quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Fé versus a Razão


Daniel Tremel

Quando idéias como antropocentrismo, racionalismo, iluminismo e outros 'ismos' surgiram no Ocidente, a Igreja Católica viu tudo como se fosse coisa do inimigo - literalmente, do demônio. Esperta, sentiu que essas idéias novas significavam mudanças no modo de ver o mundo, até ali determinado exclusivamente por ela própria.

Para azar dos papas, desta vez o inimigo não era um rei, uma outra igreja ou outro Deus. As ameaças de excomunhão e de fogueira até conseguiram calar alguns, mas as idéias escaparam e acabaram comprovadas. A Igreja se tornou uma instituição ultrapassada, que usava sua tradição para defender idéias absurdas.

João Paulo II não fugiu a mais este desafio. Como parte da "atualização" do catolicismo, também remendou os erros do passado em relação à ciência. Mas sua ousadia maior foi a publicação da encíclica "Fides et Ratio" - Fé e Razão - em 1998. Nela, o papa projeta um reencontro de fé e conhecimento para o terceiro milênio. Quem viver, verá.

A cristandade dividida
AP
VATICANO
A sede da Igreja Católica viveu momentos históricos em abril
séc. 1 - séc. 5
Apesar de ter poderes de um rei absoluto, o papa nunca foi líder de todos os cristãos. Nos primeiros séculos do cristianismo, as dioceses eram independentes, os padres eram eleitos pelos fiéis e os bispos pelos padres. Existiam cinco grandes bispos, os patriarcas, sediados em Alexandria, Jerusalém, Antioquia, Constantinopla e Roma. As decisões sobre o mundo cristão eram tomadas em concílios e o primeiro, no ano 325, decidiu que nenhum patriarca teria primazia.

séc. 6 - séc. 9
A expansão islâmica destruiu os patriarcados do Oriente e restaram apenas Roma e Constantinopla, que passaram a disputar a liderança do mundo cristão. Os bispos de Roma procuravam estender seu poder, mas os concílios seguintes continuaram lhe negando tal status.

séc. 10 - séc. 15
Em 1054, o papa Leão IX rompeu com os bispos orientais e o papa se tornou enfim o líder da Igreja, embora só do Ocidente. A Igreja se dividiu entre a Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa. O Cisma do Oriente, como ficou conhecido, abriu o caminho para o período mais poderoso da Igreja Católica. Nos primeiros séculos do milênio a Igreja expandiu suas terras, enriqueceu cada vez mais e, aproveitando-se do mundo fragmentado da Idade Média, se tornou um dos protagonistas políticos da época.

séc. 16 - séc. 21
A era moderna mudou toda a visão de mundo do Ocidente. A Igreja não aceitou tamanha revolução e foi perdendo poder. Já no século 16 precisou enfrentar a Reforma Protestante, que retirou da sua influência o norte da Europa. O fortalecimento das monarquias minou a influência papal sobre os países europeus e o Iluminismo criou a idéia da separação entre Igreja e Estado. Em 1870, com a unificação da Itália, a Igreja Católica perdeu suas terras e definitivamente o que restava do seu poder material.


As teorias científicas da Igreja

Cosmologia

A teoria de Copérnico, de que a Terra girava em torno do Sol em vez do contrário, trouxe algumas dores de cabeça para os padres da época. No lugar, eles preferiam o sistema ptolomaico, que concebia a Terra fixa e o Sol girando em torno dela, o que trazia dificuldades matemáticas e previa uma órbita com algumas piruetas para o Sol.

Criacionismo
Se a mudança de sistema cósmico dificultava a interpretação literal da Bíblia, a Teoria da Evolução de Darwin, de 1859, questiona todo o Gênesis, um capítulo inteiro da Bíblia. O que aconteceria com Adão e Eva, o Éden, a criação do mundo em seis dias? Embora Pio XII tenha dito que a evolução era "hipótese séria" e João Paulo II tenha ido mais à frente, grupos radicais cristãos que aceitam o criacionismo têm se difundido e conquistado até amparo legal para proibir o ensino da teoria de Darwin.

O que mudou...

Sistema Solar
Em 1992, o papa reabilitou Galileu Galilei e afirmou que sua teoria era justa.

Evolução
João Paulo II afirmou que a Teoria da Evolução, de Charles Darwin, era "mais que uma hipótese", o que na prática significa a aceitação da teoria pela Igreja.

...e o que não mudou

Anticoncepcionais
Sexo ainda é uma questão de reprodução para a Igreja Católica, e evitar a concepção, de qualquer maneira, é pecado.

Células-tronco
As pesquisas com células-tronco foram chamadas por João Paulo II de "cultura da morte", junto com as práticas de aborto e eutanásia


De soldado a pontífice



Uma breve biografia do novo Papa Bento XVI

AFP

1927

Em 16 de abril, Joseph Ratzinger nasce na Bavária, o mais católico e conservador dos Estados alemães
1939
Entra para o seminário, visando tornar-se padre
1943
Aos 16 anos pára os estudos e se alista no exército alemão, onde serve numa unidade antiaérea
1945
Deserta de sua unidade. É aprisionado pelo exército americano por algumas semanas. Ao ser solto, retorna ao seminário
1951
Joseph e seu irmão, Georg, são ordenados padres. Joseph se torna professor de teologia
1962-1965
Durante o concílio Vaticano II ele ganha reputação como um teólogo liberal
1968
Perturbado pelo caráter marxista e ateísta da onda de protestos que varre a Europa, muda-se para a conservadora Universidade de Regensburg
1981
É nomeado pelo papa João Paulo II para liderar a Congregação para a Doutrina da Fé, órgão guardião da ortodoxia. Será um colaborador próximo do Papa durante todo o pontificado
2005
Desperta admiração ao proferir um sermão comovente em 8 de abril, durante os funerais de João Paulo II
2005
Em 19 de abril é escolhido papa, e adota o nome de Bento XVI

Revista Galileu

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