a vitória contra o nazismo e o final da Guerra Patriótica está marcado para o dia 24 de junho próximo.

Em meio às comemorações pela Europa, contudo, uma voz fez questão de lembrar que a guerra ainda não está ganha por completo - justamente a que deu impulso às celebrações no Velho Mundo. "Não podemos nos esquecer do Japão, que, com toda sua ganância e seu egoísmo, ainda não está subjugado. Suas detestáveis crueldades exigem justiça e retribuição", afirmou, em discurso na Câmara dos Comuns, Winston Churchill - que, apesar do gosto por uísque e champanhe nas mais diversas horas do dia, era o mais sóbrio dos ingleses naquela tarde.

Revista Veja na História

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