entre Igreja e Império Romano
Historiador entende que a aproximação
entre as partes se deu fundamentalmente
por iniciativa de clérigos
Historiador entende que a aproximação
entre as partes se deu fundamentalmente
por iniciativa de clérigos
Della Torre conta que começou a trabalhar com a temática ainda na iniciação científica. Na graduação, durante a leitura dos documentos, um aspecto chamou a atenção dele. Vários autores partiam da concepção de que o Império teria cooptado a Igreja, para que esta lhe servisse de instrumento ideológico. “A partir do contato com esses textos, considerei que a relação entre Império e Igreja merecia ser analisada não tanto a partir dos interesses da corte, mas sim dos clérigos. Temos vários indícios na documentação, principalmente nos escritos do bispo palestino Eusébio de Cesaréia, nos quais meu trabalho se baseou, de que os representantes da Igreja se dirigiam com certa frequência ao imperador para pedir a concessão de benefícios ou a ratificação de direitos ancestrais da Igreja, que não estavam consolidados no direito romano”, afirma.
O principado de Constantino, conforme o autor da dissertação, é emblemático no que se refere à análise da relação entre Igreja e Império justamente porque o imperador foi o primeiro a se declarar cristão. “Durante o período em que ele esteve no poder, porém, não ocorreu uma ruptura com um suposto passado idílico no qual os cristãos teriam rejeitado todo e qualquer contato com os poderes constituídos, mas sim o ápice de um processo que já vinha em curso, principalmente por iniciativa clerical”, defende Della Torre. Com Constantino, prossegue o historiador, ocorre uma maior abertura aos cristãos. Cria-se, por exemplo, um novo corpus legislativo para tratar de ações da Igreja. “É importante notar que essa abertura seria em vão se não houvesse o interesse da Igreja em participar e se não houvesse esse histórico de busca pelo poder imperial para defender seus interesses”, insiste.
Ainda segundo a leitura proposta pelo pesquisador, embora a aproximação entre Igreja e Império tenha se dado fundamentalmente por iniciativa da primeira, o segundo também auferia vantagens com essa relação. A principal delas, no entender de Della Torre, era o fato de os clérigos não provocarem tumulto, dado que tinham poder para isso. “Na época, não era raro as facções eclesiásticas digladiarem entre si, o que perturbava a ordem pública. Há um episódio ocorrido em Roma, em 366, no qual dois candidatos ao episcopado se enfrentaram no interior de uma igreja. Segundo os relatos de um autor pagão, o resultado do confronto foi a morte de 3mil pessoas. Ou seja, o Império tinha todo o interesse de que esses acontecimentos não se repetissem. Em outras palavras, o poder imperial esperava que a Igreja adotasse uma posição conciliadora e não trouxesse problemas”.
A pesquisa desenvolvida por Della Torre, como já mencionado, foi baseada fundamentalmente nas obras de Eusébio de Cesaréia, que produziu vários textos sobre o imperador Constantino. “Tentei relacionar essas obras com a produção literária mais ampla de Eusébio. Além disso, também usei documentos que me permitissem confrontar ou ampliar o que ele registrou, como os escritos de historiadores eclesiásticos do século V. Por fim, utilizei ainda tratados teológicos e textos de autores pagãos, bem como breviários dos século IV”, elenca o autor da dissertação.
O trabalho acadêmico, assinala Della Torre, está vinculado ao grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos Medievais (Leme), que envolve, além da Unicamp, USP, Unifesp e UFMG. “A atuação do grupo é muito importante porque congrega outros estudos relativos a essa temática. Tenho colegas pensando a relação entre Igreja e Império a partir de outras perspectivas”, observa o historiador, que contou com bolsas concedidas em períodos distintos pelo Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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■ Publicações
Dissertação: “A atuação pública dos bispos no principado de Constantino: as transformações ocorridas no Império e na Igreja no início do século IV através dos textos de Eusébio de Cesaréia”
Autor: Robson Murilo Della Torre
Orientadora: Neri de Barros Almeida
Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
Financiamento: CNPq e Fapesp
Autor: Robson Murilo Della Torre
Orientadora: Neri de Barros Almeida
Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
Financiamento: CNPq e Fapesp
Jornal UNICAMP