quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Comunidades Imaginadas


Um clássico do pensamento
É muito difícil fazer justiça em poucas palavras às sofisticadas análises de Benedict Anderson sobre o nacionalismo. O livro Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e difusão do nacionalismo (1983) é a mais original abordagem sobre o tema. Especialista em Sudeste Asiático, ele viveu e realizou pesquisas na Indonésia, Sião e Filipinas. O primeiro impulso para escrever o livro sobre o tema surgiu durante o período da Terceira Guerra da Indochina (1978-1979) entre a China, Camboja e Vietnã ao observar que, desde a Segunda Grande Guerra, toda revolução bem sucedida se definia em termos nacionais. Dessa forma, pareceu a ele que compreender a história do nacionalismo, tinha na questão cultural e nos artefatos simbólicos, particularmente nas transformações da consciência, o elemento central para pensar, definir a existência das nações. Desenvolvendo seus estudos, teorias e metodologias influenciado por pensadores como Erich Auerbach, Victor Turner e Marc Bloch, entre outros, seu trabalho foi ganhando uma dimensão e erudição que acabaram transformando o livro num grande clássico da história do pensamento do século XX.
Para Anderson, as origens culturais das nações modernas podem ser encontradas em alguns momentos históricos modernos: na mudança na concepção de tempo, no declínio das comunidades religiosas e dos impérios dinásticos, no desenvolvimento da cultura impressa de massas (livros, jornais) em línguas vernáculas. Tendo especificado as causas gerais subjacentes ao desenvolvimento das nações, explorou as mudanças particulares em contextos culturais e históricos. Começou por considerar a América Latina, onde – de forma controversa e interessante – apontando as comunidades crioulas das Américas como o meio onde a consciência nacional emergiu antes de aparecer na maior parte da Europa e de forma diferente da europeia em dois aspectos: conduzida por elites crioulas e não por intelectuais; o idioma não teve um aspecto tão fundamental uma vez que as colônias partilhavam a língua comum das metrópoles imperiais.
Os nacionalismos na Europa foram diferentes em dois pontos: em primeiro lugar, o papel desempenhado pela imprensa em idiomas considerados nacionais e a própria ênfase na língua nacional; em segundo lugar, os problemas políticos que derivaram da existência de vários impérios dinásticos do século XIX que nada tinham com qualquer noção do moderno nacionalismo. Essas similaridades também podem ser encontradas em movimentos nacionalistas e nos conflitos políticos nos vastos territórios da Ásia e da África.
Com referência aos nacionalismos anticoloniais, Anderson vai demonstrar que foram inspirados nos primeiros movimentos europeus e americanos. E tiveram consequência da administração colonial partilhada entre europeus e nativos ao longo de todo o século XIX. Isso permitiu o surgimento de uma intelectualidade local, bilíngue e com acesso aos modelos de nação e de nacionalismo, e que teve papel fundamental para copiar, adaptar e aprimorar as experiências anteriores. Nas condições do século XX, a construção de sistemas culturais nacionais foi muito fácil.
 Jornal Unicamp

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