Prof. Dr. Cyro de Barros Rezende Filho
Professor da cadeira de História Antiga e História Medieval
Universidade de Taubaté.
Os séculos XIV e XV são uma época de turbulência para a Europa. Paralelamente à ocorrência generalizada de uma crise tríplice, agrária, demográfica e monetária, somam-se guerras incessantes e o rompimento do equilíbrio da cristandade medieval (Grande Cisma), que eram um prenúncio da crise estrutural do feudalismo. A característica social da época foi a eclosão de numerosas revoltas populares, tanto no campo, como nas cidades, quando os pobres se rebelaram contra a ordem estabelecida, explodindo em justa ira.
Houve uma pauperização progressiva, quer dos camponeses e rendeiros rurais, quer dos trabalhadores urbanos, o que ocasionou uma confluência de carências. Ao lado da dura luta pela sobrevivência, muitas vezes infrutífera, somou-se a falta de justiça, de paz e mesmo de esperança, uma vez que mais e mais pessoas eram atingidas pela pobreza. A posse de um lote de terra, ou de uma colocação laboriosa, deixou de ser a garantia de uma vida digna ou mesmo de sobrevivência, na medida em que a crise estrutural do feudalismo engolfava o corpo social e que o estado de pobreza se alastrava de forma incontrolável, abraçando a todos.
O resultado foi um período de violência endêmica, cuja característica básica foi uma generalizada revolta dos pobres, por toda a Europa. No campo, essas revoltas receberam a denominação de jacqueries, devido à presença massiva dos “Jacques” (homens comuns, homens do povo). Tiveram um caráter anti-senhorial e, por vezes, até anticlerical. Nas cidades, foram dirigidas contra a camada dirigente, o patriciado urbano (FOSSIER, 1970, p. 339s). No universo rural, registram-se revoltas na Borgonha (1308), na Flandres (1323 e 1328), no norte da França, Lombardia e Renânia (1358), na Inglaterra (1381 e 1408-1420), na Catalunha (1391 e 1410 –1414), na Jutlândia (1411), na Dinamarca (1436) e na Noruega, em 1438 (HEERS, 1970, pp. 114-120). E no contexto urbano ocorreram levantes populares em Bruges (1302), em Toulouse (1320 e 1356), nas cidades de Gand, Louvain, Maastricht e Bruxelas (1380), em Londres (1381), em Paris (1382, 1413 e 1418), em Worms, Spira, Francfurte e Mogúncia (1383) e em Florença, em 1378 e novamente em 1478 (ARAGONESE, 1948, p. 32s).
A origem dessas revoltas está no desconforto que a pobreza causa, na injustiça de sua imposição e na vergonha que ela ocasiona. Nas palavras de John Ball, o líder da grande sublevação inglesa de 1381, com base no dito popular “A bondade desconhece os ricos, que obrigam todos os homens a serem pobres”, encontra-se claramente expressa a constatação que segue:
E se todos nós descendemos de um mesmo pai e de uma mesma mãe, Adão e Eva, como podem os senhores afirmar e provar que eles são mais senhores do que nós – salvo que eles nos obrigam a cavar e cultivar a solo para depois virem esbanjar o que produzimos? Eles vestem-se com veludo e cetim, adornam-se com peles de esquilo, enquanto nós nos cobrimos com trapos. Eles têm vinhos, especiarias e pão fino, ao passo que nós temos apenas centeio, farinha estragada e palha, e só água para beber. Eles possuem lindas residências e feudos, enquanto para nós há trabalho e tributação, sempre nos campos debaixo da chuva e da neve. Mas é de nós e do nosso trabalho que provém tudo aquilo que mantém a pompa deles (LINDSAY, 1950, pp. 23 e 46-47).
É desnecessário dizer que a repressão a esses movimentos revestiu-se de caráter violentíssimo, impondo, nas regiões afetadas e nas cidades sublevadas, uma verdadeira paz de cemitério. Em um encontro de interesses comuns, a Igreja facilitou a ação dos poderes instituídos, atribuindo a característica de heresias a muitas dessas revoltas populares, o que facilitou a ação do braço secular.
Mas não foi apenas a Igreja Católica que se posicionou em favor da lei e da ordem. O próprio Martinho Lutero agiu no sentido de apoiar os príncipes contra os pobres em revolta, no episódio conhecido como a Guerra dos Camponeses (1524-1525), que atingiu uma Alemanha já caótica pela ação da Reforma. Afirmando que “Há que estrangulá-los. Há que matar o cão enraivecido que se lança contra ti: se não, ele te matará” (DELUMEAU, 1973, p. 44), ele abençoou o massacre de mais de cem mil camponeses.
Triste desfecho, para uma categoria social que iniciou sua trajetória no universo medieval desempenhando um papel funcional fundamental à existência dos bons cristãos.
DO PARAÍSO
REVISTA CIÊNCIAS HUMANAS, UNITAU. Volume 1, número 1, 2009.
Olá Multiplicador, seja feliz!
ResponderExcluirAntes de qualquer coisa, pedimos desculpas pela nossa ausência, é que fazem alguns meses que nosso tempo tem sido muito, mais muito curto mesmo. Porém, o projeto E.M. continua seguindo firme, graça a você, Eduardo, que tem nos ajudado bastante para o crescimento de toda a família, muito obrigado.
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Abraços, fiquemos na Paz de Deus e até breve.
IRIVAN