terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1914 - Um por todos, todos por um

Complexa rede de coligações leva potências à guerra –
Alemão Bismarck levou à corrida por alianças na Europa – Comprometida
com os dois lados, Itália permanece alheia às batalhas

A Europa de 1914 é o campo de batalha: alemães e austro-húngaros espremidos entre os aliados França e Rússia

uitos ainda se perguntam: por que um evento aparentemente isolado como o assassinato do herdeiro do trono austríaco por um estudante nacionalista sérvio levou potências como a França, a Alemanha, a Rússia e a Grã-Bretanha a mobilizarem milhões de soldados e se engajarem em um conflito de proporções titânicas? Bismarck explica. Pode-se creditar ao antigo primeiro-ministro da Prússia e chanceler do Império Germânico (além da atual configuração territorial da Europa, definida depois da Guerra Franco-Prussiana) os pactos e tratados assinados por quase todas as nações do Velho Continente para resguardar suas fronteiras.

A ideia era proteger-se de qualquer ameaça externa, fosse ela a volúpia expansionista de alguns ou a sede de vingança de outros. De qualquer forma, foram esses conchavos que acabaram atraindo, por força dos acordos, mais e mais países para a guerra. Depois de alcançar a tão sonhada união dos estados germânicos e trucidar a França na última grande batalha do século passado, Otto von Bismarck sabia que apenas conseguiria manter a estabilidade da Alemanha caso selasse coligações que protegessem seu país de invasores.

Como era quase certo que a França se voltaria contra os germânicos na primeira oportunidade, especialmente para recuperar a Alsácia e Lorena, Bismarck esquematizou, em 1873, a Liga dos Três Impérios, com os russos e os austro-húngaros. Cinco anos depois, a Rússia desistiu do acordo; Alemanha e Império Austro-Húngaro seguiram adiante e fecharam a Aliança Dupla, em 1879. A entrada da Itália no grupo, em 1881, criou a Tríplice Aliança. Entretanto, a mesma Itália também assinara um pacto por baixo dos panos com a França, comprometendo-se a ficar neutra em caso de ataque alemão ao território gaulês – que veio a acontecer justamente agora, o que explica a não mobilização italiana na Tríplice Aliança da qual é signatária.


Bismarck: os primeiros fios da trama

Parceiros cordiais - Além desse acordo, em 1891 os franceses também cerraram fileiras com os russos, que haviam acabado de se desobrigar de compromissos com os alemães após a não-renovação de um tratado firmado entre os dois cinco anos antes. Em 1892, a Convenção Militar Franco-Russa oficializou o compromisso. A aliança com a Grã-Bretanha, por sua vez, veio quase uma década depois, em 1904, com a Entente Cordial, na qual, além de acertar velhas pendências coloniais, gauleses e britânicos comprometiam-se a operar em conjunto no campo diplomático (a colaboração militar só foi corroborada há dois anos, em 1912, pela Convenção Naval Anglo-Francesa). Assim, quando a Rússia, três anos mais tarde, assinou a Entente Anglo-Russa, todos os três países estavam interligados e comprometidos por acordos mútuos. Estava formada, então, a Tríplice Entente.

Tal configuração deixou todas as potências amarradas entre si. Mas, ironicamente, o que as trouxe para a guerra foram alianças menores, coadjuvantes. Um remoto tratado de cooperação e defesa ligava a Rússia à Sérvia. Como já é notório, foi justamente a declaração de ataque austro-húngaro aos sérvios, em retaliação ao assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que fez Moscou se mobilizar. Por sua vez, a ameaça de intervenção russa contra os austro-húngaros carregou a Alemanha para a batalha, com suas declarações de guerra contra a Rússia e a França. Por último, faltava a Grã-Bretanha, que oficialmente apenas tomou parte nas hostilidades quando a Bélgica – com quem assinara em 1839 um obscuro tratado pelo qual comprometia-se a defender a neutralidade do país flamengo – foi invadida pela Alemanha. Obviamente, o maior interesse dos britânicos é auxiliar a França e impedir o avanço germânico pelo continente. Quem viver, verá.

Revista Veja História

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