sexta-feira, 16 de setembro de 2011

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Carta de Prestes mostra ação da URSS

GRACILIANO ROCHA
DE PORTO ALEGRE


Manuscritos do líder comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990) evidenciam a influência soviética na Intentona Comunista, como ficou conhecida a tentativa de derrubar Getúlio Vargas do governo na década de 30.

A Folha obteve cópias dos quatro primeiros documentos de Prestes, guardados em Moscou há 75 anos. Em outubro, o governo russo começou a transferi-los do acervo do Komintern --a 3ª Internacional Comunista-- para o Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

Num relatório em espanhol, datado de 6 março de 1935 --oito meses antes da eclosão do levante--, Prestes faz um apelo para que Moscou enviasse um agente ao Brasil: "A viagem de Rústico [codinome do agente] é cada vez mais urgente".

Em esboço de telegrama datado do mesmo dia, ele diz que sua "entrada no país" está "cada vez mais difícil" e que é "necessário" o envio de "aparato" -não é explicado o que seria isso. O local onde Prestes estava quando escreveu esses textos é incerto.

Em carta, Prestes relata ao Secretariado Executivo do Komintern, em Moscou, que Vargas se debilitara com a "ofensiva do proletariado e empregados do governo por melhora de salário". A reação às greves, escreve ele, viria na forma de uma "nova lei contra os "extremistas'".

Aprovada pelo Congresso e sancionada por Vargas em abril, a Lei de Segurança Nacional criminalizou greves do funcionalismo público, agitação nas Forças Armadas e a propaganda subversiva.

ANTIFASCISMO

A carta de Prestes integra um conjunto de comunicações entre o Komintern e agentes na América do Sul entre o final de 1934 e 1935. Parte dos documentos foi revelada no livro "Camaradas" (Cia. das Letras, 1993), do jornalista William Waack. Waack teve acesso aos papéis após o fim da URSS.

Ainda no manuscrito de 6 de março, Prestes propôs que o PCB explorasse ao máximo o seu nome, famoso desde a Coluna dos anos 20, para orientar politicamente a ainda incipiente ANL (Aliança Nacional Libertadora). O comunista já vislumbrava o programa da era pós-Vargas.

O surgimento da ANL, um consórcio de opositores a Vargas, ajustava-se à política do Komintern de estimular a formação de frentes populares em todo o mundo para combater o fascismo.

"As condições atuais no país nos dão a perspectiva de um grande movimento de massas em apoio à ANL, a qual poderá mesmo organizar um governo revolucionário provisório", escreve Prestes no documento.

DERROTA

O objetivo imediato seria "mobilizar as mais amplas massas contra o imperialismo e o feudalismo" a partir de um programa brando, pelo aumento de salários e desarmamento dos fascistas.

A história mostraria que não havia "movimento de massas" disposto a fazer a revolução. No final de novembro de 1935, houve levantes em Natal e no Rio, rapidamente debelados. Prestes foi preso em 1936 e no ano seguinte começaria a ditadura do Estado Novo (1937-45).
Folha de São Paulo

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