quinta-feira, 7 de junho de 2012

Rádio - Sociedade e cultura


O Brasil de JK
Às 20 horas da noite de 8 de janeiro de 1951 entrava no ar, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, o primeiro capítulo de O direito de nascer, do cubano Félix Caignet. A mais famosa novela da história do rádio brasileiro ficou em cartaz até setembro de 1952, perfazendo um total de 260 capítulos. No ano seguinte, a Nacional inaugurava um novo estúdio de radioteatro, com recursos tais que foi considerado na época o melhor do mundo. Sob o patrocínio de Melhoral e do Leite de Magnésia de Philips, também em 1953 estreou a série Jerônimo, o herói do sertão, de Moysés Weltman, que ficaria no ar até 1967.
Juscelino Kubitschek recebe artistas e diretores da Rádio Nacional: Marlene, Ivon Cúri, Wilson Grey. Rio de Janeiro,  5 set. 1956Durante toda a década de 1950 as dramatizações eram componentes-chaves da programação das principais emissoras do país. Do cast da Rádio Nacional faziam parte os artistas mais famosos, campeoníssimos dos concursos de "Melhores do Rádio", realizados periodicamente pelas revistas especializadas, como a Revista do Rádio e a Radiolândia. A Rádio Mayrink Veiga contava com um elenco de radioteatro de 26 pessoas, além de quatro estúdios, um auditório, uma orquestra com 41 músicos e um conjunto regional.
Outro elemento central do padrão de entretenimento radiofônico que a Nacional consagrou e, em grande medida, impôs às concorrentes era o programa de auditório. Forçada por um incêndio, a Rádio Tupi, ainda na avenida Venezuela, remodelou inteiramente seu auditório, aumentando sua capacidade para 1.600 pessoas, o que lhe valeu o apelido de "o Maracanã dos auditórios". Além dele, a emissora de Assis Chateaubriand contava com três estúdios, três orquestras, dois conjuntos regionais e um enorme quadro de artistas e locutores.
O uso político das ondas sonoras não foi menos significativo. Ocupando, no início da década, o quarto lugar na disputa pela audiência no Rio de Janeiro, a Rádio Globo inovava com programas como a Tribuna política, com depoimentos das principais lideranças parlamentares. Outro destaque de sua programação era o Conversa em família, onde, à maneira de uma conversa familiar à mesa do jantar, eram debatidos os principais assuntos políticos.
Juscelino Kubitschek recebe os melhores do Rádio de 1955. Entre eles, Angela Maria, César de Alencar e Luís Jatobá. Rio de Janeiro, 5 jul. 1956O radiojornalismo não se limitava, porém, às campanhas políticas nacionais. Na segunda metade da década, a mesma Farroupilha destacou-se na cobertura internacional de crises como a do canal de Suez, durante o conflito entre Egito e Israel, com transmissões ao vivo e troca de mensagens entre os pracinhas do contingente de paz brasileiro e seus familiares no Brasil.
Outra emissora a investir e a inovar nesse setor foi a Jornal do Brasil, com a inauguração, em 1959, de um serviço de utilidade pública que trazia informações aos ouvintes, como endereços de serviços públicos, e ajudava na aquisição de remédios etc. A estratégia da JB completava-se com uma programação musical baseada em discos. A rádio, além disso, foi uma das primeiras a apoiar o movimento da bossa nova e a divulgar a nova música popular brasileira, instituindo um prêmio ao compositor revelação do ano.
Também a Rádio Tamoio fazia sucesso à época com uma programação dedicada à música, com o uso de discos. Já a Rádio Ministério da Educação teve várias orquestras, como a sinfônica, de câmara, de sopros e a afro-brasileira, além de um quarteto vocal e outro de cordas, um conjunto de música antiga, um coral, um trio, vários duos e um quadro de solistas. Além disso, a emissora estatal gravava discos para irradiação em emissoras estrangeiras e investia em programas educativos, como o Colégio do Ar, que, em convênio com a Divisão de Ensino Secundário do MEC, conferia anualmente centenas de diplomas a jovens e adultos.
As mudanças enfrentadas pelo meio, principalmente em função da concorrência crescente da televisão, conduziram a uma série de novas experiências de gestão e programação. A Rádio Globo, por exemplo, criou um dos formatos mais bem-sucedidos, centrado na figura do comunicador: um verdadeiro mestre-de-cerimônias, com liberdade e capacidade de improvisação, além de forte empatia com os ouvintes.
Estas e outras inovações foram decisivas para que o rádio se preparasse para enfrentar os difíceis novos tempos que, na passagem dos anos 50 para os anos 60, trouxeram o declínio do modelo de programação centrado em música ao vivo e novelas, que havia sido a base do sucesso da Rádio Nacional.
Fernando Lattman-Weltman
FGV - CPDOC

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