A "liberdade de expressão" nas redes sociais e o aumento nos discursos de ódio e violência
Patrícia Cucio / Adaptação Web Rachel de Brito
Desde 2014, antes e após a reeleição da presidenta Dilma Roussef (PT), vimos surgir uma onda de posts agressivos e repletos de mensagens violentas nas redes sociais no Brasil.
Naquele momento, as publicações dos usuários, em geral, ligavam os nordestinos ao resultado do segundo turno da corrida presidencial. Chegamos a ter um deputado estadual de São Paulo defendendo a alteração da Constituição Federal para que os beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, não votassem. E, por fim, postagens falando de uma possível divisão do Brasil – uma espécie de muro de Berlim – separando o Sudeste/Sul do restante do país pareciam ganhar força no mundo virtual.
O ódio não é preciso
Em 2016, no auge do processo político do impeachment (teria sido um golpe?) sofrido pela presidenta, pudemos observar, novamente, a divulgação de posts com mensagens de ódio, incitando a violência.
Muitas dessas publicações continham violência simbólica, aquela violência produzida pelos grupos dominantes e imposta aos grupos subordinados, a qual legitima e naturaliza um status quo, e mentiras que passaram a ser replicadas sem a devida crítica, ou seja, análise do conteúdo pelos diferentes usuários do dispositivo.
Porém nos enganamos ao pensar que essa violência e a criação de um inimigo comum surgiram agora no Brasil. A violência está presente em nossas relações sociais desde o período colonial.
Gilberto Freyre, em Casa-grande e senzala, retrata as relações entre “brancos” e escravos e como a empreitada colonial no Brasil se fez debaixo de relações violentas e truculentas entre ambos.
Maria Tereza Caldera, em seu famoso livro Cidade de muros, levanta a hipótese da não efetivação dos direitos humanos no país ao discutir a questão “direitos humanos são para defender bandidos” e o potencial risco dessa não efetivação para a jovem democracia brasileira.
Vale ressaltar que após a abolição da escravatura e o surgimento dos cortiços e favelas, surge o conceito de “classes perigosas”, termo utilizado já em 1857 por Morel, em seu trabalho Tratado das degenerescências, para designar aqueles que não possuiriam “nem a inteligência do dever, nem o sentimento da moralidade dos atos, e cujo espírito não é suscetível de ser esclarecido ou mesmo consolado por qualquer ideia de ordem religiosa” (apud Coimbra, ibid., p. 88).
(Mendes) “Nossa política higienista do início do século XX foi baseada nesse conceito e muito do discurso adotado por nós, enquanto sociedade, é baseado nessa figura das classes perigosas e inimigo comum”. Notamos assim que “a violência simbólica tem um importante papel na reprodução dos estereótipos e dos estigmas sociais.
Goffman (1963) explica que o estigma e o descrédito constituem as marcas e atributos pelos quais alguém é criticado e marginalizado pela sociedade. O estigma e o descrédito, assim, são marcas construídas como ‘negativas’ por grupos e que caracterizam a identidade do Outro e das quais esse “Outro” não consegue se libertar. É uma marca percebida também em relação àqueles que não a possuem, que não são estigmatizados.
É como se a sociedade ficasse cega para os outros atributos que determinada pessoa tem, vendo apenas seu traço estigmatizado. Caracteriza, assim, categorias de indivíduos e as especificidades esperadas dessas categorias, através de seus estereótipos negativos” (Recuero; Soares, 2013).
Se por um lado esse discurso e violência simbólica já existem na sociedade brasileira e são constituídos de diversas maneiras e atores, as redes sociais online apenas os tornam mais visíveis a todos que dela fazem parte, pois a necessidade criada de compartilhar tudo faz com que esses discursos estigmatizados ganhem mais força devido à mudança no esquema comunicacional tradicional, um emissor (aquele que fala) para vários receptores (aqueles que escutam) e o diálogo entre eles era praticamente inexistente para vários emissores e receptores. Ou seja, muitos falando para muitos e sendo “vistos” por muitos.
Esse fluxo comunicacional ocorre através da publicação de informação de sua autoria ou do compartilhamento da publicação de outros sujeitos (de amigos ou de perfis empresariais e institucionais), que pode ser lida, “curtida”, comentada e/ou compartilhada.
Assim surge o público em rede (Boyd apud Recuero, 2012), que se caracteriza pela possibilidade de armazenamento do que foi publicado; a possibilidade de busca dessas informações; replicabilidade e o surgimento das audiências invisíveis.
É importante notar que ao compartilhar um link com informações que não foram produzidas por si, compartilha-se uma informação mediada por outra mediação (Recuero, 2012) e que carrega consigo o olhar daquele que primeiramente a publicou.
Internet e a banalidade do mal
Com essa facilidade de divulgar ideias e posições e o apelo por “participar” e se mostrar socialmente, notamos que a violência se torna cada dia mais banal. Hannah Arendt, ao analisar o contexto histórico do nazismo, nos alerta quanto à banalidade desse mal e os resultados que ele pode gerar. Percebemos isso a cada frase de ódio escrita com orgulho nas timelines de Facebook.
O ódio pelo outro, pelo diferente, pela opinião divergente, gerado pela falta de informação ou pela avalanche de informações das quais se leem somente manchetes. Um ódio que a qualquer momento pode se materializar e muitas vezes se materializa na violência, seja ela psicológica, física ou virtual.
Por estarem vinculados à nossa realidade social, esses discursos encontram ressonância e ao encontrá-la passam a ser legitimados por outros grupos, seja através da concordância, apoio, curtidas ou compartilhamentos.
O que perpetua a violência simbólica contida dentro dele que encontra sentido e explica a realidade para determinado grupo. Dessa forma, é necessário compreender que esse ódio aos defensores dos direitos humanos, aos ativistas negros, LGBTS e todas as outras minorias que sofrem ataques nas redes sociais on-line não é algo novo na sociedade brasileira, mas algo construído por subjetividades ao longo de um processo histórico no qual o sujeito não reconhece o outro como ser de direito que é.
O diferente passa a ser o culpado, o inimigo comum, que deve ser extirpado da sociedade. Nesse caso, aplicativos como Facebook apenas potencializam esse discurso, criando e alimentando a necessidade de luta/guerra contra o inimigo, afastamento e desqualificação dele enquanto sujeito participante da vida social.
Esses tipos de discursos e atitudes são encontrados em diferentes regimes ditatoriais, nos quais o diferente é visto como ameaça. Precisa-se de muita atenção para não estimular mais essa violência simbólica e, possivelmente, apenas com a mudança na forma como nossas relações sociais são construídas é que consigamos erradicá-la de nosso dia a dia.
Revista Filosofia
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