quinta-feira, 10 de outubro de 2013

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Primeiro grande levante na extinta Alemanha Oriental faz 60 anos
 DEUTSCHE WELLE

Um milhão de pessoas participaram do levante popular na então Alemanha comunista pela liberdade, democracia e a unidade dos Estados alemães. O protesto foi reprimido violentamente pela polícia e por tanques soviéticos.
No dia 17 de junho de 1953, quatro anos após sua criação, a República Democrática Alemã estava à beira do colapso. O florescimento econômico da Alemanha Ocidental e a insatisfação com os rumos políticos na Alemanha Oriental levaram muitos a voltarem as costas à República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista.
A coletivização da agricultura, o desenvolvimento acelerado da indústria pesada e o pagamento de reparações de guerra debilitaram o desempenho econômico alemão-oriental. A política do Partido Socialista Unitário (SED) e seu socialismo planejado levaram a RDA a uma profunda crise em fins de 1952.
Neste ano, 180 mil pessoas haviam deixado o país. No primeiro semestre de 1953, foram 226 mil.
Oito anos após o fim da Segunda Guerra, a RDA não conseguia garantir alimentos básicos à população. No início de 1953, centenas de produtores rurais tiveram suas terras desapropriadas, assim como hotéis e pousadas.
Em abril de 1953, vários alimentos tiveram seus preços aumentados. O apogeu aconteceu em maio de 1953, com a imposição ao trabalhador de produzir 10% a mais na mesma carga horária, sem aumento salarial.
GOVERNO FAZ CONCESSÕES, MAS NÃO AUMENTA SALÁRIOS
Para atrair de volta os agricultores, comerciantes e trabalhadores que haviam emigrado para a Alemanha Ocidental, o governo socialista acenou com a possibilidade de devolução das propriedades.
A Justiça, cujas sentenças arbitrárias haviam levado à duplicação da população carcerária no período de um ano, seria encarregada de revisar suas decisões. Até mesmo com a Igreja os responsáveis pelo governo pretendiam entrar em acordo. Só o aumento salarial continuou tabu, o que foi interpretado como provocação pelos trabalhadores.
A grande onda de protestos deslanchou quando milhares de trabalhadores da construção civil se rebelaram contra reduções de fato no salário, com uma longa passeata pelas ruas de Berlim Oriental no dia 16 de junho.
Diante da sede do governo, mais de dez mil pessoas reivindicavam o fim do acirramento das normas de trabalho, convocando para o dia seguinte uma greve e uma assembleia-geral dos trabalhadores. Nessa tarde, a manifestação ainda se dispersou pacificamente.
Mas no dia seguinte, mais de um milhão de pessoas participaram de manifestações e greves em 700 cidades da RDA. Ao lado de passeatas pacíficas, ocorreram ataques a escritórios do partido e a casas de detenção para libertar prisioneiros.
A rebelião por melhores salários transformou-se rapidamente num levante pela liberdade, democracia e a unidade da Alemanha. Em faixas, os trabalhadores reivindicavam, além de melhores condições de vida, a renúncia do governo da RDA, eleições livres e a reunificação do país.
REPRESSÃO VIOLENTA
Em Berlim Oriental, o centro das turbulências, a situação se intensificou. Os governantes da RDA solicitaram auxílio aos soldados soviéticos estacionados no país. Durante muito tempo, não se soube ao certo qual tinha sido o papel do governo na repressão da revolta.
As imagens da luta desigual correram o mundo: manifestantes armados só com pedras tentaram deter os tanques soviéticos que avançavam pelas ruas de Berlim.
Documentos que se tornaram acessíveis mais tarde esclarecem que Otto Grotewohl (primeiro-ministro da RDA) e Walter Ulbricht (secretário-geral do SED) pediram expressamente aos soviéticos, na madrugada do 17 de junho, o envio de tropas à capital.
ESTADO DE EXCEÇÃO
No começo da tarde de 17 de junho, a tropa russa entrou em ação com centenas de tanques que ocupavam lugares estratégicos. A fronteira para Berlim Ocidental foi fechada. A partir das 13h foi declarado o estado de exceção.
Soldados podiam atirar para matar e os soldados aliados, na outra Berlim, não se intrometeram, com receio de iniciarem uma terceira guerra mundial. Em alguns pontos da cidade, chegaram a atirar contra os trabalhadores, fazendo a multidão correr em pânico.
Nesta tarde morreram 14 pessoas, conta Klaus Gronau, que na época tinha 16 anos. "'Não precisamos de um Exército popular, precisamos de manteiga - era o que gritávamos'", relata.
Em represália por ter participado dos protestos, ele foi transferido para o almoxarifado no local onde fazia o curso profissionalizante, para não poder falar com os clientes. Em 1957, quatro anos antes da construção do Muro, Klaus e sua família conseguiram fugir para Berlim Ocidental.
Nos dias que se seguiram, cerca de dez mil manifestantes e membros do comitê de greve foram presos. Em julgamento sumário, em 18 de junho de 1953 o operário Willy Götting foi condenado à morte por participação na revolta e imediatamente executado. Ao todo, foram detidas 7663 pessoas, das quais 1526 foram condenadas à prisão.
Alguns dias mais tarde, o Comitê Central do SED admitiu erros e decidiu cancelar o aumento de preços de alimentos e da carga de trabalho, aumentar as aposentadorias mínimas, bem como disponibilizar mais bens de consumo.
Folha de S. Paulo

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