O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE BRASILEIRA:
DA SOCIEDADE COLONIAL AOS DIAS ATUAIS
Professora Mestra Miriam Munhoz Fernandes
É importante ressaltar que nós sempre nos enxergamos através do olhar masculino: foram os homens que durante milênios determinaram nossa forma de ser e agir, nos fazendo acreditar que sempre havia sido assim e, na sua fala nos transmitiram mentiras e preconceitos que se perpetuam até hoje. Um exemplo é o de nos fazer acreditar que mulher não é amiga de mulher. Esta é uma forma bastante sutil de dominação que , se as mães não percebem passam para suas filhas como sendo uma verdade absoluta. Ora, somos amigas daquelas pessoas com as quais temos alguma forma de identificação, independente do sexo que ela possua.
Durante muito tempo não questionamos, não agimos, não exigimos, não nos consideramos seres capazes porque nos foi incutido que éramos inferiores por não termos as mesmas condições mentais dos homens, sem a mínima capacidade de sobrevivência, se não tivéssemos ao nosso lado o pai, o irmão, o marido, o filho ou qualquer outro elemento do sexo
masculino para nos sustentar. Isso é tão forte em nossa sociedade que provavelmente, neste momento se alguma mulher esboçar o desejo de viver só, sempre haverá alguém que lamente esta opção ou que se questionará como ela irá viver sem o marido ou companheiro para ajudar no seu sustento e de seus filhos?
O interessante é que esta cultura preconceituosa e machista atravessou os séculos sem que a mulher percebesse que isto era uma retumbante mentira já que é ela quem dava a unidade familiar. Foi ela que, sustentou a família enquanto o homem se ausentava temporária ou definitivamente. Mas a fala disseminada ao longo dos séculos foi de que a mulher era frágil, sem condições de pensar, criar ou sobreviver sem o homem, servindo apenas como um grande útero.
Historicamente é um erro fazer este tipo de afirmação. Se remontarmos à Pré- História veremos que o papel representado pela mulher era tão ou mais importante que o do homem, já que cabia a ela a tarefa da coleta dos alimentos. Foi a mulher a responsável pela Revolução Agrícola; e, portanto, do fim da dependência total do Homem da
natureza.
No Brasil, logo após Portugal ter tomado posse destas terras, a mulher européia que para cá veio, teve uma liberdade invejável frente à opressão em que viviam as mulheres na Europa. Isso porque estavam em número bastante reduzido; e portanto, valorizado. As mulheres da classe mais baixa, ou seja, aquelas que não estavam destinadas a se casarem com os homens com algum tipo de posse ou riquezas, aquelas que tinham que trabalhar para viverem, poderiam ir e vir a hora que bem entendessem, poderiam escolher seus parceiros, o pai de seus filhos, se queriam ou não continuarem vivendo com quem estavam. Não havia ainda a presença da Igreja ; portanto, a sociedade era bastante flexível.
As mulheres, neste período, criavam seus filhos, os filhos trazidos pelos companheiros, os filhos dos vizinhos quando estes perdiam as mãe se os filhos que os antigos companheiros deixavam para trás quando saiam em busca de ouro. Nossa sociedade estava engatinhando, os homens que para cá vieram estavam em busca de um enriquecimento rápido. Eram verdadeiros andarilhos e, em cada local por onde passavam, deixavam a mulher que os havia recebido de braços abertos e que sabia que, mais dia ou menos dia, seria abandonada. Atualmente, na Bahia, grande parte das famílias estão compostas exclusivamente de mulheres que vivem juntas em uma mesma casa onde criam seus filhos.
Quando Portugal resolveu colonizar definitivamente o Brasil trouxe a Igreja para organizar e regrar a sociedade e para a mulher foi Imposta uma nova conduta para que fosse aceita na sociedade que surgia. Aos poucos, ela foi perdendo sua liberdade porque perdia sua autonomia econômica. Foi-lhe imposto o confinamento caseiro, como deveria se comportar em público, como deveria andar e para onde olhar (chão). Isso porque chegavam os escravos e sua mão- de- obra passava a ser desnecessária. Para ser aceita como uma mulher "direita" deveria se comportar como a Igreja determinava, senão fizesse isso não seria bem vista; e, portanto, colocada na casa das mulheres da dita vida "fácil".
O casamento oficial não existia para mais da metade da população e, em alguns lugares, como na Bahia por exemplo, 80% dos casais eram de concubinato. Até o século XIX, os casamentos que ocorriam na Igreja eram dos ricos para que suas filhas tivessem alguma proteção contra qualquer ato de seus maridos, que, muitas vezes, foram seus algozes. Como já foi citado, a mulher , desde a Antigüidade Clássica, foi vista como um grande útero. Era comum aos homens quererem antes do "casamento" uma prova da capacidade geradora da mulher. Quando ela provava ser capaz de gerar uma criança e ia então, cobrar do homem que assumisse um compromisso este a mandava se queixar para o Bispo. Daí o ditado: "Vá se queixar pro Bispo".
A sociedade tornou-se patriarcal o homem fazia o que bem entendesse com os seus familiares e agregados. Quando casavam as mulheres saíam do jugo de seus pais para entrarem no jugo de seus maridos, que faziam o que bem entendiam com suas esposas. Aquela que não gerava filhos poderia ser devolvida para sua família, mantida em casa sofrendo toda a sorte de humilhação ou mandada para um convento ou hospício (quando estes foram criados). Sempre com a ajuda da polícia que mediante pagamento de suas despesas as internavam em um desses locais.
A mulher que era a grande senhora descarregava todo o seu ódio e submissão nos corpos dos escravos e principalmente nas escravas quando ficava sabendo que seu senhor estava visitando muito seguido à senzala. Mandava cegar, arrancar a língua, retalhar seus rostos. As mulheres eram casadas muito cedo geralmente entre doze e treze anos, porque aos quinze os homens diziam que elas já tinham perdido o viço da juventude. Com dezoito anos já eram umas matronas, balofas e desdentadas. Quase nunca andavam. Para saírem na rua eram carregadas pelos escravos nas cadeiras de ruar.Segundo Gilberto Freyre, as mulheres desta época escapavam da loucura graças ao confessionário local onde expurgavam todos os seus ódios.Em nenhum outro local lhe seria permitido falar sobre seus anseios, sonhos e necessidades. Tudo seria resolvido com algumas rezas.
A Revolução Industrial trouxe uma série de transformações para a humanidade algumas boas e, outras ruins. Um dos aspectos negativos foi a corrida imperialista entre as potências industrializadas, tendo como conseqüência as guerras geradas pelas disputas de territórios. O aspecto positivo é que, com as guerras, a mulher passou a ser novamente uma personagem importante nas nações beligerantes, já que foi ela que, durante anos, sustentou a família com seu trabalho, o mesmo trabalho que, infelizmente, produziu as armas para a destruição em massa e, sem dúvida nenhuma , foi ela quem reergueu os Estados destruídos por anos de guerras.
No século XX vimos a mulher retomar seu antigo papel, voltando a ter participação ativa na sociedade encontrando seu espaço através de muita luta para adquirir seus direitos como cidadã, como trabalhadora, como mulher, como companheira, como mãe. Passando a ser vista, a ser retratada por ela e como ela é. Procurando saber, questionando e não apenas aceitando passivamente o que o homem dizia. Transformando-se em cientista, em romancista, em historiadora, metendo-se em qualquer profissão e demonstrando ser tão capaz quanto o homem. Só que temos de ressaltar: não deixou em nenhum momento de fazer o que era exigido das outras mulheres no passado, ou seja, continuou exercendo seu papel de mãe, filha, esposa, amante e amiga.
DA SOCIEDADE COLONIAL AOS DIAS ATUAIS
Professora Mestra Miriam Munhoz Fernandes
É importante ressaltar que nós sempre nos enxergamos através do olhar masculino: foram os homens que durante milênios determinaram nossa forma de ser e agir, nos fazendo acreditar que sempre havia sido assim e, na sua fala nos transmitiram mentiras e preconceitos que se perpetuam até hoje. Um exemplo é o de nos fazer acreditar que mulher não é amiga de mulher. Esta é uma forma bastante sutil de dominação que , se as mães não percebem passam para suas filhas como sendo uma verdade absoluta. Ora, somos amigas daquelas pessoas com as quais temos alguma forma de identificação, independente do sexo que ela possua.
Durante muito tempo não questionamos, não agimos, não exigimos, não nos consideramos seres capazes porque nos foi incutido que éramos inferiores por não termos as mesmas condições mentais dos homens, sem a mínima capacidade de sobrevivência, se não tivéssemos ao nosso lado o pai, o irmão, o marido, o filho ou qualquer outro elemento do sexo
masculino para nos sustentar. Isso é tão forte em nossa sociedade que provavelmente, neste momento se alguma mulher esboçar o desejo de viver só, sempre haverá alguém que lamente esta opção ou que se questionará como ela irá viver sem o marido ou companheiro para ajudar no seu sustento e de seus filhos?
O interessante é que esta cultura preconceituosa e machista atravessou os séculos sem que a mulher percebesse que isto era uma retumbante mentira já que é ela quem dava a unidade familiar. Foi ela que, sustentou a família enquanto o homem se ausentava temporária ou definitivamente. Mas a fala disseminada ao longo dos séculos foi de que a mulher era frágil, sem condições de pensar, criar ou sobreviver sem o homem, servindo apenas como um grande útero.
Historicamente é um erro fazer este tipo de afirmação. Se remontarmos à Pré- História veremos que o papel representado pela mulher era tão ou mais importante que o do homem, já que cabia a ela a tarefa da coleta dos alimentos. Foi a mulher a responsável pela Revolução Agrícola; e, portanto, do fim da dependência total do Homem da
natureza.
No Brasil, logo após Portugal ter tomado posse destas terras, a mulher européia que para cá veio, teve uma liberdade invejável frente à opressão em que viviam as mulheres na Europa. Isso porque estavam em número bastante reduzido; e portanto, valorizado. As mulheres da classe mais baixa, ou seja, aquelas que não estavam destinadas a se casarem com os homens com algum tipo de posse ou riquezas, aquelas que tinham que trabalhar para viverem, poderiam ir e vir a hora que bem entendessem, poderiam escolher seus parceiros, o pai de seus filhos, se queriam ou não continuarem vivendo com quem estavam. Não havia ainda a presença da Igreja ; portanto, a sociedade era bastante flexível.
As mulheres, neste período, criavam seus filhos, os filhos trazidos pelos companheiros, os filhos dos vizinhos quando estes perdiam as mãe se os filhos que os antigos companheiros deixavam para trás quando saiam em busca de ouro. Nossa sociedade estava engatinhando, os homens que para cá vieram estavam em busca de um enriquecimento rápido. Eram verdadeiros andarilhos e, em cada local por onde passavam, deixavam a mulher que os havia recebido de braços abertos e que sabia que, mais dia ou menos dia, seria abandonada. Atualmente, na Bahia, grande parte das famílias estão compostas exclusivamente de mulheres que vivem juntas em uma mesma casa onde criam seus filhos.
Quando Portugal resolveu colonizar definitivamente o Brasil trouxe a Igreja para organizar e regrar a sociedade e para a mulher foi Imposta uma nova conduta para que fosse aceita na sociedade que surgia. Aos poucos, ela foi perdendo sua liberdade porque perdia sua autonomia econômica. Foi-lhe imposto o confinamento caseiro, como deveria se comportar em público, como deveria andar e para onde olhar (chão). Isso porque chegavam os escravos e sua mão- de- obra passava a ser desnecessária. Para ser aceita como uma mulher "direita" deveria se comportar como a Igreja determinava, senão fizesse isso não seria bem vista; e, portanto, colocada na casa das mulheres da dita vida "fácil".
O casamento oficial não existia para mais da metade da população e, em alguns lugares, como na Bahia por exemplo, 80% dos casais eram de concubinato. Até o século XIX, os casamentos que ocorriam na Igreja eram dos ricos para que suas filhas tivessem alguma proteção contra qualquer ato de seus maridos, que, muitas vezes, foram seus algozes. Como já foi citado, a mulher , desde a Antigüidade Clássica, foi vista como um grande útero. Era comum aos homens quererem antes do "casamento" uma prova da capacidade geradora da mulher. Quando ela provava ser capaz de gerar uma criança e ia então, cobrar do homem que assumisse um compromisso este a mandava se queixar para o Bispo. Daí o ditado: "Vá se queixar pro Bispo".
A sociedade tornou-se patriarcal o homem fazia o que bem entendesse com os seus familiares e agregados. Quando casavam as mulheres saíam do jugo de seus pais para entrarem no jugo de seus maridos, que faziam o que bem entendiam com suas esposas. Aquela que não gerava filhos poderia ser devolvida para sua família, mantida em casa sofrendo toda a sorte de humilhação ou mandada para um convento ou hospício (quando estes foram criados). Sempre com a ajuda da polícia que mediante pagamento de suas despesas as internavam em um desses locais.
A mulher que era a grande senhora descarregava todo o seu ódio e submissão nos corpos dos escravos e principalmente nas escravas quando ficava sabendo que seu senhor estava visitando muito seguido à senzala. Mandava cegar, arrancar a língua, retalhar seus rostos. As mulheres eram casadas muito cedo geralmente entre doze e treze anos, porque aos quinze os homens diziam que elas já tinham perdido o viço da juventude. Com dezoito anos já eram umas matronas, balofas e desdentadas. Quase nunca andavam. Para saírem na rua eram carregadas pelos escravos nas cadeiras de ruar.Segundo Gilberto Freyre, as mulheres desta época escapavam da loucura graças ao confessionário local onde expurgavam todos os seus ódios.Em nenhum outro local lhe seria permitido falar sobre seus anseios, sonhos e necessidades. Tudo seria resolvido com algumas rezas.
A Revolução Industrial trouxe uma série de transformações para a humanidade algumas boas e, outras ruins. Um dos aspectos negativos foi a corrida imperialista entre as potências industrializadas, tendo como conseqüência as guerras geradas pelas disputas de territórios. O aspecto positivo é que, com as guerras, a mulher passou a ser novamente uma personagem importante nas nações beligerantes, já que foi ela que, durante anos, sustentou a família com seu trabalho, o mesmo trabalho que, infelizmente, produziu as armas para a destruição em massa e, sem dúvida nenhuma , foi ela quem reergueu os Estados destruídos por anos de guerras.
No século XX vimos a mulher retomar seu antigo papel, voltando a ter participação ativa na sociedade encontrando seu espaço através de muita luta para adquirir seus direitos como cidadã, como trabalhadora, como mulher, como companheira, como mãe. Passando a ser vista, a ser retratada por ela e como ela é. Procurando saber, questionando e não apenas aceitando passivamente o que o homem dizia. Transformando-se em cientista, em romancista, em historiadora, metendo-se em qualquer profissão e demonstrando ser tão capaz quanto o homem. Só que temos de ressaltar: não deixou em nenhum momento de fazer o que era exigido das outras mulheres no passado, ou seja, continuou exercendo seu papel de mãe, filha, esposa, amante e amiga.
Olá,
ResponderExcluirA mulher traz uma força criativa incrível...
Abraços fraternos e de paz
Caro Eduardo,
ResponderExcluirFiz link de mais este seu excelente post que muito agradeço.
Um grande abraço.
Ainda há muito a ser conquistado, a exemplo da liberdade em ser mãe.
ResponderExcluirDireta ou indiretamente, as mulheres que escolhem não ser mãe ou, por motivos de saúde, são incapacitadas de ter filhos, são estigmatizadas e alvo de preconceito até mesmo por parte de outras mulheres.
Ninguém é melhor que ninguém pelo fato de ser mãe. Então, que seja respeitado o direito de negar a maternidade.
se a mulher nao existisse nao existiria a sociedade
ResponderExcluirGoste desse trabalho escolar
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