sábado, 8 de outubro de 2011

ATLANTIDA, IMPERIO DA LUA, DOS ASTECAS OU DA ESPANHA?


Segundo uma velha tradição egípcia, teria existido, há cerca de nove mil anos, uma velha ilha situada a oeste das colunas de Hercules. Ilha de extensão maior que a Asia e a Libia em conjunto, e cujos reis dominaram vastos territorios europeus e africanos. Logo que esses reis tentaram conquistar o resto da Europa, foram vencidos numa batalha pelo exercito grego, comandado por chefes atenienses. Derrota que marcou o declinio e o aniquilamento do imperio.
"Houve terremotos e inundações. No espaço de um espantoso dia e de uma espantosa noite, o solo engoliu toda a armada helenica, e a ilha Atlantida pereceu entre as vagas. O mar, nesta região, deixou de ser navegavel. O fundo baixo e lamacento, consequencia do afundamento da ilha, impedia toda e qualquer exploração..."
Assim se referia Platão, no "Kritias", à Atlantida. Essa, a unica e solitaria alusão à fantastica ilha, que chegou da literatura da antiguidade, até aos nossos dias.

Atlantida, país dos astecas?

Através dos tempos, a Atlantida foi sempre motivo de cogitações e explorações fantasticas. Não faltaram, mais recentemente, os escritores, jornalistas ou romancistas, e mesmo cineastas, que chegaram a reconstituir, por um esforço de imaginação, a arquitetura, o traçado e os materiais de construção da capital da Atlantida; o vestuario e o modo de vida da população; sua economia, suas classes sociais, sua religião, seus deuses e demonios; seus imperadores; as orgias dos imperadores, a beleza estranha da soberana a que alguns obrigaram a reinar sobre um reino submerso.
Especulações, e nada mais.
Platão tem sido submetido a uma das mais ferozes analises criticas, na tentativa de descobrir mais algum pormenor que conduza à localização da misteriosa Atlantida.
Quiseram alguns geografos e historiadores ver na narrativa do filosofo grego uma alusão poetica a um muito antigo conhecimento da America. O fato não é tão extraordinario como pode parecer à primeira vista, se considerarmos o arrojo marinheiro dos fenicios, e se a esse arrojo juntarmos as recentes provas de travessia do Atlantico por navegadores solitarios em frageis embarcações. Mas há mais: o historiador Pausanias diria mais tarde (150 antes de Cristo) que existia em pleno oceano, longe, e a oeste, um grupo de ilhas habitadas por homens de pele vermelha e cabelos como crinas de cavalo. Narrativa extraordinaria se a considerarmos pura imaginação. E mais tarde entre os anos 40 e 120 depois de Cristo. Plutarco escrevia que existe a oeste, no oceano, na mesma latitude da Grã-Bretanha, diversas ilhas atrás das quais se estende um vasto continente. Essas ilhas - e eis o maravilhoso! - caracterizam-se pelo fato de que o sol aí brilha ininterruptamente durante trinta dias. A noite, o astro recolher-se-ia cerca de uma hora, mas mesmo nessas alturas, a obscuridade não seria total, porque o horizonte, a ocidente, ficava sempre iluminado por um crepusculo. Plutarco descrevia, sem duvida, terras proximas do circulo polar. E o continente a que se referia, só poderia ser a America.
Juntem-se essas narrativas ao fato de que, muito antes de Cristo, já os Açores e a Madeira tinham sido explorados pelos fenicios, e não acharemos tão improvavel o fato de que o Novo Mundo fosse conhecido na antiguidade.
A Atlantida não seria então o continente que habitamos hoje? E o poderoso reino a que se referia Platão não seria o imperio dos astecas? Dois argumentos se levantaram contra a ambiciosa hipotese. Como poderiam os atlantes ter ocupado parte da Europa, e como poderiam ter sido derrotados pelo exercito grego? E como poderia a Atlantida ter desaparecido no espaço de um dia e uma noite, se fosse realmente o continente americano?

Atlantida, imperio da lua ou da Espanha?

Há cerca de 60 anos afirmava-se que o nosso simpatico satelite, a lua, há uns bons milhares de anos se destacara da Terra, passando a gravitar em torno de nosso planeta. Quiseram então alguns historiadores identificar a Lua com a Atlantida. Posteriormente afirmou-se que a Lua exercera uma tal atração sobre as massas oceanicas que um continente intermedio entre a Europa e a America fora submergido. Qualquer das hipoteses foi destruida pelas recentes investigações geologicas dos sedimentos oceanicos. Se realmente houve a submersão de um continente, isso não aconteceu há menos de 500 milhões de anos... E se realmente um pedaço de territorio atlantico, em virtude de fenomenos vulcanicos, se destacou de nosso planeta (hipotese rejeitada pelos geologos, por absurda) isso teria acontecido no período terciario, muito antes, portanto, do aparecimento do homem na face da Terra.
Limitaram então os historiadores suas incursões no fantastico, e procuraram algo de mais plausivel.
"Tartessos", a opulenta, a depravada", chama a Biblia a uma poderosa cidade, localizada algures entre Xeres de la Fronteira e a desembocadura do Guadalquivir, no sul da Espanha. Pouco se sabe acerca dessa cidade. Ignora-se a sua nacionalidade e a constituição racial de seus habitantes. Ignora-se ainda a data da sua fundação - provavelmente no final do terceiro milenio antes de Cristo - e a data da sua destruição. Porque houve uma destruição e certamente brutal, tragica, semelhante à catastrofe narrada por Platão, porque até hoje não foi possivel encontrar qualquer ruinas ou vestigios dessa cidade.
"Um dia virá em que a colera de Deus há de abater-se sobre todos os navios de Tartessos", profetizara Isaias 700 anos antes de Cristo.
E nem só a Biblia, mas textos de assirios e outros povos orientais se referem à misteriosa cidade cujo poderio era consequencia de suas fundições de bronze, essa sensacional amalgama de 10% de estanho de 90% de cobre que revolucionou as civilizações européias. Nas margens do rio Tinto, onde alguns historiadores localizam Tartessos, as minas de estanho e de cobre encontram-se lado a lado. Tartessos foi a grande produtora de bronze. Suas armas e braceletes eram vendidos, procurados e invejados por toda a Europa. Teriam os cartagineses destruido Tartessos, para eliminarem um concorrente que prejudicava a venda do estanho que eles traziam da Grã-Bretanha? Não se sabe. De qualquer forma, inclinam-se muitos historiadores modernos a identificar Tartessos com a Atlantida, a ilha Atlantida. Aliás, a propria Peninsula Iberica não é ela uma "quase" ilha?
Até que a verdade se descubra, podem os leitores continuar sonhando reinos submarinos e rainhas de estranha e languida beleza...
Folha da Noite, sexta-feira, 7 de junho de 1957

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