França, 10 de Dezembro de 1915
Querida mãe:
Espero que esteja tudo bem por aí.
Não sabes o quanto estou a sofrer no meio disto tudo.
Trabalhamos noites inteiras nas trincheiras, agora pergunto-me se vale a pena estas noites todas, horas de suor, quando vejo os meus amigos a sofrer.
Estou farto de passar as noites em branco e, ainda por cima, mal comemos, ou seja não temos energia para trabalhar.
Estamos fracos!!
Dormir? Muito pouco. Sonhos? Já nem me lembro o que é isso. Pesadelos? Muitos, tenho-os todos os dias pois adormeço e acordo a ouvir as metralhadoras, o barulho dos carros blindados...
Agora pergunto-me: " Nós fazemos isto tudo pela nossa terra. E eles o que estão a fazer por nós, se nem sequer um prato de comida nos dão?"
Esta é a pergunta feita por todos os soldados que aqui estão e espero respondê-la em breve assim que chegar a casa.
Estou cheio de saudades vossas, espero que os manos também estejam bem.
Por favor, tenta responder à minha correspondência.
Beijos do filho que te ama,
Lloyd Polite
França, 17 de Maio de1915
Querida irmã:
As coisas aqui estão, cada vez, piores.
Comida? Apenas pão.
Espero que vocês estejam melhores,
Porque aqui vive-se um clima de grande tensão.
Guerra:
A palavra mais ouvida.
Zelemos pela nossa terra
Pois essa é a nossa vida.
Numa nova fase da guerra,
Acabámos de entrar
Porque é pela nossa terra,
Que estamos a lutar.
Construímos trincheiras
Para mantermos a posição.
Trabalhamos nelas, noites inteiras
Pois essas eram a nossa salvação.
Cheias de corpos,
Cheias de lama
Corpos esses,
Que uma pessoa mais ama.
Novos armamentos,
Novas comunicações
Também recebemos gás
Nas nossas instalações.
Armas essas,
Que nos vieram a afectar,
Pois muitos franceses e alemães
Conseguiram matar.
Á nossa aconchegada casa
Espero chegar,
Pois ao pé da nossa família
Eu quero estar.
Sem poder escrever mais,
Só espero que respondas à minha correspondência.
Trata bem de ti e do resto da nossa família.
Beijos do teu irmão que te adora e que espera ver-te em breve!!!
Johnson Pierre
Val de Lys, 14 de Setembro de 1914
Querida Ana
Hoje encontro-me num dia não, pois cada dia que passa morre mais um irmão e a esperança de voltar para casa diminui. Ontem deparei-me com uma situação um tanto constrangedora: de longe vi um irmão ferido nas trincheiras, mas como nós estávamos cercados, infelizmente, não pudemos fazer nada porque as trincheiras ficam inundadas de água e de lama. A comida aqui não chega para todos, passo dias sem comer porque, muitas vezes, prefiro tirar da minha boca para dar a um irmão que necessita mais.
Despeço-me porque já escurece e a minha visão falha.
Beijos e abraços para os nossos filhos,
muitas saudades,
António Vieira
Adorei o blog! Muito bom mesmo!
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