domingo, 5 de dezembro de 2010

Foi o mais modesto dos grandes homens...

ANÍSIO SPÍNOLA TEIXEIRA

“Dos grandes homens, o que menos desejou para si e o mais ambicioso em relação ao Brasil e ao brasileiro”

{julho de 2002}

A definição é de Jorge Amado, sobre o homem que cumpriu a profecia de seus mestres: exercer papel histórico na educação brasileira.

Anísio Teixeira

Anísio Teixeira

O baiano Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caitité, a 12 de julho de 1900. Pai médico e fazendeiro, político influente. Mãe católica, filha de família tradicional. Anísio estudou em colégios jesuítas. Teve educação humanista, religiosa e científica. Floresceu a vocação.
O pai o quer político. Anísio vai estudar ciências jurídicas e sociais. Forma-se em 1922, no Rio.
Na Bahia, como inspetor geral de ensino no governo Góes Calmon (1924-1928), Anísio Teixeira fez reforma que regeu por bastante tempo a educação baiana. Mais tarde, criou o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, experiência pioneira de educação primária integral, para formar crianças e adolescentes pobres, com oito horas diárias de atividades.
Da Bahia, Anísio viaja à Europa e Estados Unidos. Estuda no Teachers College, Nova York, onde conhece o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952), cujas idéias incluirá na sua pregação em favor da modernização educacional brasileira.

Defesa de princípios
No Rio, secretário de Educação no governo Pedro Ernesto (1931-1935), realiza o mais completo empreendimento educacional na história do município - do pré-escolar à universidade. Dá nova dimensão aos cursos supletivos, projetando-se como educador a serviço dos ideais democráticos.
Anísio enfrentou embates à direita e à esquerda para defender seus princípios. A última ditadura por exemplo, instaurada em 1964, baniu-o de suas atividades, enquanto a esquerda o apontava como direitista.
Em 1935, Anísio fundou a Universidade do Distrito Federal. Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Villa-Lobos formavam os quadros da UDF, que mudou o ensino superior brasileiro. A Igreja viu na nova instituição um foco comunista. A UDF foi fechada em 1939, durante o Estado Novo de Getúlio.
Anísio foi ser empresário. Trabalhou com os irmãos na exploração de manganês. Só voltou à vida pública como secretário da Unesco, em 1946.

Democrático e igualitário
De 1952 a 1964, Anísio liderou a Campanha em Defesa da Escola Pública, durante o debate em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e da disputa escola públicaversus escola particular. Anísio se empenhou na construção de um sistema público, mais democrático e igualitário por eliminar ou reduzir as diferenças de classe, poder econômico, crença ou etnia.
Com a mudança da capital para Brasília, Anísio e Darcy Ribeiro idealizam a Universidade de Brasília (UnB), fundada em 1961. Anísio assumiu a reitoria. Com o golpe militar, recomeçaram as perseguições. Anísio foi afastado.

O mais ambicioso
Educação é um Direito (1968), Educação Não é Privilégio (1957), Educação para a Democracia (1936), Educação e a Crise Brasileira (1956): livros de Anísio que demonstram sua crença na humanidade. Amigos o pressionaram a candidatar-se à Academia Brasileira de Letras. Resistiu, mas aceitou. Repentinamente sumiu, em março de 1971; foi encontrado morto no poço de um elevador. Jorge Amado publicou em A Tarde, de Salvador, comovido depoimento:
Foi o mais modesto dos grandes homens, o mais simples, o que menos desejou para si próprio. O mais ambicioso, porém, em relação ao Brasil e ao brasileiro. Ninguém como ele era tão capaz de acreditar e confiar nos demais, de ver e revelar as qualidades de cada um e de valorizá-las, de conseguir estabelecer a confiança e descobrir valores.

Da redação
Almanaque Brasil

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