segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O impacto das mudanças climáticas nas dinastias chinesas

Registros em estalagmites revelam como índices pluviométricos afetaram a ascensão e queda de imperadores chineses

David Biello


© Science/AAAS
Milhares de anos de chuva: Amostra da estalagmite encontrada na gruta Wanxiang, China, começou a se formar aproximadamente em 190 d.C.

No século 9 uma seca terrível dizimou a colheita chinesa, e a fome se espalhou por todo o país, então sob o domínio da dinastia Tang. No ano 907 d.C. – após cerca de três séculos de domínio – essa dinastia caiu o imperador Ai foi deposto e o império dividido. De acordo com o registro atmosférico existente em uma estalagmite, uma das causas dessa ruína pode ter sido a mudança climática.

“Acreditamos que o clima tenha tido um papel importante na história chinesa” comenta o paleoclimatologista Hai Chen da University of Minnesota e membro da equipe científica que analisou a estalagmite da gruta Wanxiang em Gansu, uma província no noroeste da China. A estalagmite revela, por exemplo, que as chuvas essenciais das monções asiáticas se tornaram raras na época do declínio das dinastias Tang, Yuan e Ming ao longo dos últimos 1.810 anos.

O clima ─ observa Cheng ─ foi a gota que faltava para o copo transbordar. Formada por carbonato de cálcio dissolvido pelos pingos de água, a estalagmite de 11,7 centímetros conserva um registro da chuva nesta região, que está situada na margem da área de impacto das monções asiáticas. A região recebe menor quantidade de chuvas quando a monção é suave e mais chuva quando os ventos são fortes, explicam os pesquisadores em artigo publicado recentemente naScience.

© Science/AAAS
Segredos das estalagmintes – Interior da Gruta Wanxiang

Esses períodos de chuvas fortes e fracas, quando comparados com os registros da história chinesa, coincidem com períodos de tumulto ou de prosperidade no império, como no caso da expansão da dinastia Song ao norte ─ uma época de colheitas abundantes. Além disso, o registro da estalagmite coincide com retrações glaciais nos Alpes, registros de sedimentos do Lago Huguang Maar no sul da China e secas ocorridas desde Barbados até o sul da França.

O colapso da dinastia Tang, na verdade, coincide com o da civilização Maia ─ ambos devido a um estado de extrema seca. “Demonstramos que o registro da gruta está bem correlacionado com muitos outros registros, inclusive o da Pequena Idade do Gelo na Europa, das mudanças de temperatura em todo o hemisfério Norte, e uma variabilidade solar importante”, observa Chang.

A variabilidade da intensidade solar no passado parece ter tido um papel preponderante na determinação da força das monções asiáticas. O registro revelado nos 50 anos passados, no entanto, mostra um quadro diferente, com fuligens produzidas pelo homem e gases do efeito estufa determinando a intensidade da chuva.

“É provável que a atual tendência de aquecimento global ou influência antropogênica esteja acompanhada de uma tendência de enfraquecimento das monções do verão asiático, principalmente no noroeste da China,” ─ comenta Cheng. Talvez por isso os atuais líderes chineses estejam tão ansiosos para atuar nas mudanças climáticas causadas pelo homem.
Scientific American Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário