domingo, 3 de maio de 2009

Renascimento - Viagem à origem do mundo moderno

Série de História Viva mostra como os artistas do Renascimento inventaram uma nova civilização ao tentar reviver a cultura da Antigüidade clássica
por Bruno Fiuza
© LUIZ FERNANDO MACIAN (REPRODUÇÃO)


Dante, Petrarca, Bocaccio e outros pioneiros do humanismo: retomada dos clássicos colocou em xeque o pensamento medieval/Retrato de seis poetas toscanos, óleo sobre tela, Giorgio Vasari, 1543, Instituto de Artes de, Minneapolis, Minnesota

No século XV, a Europa passava por profunda transformação. Depois de quase mil anos de vida rural, fechada em si mesma, os pensadores e artistas do continente sentiam que algo ganhava vida no estagnado ambiente cultural da Idade Média.

A transformação, não por acaso, vinha da Itália. A península nunca se enquadrara no script da Idade Média e permanecera essencialmente urbana enquanto o resto da Europa se fechava na vida rural. Mesmo no auge do feudalismo, por volta do ano 1000, Veneza já era uma próspera cidade comercial.

Nada mais natural, portanto, que o mundo medieval começasse a ruir no ambiente urbano da república de Florença do século XIV. Buscando resgatar a herança cultural da Antigüidade clássica, o movimento humanista rompeu com a escolástica, filosofia medieval que explicava o mundo apenas a partir dos dogmas da Igreja, e anunciou o início de uma nova era nas letras e nas artes.

O ideal que orientava os novos tempos era, na verdade, uma busca pelo passado. No campo das letras, Dante retomava o modelo de poetas clássicos, como Virgílio, para compor sua Divina comédia. Ao mesmo tempo, Giotto di Bondoni resgatava a tradição clássica nas artes visuais. Os grandes modelos greco-romanos ressuscitavam. Era o início do Renascimento.

© LUIZ FERNANDO MACIAN (REPRODUÇÃO)


Resgatando a tradição clássica, Giotto rompeu com a pintura medieval/O cortejo nupcial da virgem, afresco, Giotto di Bondoni, 1304-1305, Capela Scrovegni, Pádua e Os pais da perspectiva nas artes visuais: Masaccio, Alberti e Brunelleschi (da esquerda para a direita)/Detalhe do afresco Ressurreição do filho de Teófilo e São Pedro em Cátedra, Masaccio, 1424- 1427, Capela Brancacci, Florença
Surgido nas artes, esse movimento moldaria, nos séculos seguintes, a própria mentalidade do homem moderno. Foi para explicar um fenômeno cultural de tamanhas proporções que o consultor de História Viva, Luiz Marques, decidiu embarcar na aventura de elaborar uma série de revistas que mostrasse ao público como, ao criar uma determinada idéia do mundo antigo, o Renascimento “gerou as coordenadas mentais do mundo moderno”.

Professor do Departamento de História da Unicamp e um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, Marques dividiu a coleção em cinco volumes, cada um dedicado a determinada fase do Renascimento.

A primeira edição abrange o período que vai de 1280 a 1420 e aborda os primórdios do movimento, quando nomes como Giotto, Cimabue, Dante e Petrarca, reunidos na cidade de Florença, lançaram as bases da nova mentalidade. O segundo número se concentra nos anos de 1420 a 1480 e trata do momento em que a renovação artística e intelectual se espalha por Roma, Veneza, Nápoles, Milão e Florença.

O terceiro fascículo da série aborda o período que vai de 1480 a 1500 e analisa como os artistas do século XV reprocessaram a tradição clássica da arquitetura e da escultura monumental da Antigüidade.


Capa da primeira edição da série
O quarto número foca a idade de ouro do Renascimento, entre os anos de 1503 e 1521, quando gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael trabalharam, lado a lado em Florença. Por fim, o último número trata dos anos de 1520 a 1580, quando as guerras da Itália sufocaram o movimento na península e este consolidou em novo sistema das artes pós-renascentista.

A partir da análise de obras literárias e visuais, Luiz Marques revela o projeto dos renascentistas: recriar a riqueza cultural da Antigüidade greco-romana, que havia sido adulterada pelos povos que destruíram a civilização dos césares e criaram a Europa medieval.

É por isso que, como explica o organizador da coleção, ao criar uma idéia do mundo antigo, o Renascimento “gerou as coordenadas mentais do mundo moderno”. Daí o paradoxo que Luiz Marques convida o leitor a desvendar: o de “como a modernidade nasce das diversas reações químicas do antigo fecundado pelo novo na história da arte e das idéias dos séculos XIV a XVI”.

Bruno Fiuza É editor-assistente da revista História Viva.

Revista Historia Viva

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