sexta-feira, 16 de março de 2012

Ser escravo no Brasil


A escravidão no Brasil promoveu um certo desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção. A escravidão foi garantida por um Estado e por uma ideologia que, além de legitimar a escravidão, sujeitava o escravo a sua condição de escravo. Este devia encontrar consolo em Deus, depositar as esperanças de dias melhores nos céus. Quem aceitasse a escravidão como destino seria recompensado com o Paraíso, quem se revoltasse seria condenado às Chamas Eternas. Ao pregar o conformismo, ao eternizar a escravidão, o cristianismo foi utilizado como um eficiente mecanismo de controle social.

Enquanto os sacerdotes batizavam os negros nas areias da África, com um pouco de água e sal, os guardiães marcavam a ferro quente os escravos, nas coxas, nos braços e nas costas.

A violência começava na própria África quando, caçado como um animal, o cativo é vendido como escravo e enviado numa viagem sem retorno ao Brasil. Desembarcado, posto a engordar para recuperar um pouco de seu peso e aumentar seu preço, o escravo é obrigado, através da violência, a se adaptar a sua nova situação. A violência no Brasil começa na própria forma de extração compulsória de trabalho.

... Cada açoite do homem branco significava um degrau a mais no caminho do céu. A submissão total do corpo significava a libertação total da alma.

Orelhas cortadas por escutarem conversas dos senhores, belos rostos de escravas marcados com ferro quente, pelos ciúmes que Senhora da Casa Grande tinha das relações extramatrimoniais de seu marido, açoites de escravos até a morte por não terem alcançado a produção desejada pelos fazendeiros, um padre que mandou matar sua escrava introduzindo um pau no ânus da pobre mulher...Por que tanta violência?

Naquela época considerava-se que uma das maneiras mais eficazes de eliminar a sífilis de um homem branco, era manter relações sexuais com uma negra virgem. Acreditava-se que a doença passava para a mulher ficando o homem branco livre deste flagelo...

... Os próprios suicídios, condenados pela Igreja, foram apresentados durante muito tempo como uma prova efetiva, como demonstração de fraqueza espiritual dos negros. `Negros ingratos` era a resposta dos senhores. Estes reclamavam que os suicidas faziam perder o capital investido. Com a destruição do corpo, se atingia o amo.
Escravidão no Brasil – Enrique Peregalli – Editora Global.

Um comentário:

Unknown disse...

Importante reavivar a história e não deixar cair em esquecimento. Pois muito do que era para se extinguir, ainda sobrevive no lugar de valores humanos e dignos que deveriam vigorar.