segunda-feira, 21 de março de 2011

Mula-Sem-Cabeça


Castigo da mulher do padre

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Nas noites de quinta para sexta-feira, uma jovem mulher se transforma na fantástica mula-sem-cabeça, de cujas narinas jorram labaredas incandescentes. Ela está condenada a essa maldição por ter seduzido e se relacionado com um padre, sacerdote católico que fez voto de castidade. Assim a transformação é um castigo pelo pecado cometido por ela.

Esse mito do folclore brasileiro tem origem na península Ibérica e foi trazido pelos colonizadores portugueses para o Brasil, onde se espalhou no imaginário popular. A versão mais comum é justamente a de uma mulher que manteve relações com um padre e que, amaldiçoada por isso, passa a transformar-se em uma mula-sem-cabeça e galopar por diversos povoados, espalhando terror por onde passa. Pela manhã é encontrada chorando, arrependida, já em sua forma humana, nua, e sem recordar-se do terror que espalhou.

"A violência do galope e a estridência do relincho são ouvidas ao longe. Às vezes, soluça como uma criatura humana" conta o folclorista Luís da Câmara Cascudo, em seu "Dicionário de Folclore Brasileiro". Segundo ele, a tradição comum mostra que esse castigo acompanha a amante do padre durante o período que dura o relacionamento dos dois. Ainda segundo o folclorista, há versões que misturam essa lenda com a do lobisomem e dizem que a transformação só ocorre em noites de lua cheia.

As lendas dizem que, se alguém tiver coragem de domar a mula-sem-cabeça e conseguir montá-la a pelo, basta lhe tirar o freio que ela volta à forma humana. Enquanto o cavaleiro permanecer nas mesmas redondezas, ela não vai voltar a se transformar-se. Outras variantes dizem que ela se livra do encantamento, se o padre que foi seu amante renegá-la e amaldiçoá-la sete vezes antes de celebrar a missa.

Um dos elementos mais interessantes do mito é o fato de que as versões dão conta de que a mula, apesar de não ter cabeça, solta fogo pelas "ventas", isto é, pelas narinas. Trata-se de um paradoxo, de um absurdo, pois quem não tem cabeça não tem narinas. Naturalmente, isso reforça o caráter extraordinário ou sobrenatural da personagem.

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