quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

NEW DEAL - A reconstrução da economia dos EUA



O New Deal entrou para a história como um dos mais importantes
planos econômicos mundiais,capaz de unir teoria e prática e
firmar a liderança globalde um país

Passados os anos duros da Primeira Guerra Mundial, a economia global renasceu fortalecida nos anos 1920. Sobre os escombros da Europa abalada pelos conflitos, emergia uma nação líder: os Estados Unidos, empenhados na produção e naexpansão. Os europeus, beneficiários diretos, adquiriam deles bens e recursos financeiros para recuperar o continente devastado. Os países periféricos, beneficiários indiretos, supriam os americanos com as matérias-primas que moviam as empresas e uma sociedade de consumo em desenvolvimento sem precedentes.
Mas a euforia global estava com os dias contados. Na verdade, viria a ser o caminho para um abismo que estava se delineando. A referência fatal foi a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, que deu início à Grande Depressão. Mas, se o capitalismo viveu a sua mais grave crise, dela surgiu um programa de salvação que as ciências econômicas registram como o primeiro e talvez o mais importante laboratório em que se uniram a teoria e a prática: o New Deal, que recolocou os Estados Unidos no prumo, definitiva e incontestavelmente, como a maior potência mundial, já às portas da Segunda Guerra.

EXPLOSÃO ARTIFICIALO contexto da crise de 1929 deixa clara a inevitabilidade do desastre. A partir de 1925, a expansão desenfreada da produção americana começou a acumular problemas. Para sustentar o parque produtivo, o sistema financeiro multiplicou-se várias vezes, chegando à impressionante cifra de cinco milbancos registrados no Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA). A concessão de financiamentos escorria feito água, com poucas ou quase nenhuma garantia por parte dos tomadores.
Os banqueiros acreditavam que a economia vigorosa era a própria garantia e emprestavam muito além do que seus patrimônios poderiam cobrir. Eles próprios não contavam com as garantias como as que o atual sistema regulatório impõe. Opior foi que, paralelamente, a Europa se recuperava e começava a depender menos dos Estados Unidos. Comprava cada vez menos produtos e protegia-se da invasão de importados, com medidas protecionistas.
Aos poucos, foi se consumando uma crise de superprodução. A economia, de uma convivência conveniente com a inflação, pois a procura por bens incentivava a escalada dos preços, passou a sofrer com a queda abrupta dos preços. Daí para a formação de estoques, paralisação da produção e desempregofoi um passo tão rápido quanto o estouro da "quinta-feira negra" em 25 de outubro de 1929.

A influente Bolsa de Nova York, para onde as empresas vinham acorrendo para abrir capital, vendendo parte de suas ações também para captação de recursos visando ao crescimento, quebrou em poucas horas de pregão. As ações das empresas caíram vertiginosamente e veio o crash.
As falências, que começaram nas indústrias e chegaram aos bancos, multiplicaram-se em todo o sistema econômico. O mundo foi junto.
Na expressão de Galbraith, a "patentemente insana" explosão econômica artificial e descontrolada financiava ainda luxos de uma sociedade afluente e empreendimentos factóides, como a especulação imobiliária no estado da Flórida. A euforia deu lugar ao colapso, com conseqüências sociais imediatas. Entre elas, um número sem precedentes de suicídios, hordas de desempregados vagando pelas ruas e aumento da criminalidade.
VOLTAM OS EMPREGOSNos três anos seguintes ao ponto culminante da crise, o imobilismo ainda era total. Tamanha era a desordem, que o presidente Hoover pouco fez. Surgiu Roosevelt como candidato a presidente, em 1932, propondo um "novo acordo" (new deal) à sociedade expressão cunhada pelo juiz Samuel Rosenman. Eleito Roosevelt, esse novo acordo revelou-se, a partir de 1933, uma metáfora para a ruptura com o sistema vigente. Ele propunha o fechamento temporário dos bancos que sobreviveram; a requisição compulsória dos estoques em ouro para recompor as finanças públicas; a desvalorização da moeda via inflação moderada, a fim de elevar os preços dos produtos agrícolas e permitir o pagamento das dívidas dos fazendeiros; a emissão de papel-moeda (dólares) e o abandono do padrão-ouro (as pessoas podiam resgatar em metal o equivalente em dólares), que viriam a ajudar a financiar o seguro-desemprego.
Entre as medidas emergenciais que mais repercutiram estavamas obras públicas. O governo bancou de norte a sul e coast tocoast diversos projetos de infraestrutura. Com investimentos públicos, construíram-se rodovias, ferrovias, usinas, sistemas de saneamento, escolas, portos e o que mais puder se pensar, em cifras astronômicas, nunca mensuradas precisamente.

Com isso, dos cerca de 14 milhões de desempregados americanos às vésperas do New Deal, quase a metade arranjou colocação nas frentes de trabalho. A proposta era atacar o desemprego para distribuir renda, o que proporcionaria certa absorção da produção e serviços excedentes, não consumidos durante os anos mais agudos da crise.
É certo que a Grande Depressão ainda perdurou mais alguns anos - oficialmente fala-se em 10 anos -, e o desemprego só foi mesmo aplacado com os esforços da indústria bélica às portas da Segunda Guerra Mundial. Mas é certo, também, que as ações da primeira fase do plano de reconstrução fizeram o gigante americano voltar a andar, incentivando o governo a estender mais as suas rédeas sobre a economia, já na segunda fase (1935-1938), com a autoridade federal determinando os rumos em todos os campos.
Franklin Delano Roosevelt: iniciativas de criação de frentes de trabalho do presidente norte-americano reduziram pela metade o número de desempregados, que chegava a 14 milhões no auge da crise

Entre os pontos mais significativos desse segundo período, está a ênfase nas leis trabalhistas. Surgiram, então, a carga horária semanal, o sistema previdenciário, o descanso regulamentar e, no caso dos negros, a equiparação salarial. Com a confiança da nação resgatada, Roosevelt foi reeleito quatro vezes. A última em 1944, fato sem precedentes na história americana. A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de Keynes, lançado em 1936, fonte da qual o New Deal bebeu, tornou-se a bíblia dos economistas. Ainda hoje é vista por muitos como um modelo a ser seguido.

Giovanni Lorenzon é jornalista e analista econômico.

AS RÉDEAS NAS MÃOS
DO GOVERNO

Os pressupostos teóricos do inglês John Maynard Keynes, descritos em seu livro mais famoso, impuseram um novo pensamento para a economia de livre mercado. Sobrevivia até então o espírito do laissez-faire, laissez-passer (em francês, "deixem fazer, deixem passar"), argumento central de A Riqueza das Nações, de Adam Smith. O pensador do século XVIII defendia que o bem-estar do indivíduo só podia ser alcançado sem ingerência e amarras oficiais.
Apesar da importância repentina de Keynes, os fundamentos de sua teoria só foram mais bem absorvidos com a ação do americano Paul Samuelson, que em Economics: an Introduction Analysis, de 1938, traduziu melhor a teoria de Keynes para os estudantes e fez com que ela fosse mais bem compreendida pelos líderes americanos.
Para os críticos desse modelo de política econômica, liderados pelos liberais da Escola de Chicago, cujo expoente é Milton Friedman, Keynes foi o precursor dosprogramas intervencionistas adotados em muitos países ao longo das décadas seguintes. Esses programas seriam o pecado original dos déficits públicos, já que estimulam os investimentos públicos sem receita suficiente no orçamento, obrigando os governos a lançar títulos para captar recursos, e perpetuar a inflação.
No Brasil, o capítulo keynesiano mais reconhecido foi o do período dos governos militares, quando a ditadura dava liquidez à economia por meio de obras públicas. Os governos seguintes, preocupados em financiar o rombo, sempre tentaram adotar um híbrido entre os ideais de Keynes e os dos liberais.

Revista Desvendando a História

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