terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Parte Obscura de Nós Mesmos: Uma História dos Perversos


"A Parte Obscura de Nós Mesmos: Uma História dos Perversos"]
Elisabeth Roudinesco

A renomada psicanalista e historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco alude, oportunamente, ao Marquês de Sade --"Príncipe dos Perversos"-- no subtítulo de seu mais recente livro, "A Parte Obscura de Nós Mesmos: Uma História dos Perversos" (Zahar, 2008).

Ao mesmo tempo em que tenta responder onde começa a perversão e quem são os perversos, Roudinesco critica a superficialidade dos estudos anteriores sobre a perversão, sobretudo por serem assaz abrangentes, pouco atentos a questões específicas que carecem de aprofundamento, como, por exemplo, as estruturas da perversão (ou perversões), e enfatiza que as políticas modernas, que se apóiam nas ciências para governar, obtiveram sucesso pertinente com doenças orgânicas, mas não no âmbito do sofrimento psíquico.

À maneira de Foucault, influência profunda na metodologia da autora, autor de "História da Sexualidade" [obra sem antecedentes], ela, abrindo o caminho a futuras investigações, delineia uma breve história das perversões através dos "perversos" do Ocidente, como Sade, o nazista Rudolf Höss, místicos medievais da autoflagelação, como Gilles de Rais, Liduína (Lidwina) de Schiedam, santa da Igreja Católica canonizada em 1890 que mortificava o corpo com jejuns, Barba Azul, pedófilos e terroristas de nossos dias etc., e mostra que a perversão é, de certo modo, intrínseca à civilização e talvez não possa ou não deva ser banida, pois é o fundamento de nossa civilização; este paradoxo ganha sua apologia ao serem tratados lado a lado como perversos santos e assassinos.

Perversão não é maldade, mas desvio, como indica a etimologia do termo, que ganhou a conotação que tem hoje na Idade Média. A felicidade com a destruição, o gozo pelo mal que é infligido a si mesmo ou a outrem em um transbordamento de sentido é descrito por Roudinesco sem jargões médicos ou psicanalíticos, o que, contudo, não priva o livro de sua cientificidade, sua leitura é muito agradável. A revista "Le Magazin Littéraire" escreveu "ler Roudinesco é uma tarefa urgente".

Folha de São Paulo

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