quinta-feira, 28 de outubro de 2010

HERÓDOTO & TUCÍDIDES – MITO E MITOLOGIA


André Haggstron
Mestrando PPG História – UFRGS. Professor da Rede Pública Estadual. haggstron@yahoo.com.br

Encontram-se nas obras de Heródoto e Tucídides apenas poucas menções aos conceitos de mito e mitologia. Porém, suficientes para alimentar as querelas entre os historiadores da antiguidade clássica, desde o nascimento do gênero histórico, mormente atribuído a Heródoto por Cícero (CÍCERO, 1967: 24).
Em Heródoto, encontramos menção ao conceito de mito (mythos) em duas ocasiões apenas, nos nove livros de suas Histórias, ambas as duas nas narrativas sobre o Egito. E para auxiliar na interpretação do que ele queria dizer com “mito”, utilizava-se de palavras de um vocabulário específico, que pudessem esclarecer sua narrativa. Assim como nos apresenta Marcel Detienne:

“A palavra mito é empregada duas vezes nos nove livros do rapsodo viajante a quem os historiadores mais convictos atribuem, hoje como outrora, a paternidade de seu saber, imputando à prática etnográfica as histórias estranhas ou os contos maravilhosos apontados por colegas mais austeros, mas não menos reverentes ao Pai da História” (DETIENNE, 1998: 97).

A primeira utilização de Heródoto do termo mito se dá a respeito das fontes do Rio Nilo e de suas inundações. Heródoto busca indagar dos sacerdotes egípcios algumas informações sobre as nascentes e a formação do Nilo, porém, não consegue informação alguma quanto a este assunto, nem com os sacerdotes, nem com outros habitantes do país.
Então, Heródoto busca entre os próprios gregos “pessoas que, procurando adquirir nomeada pela ostentação de sabedoria2” apresentam três opiniões sobre os movimentos das águas do Nilo. Duas delas, segundo Heródoto, “nem merecem discussão, limito-me apenas a indicá-las3”. A primeira versão tenta explicar as cheias do Nilo através dos “ventos estivais”, que desviariam as águas do Nilo, impedindo-as de irem em direção ao mar, ocasionando então a cheia. A segunda versão “é ainda mais absurda, embora, a bem dizer, encerre qualquer coisa de maravilhoso 4”. Nela, a explicação de que a Terra estaria envolta pelo mar Oceano, e que o Nilo estaria sujeito às enchentes porque vem do Oceano.
Heródoto deixa claro que não concorda com essas versões. Para ele, essas explicações a respeito das cheias do Nilo “recorrem a uma fábula (mythos) obscura e não merecem ser refutados”, e conclui seu pensamento:
“Por mim, não conheço rio algum que se possa denominar Oceano, e penso que Homero ou algum outro poeta mais antigo, tendo inventado esse nome, introduziu-o na poesia”. (HERÓDOTO, II, 23)
O fabuloso (mítico) era normalmente relacionado com poesia, com o que não pode ser visto, investigado e (com)provado. Heródoto buscava formular sua compreensão dos fatos, tentando interpretar os mesmos de maneira crítica. Como afirma Hartog:
“Como reconhecer e rejeitar um mythos? Usando uma noção de eikós (plausível, provável) como ferramenta crítica, de modo geral, o termo eikós ajudava a escolher entre diferentes versões propostas e proporcionava um meio de organizar a lógica da narrativa”. (HARTOG, 2003: 37)
Em Heródoto, as fronteiras dos termos mythos e lógos não estavam totalmente delimitadas. Compreende-se em suas Histórias a utilização da lógos como narrativa, em oposição a mythos (fábula, mentira, discurso enganoso), ao mesmo tempo em que, ao criticar Hecateu de Mileto, autor das Genealogias, chamando-o de logopoiós (fazedor de lógos), que assim abrira seu proêmio:
“Assim fala (mytheitai) Hecateu de Mileto: escrevo isso como me parece ser verdadeiro; pois os relatos (lógoi) dos gregos são, como me parecem, muitos e ridículos”. (HARTOG, 2003: 41)
Ao utilizar o termo logopoiós para criticar Hecateu, assim como o fez também com Esopo5, entitulando-os de fazedores de mitos, podemos notar como era instável em Heródoto a divisão entre os dois termos – mythos e lógos – e que a utilização dos mesmos dependia muito da situação e do contexto ao qual o historiador viajante referia-se.
A segunda menção ao mythos em Heródoto está inserida na discussão a respeito da estada de Hércules em terras egípcias.
“Os gregos manifestam também muitos propósitos inconsiderados, entre os quais a fábula (mythos)6 ridícula que forjaram sobre o deus. Hércules, dizem eles, tendo chegado ao Egito, os egípcios lhe puseram uma coroa à cabeça e o conduziram com grande pompa ao templo, revelando a intenção de imolá-lo a Júpiter. O herói permaneceu, a princípio, tranqüilo, mas perto do altar, quando os sacerdotes começaram o sacrifício, reuniu as forças e matou-os a todos. Os gregos dão a entender com essa história, não terem o menor conhecimento do caráter dos egípcios e de suas leis. Como na verdade podemos supor que um povo ao qual não é permitido sacrificar outros animais que não porcos, bois e bezerros, contanto que sejam puros, decida-se a sacrificar homens? Por outro lado, é verossímil que Hércules, que então não passava de um simples mortal, como eles próprios dizem, tenha podido matar tantos homens ali reunidos? Como quer que seja, peço aos deuses e aos heróis que interpretem pelo lado melhor o que acabo de dizer sobre esse assunto”. (HERÓDOTO, II, 45)
Segundo suas concepções, esse lógos a respeito da estada de Hércules no Egito não tem o mínimo fundamento, e não passa de “uma fábula ridícula”, pois, Heródoto busca compreender de maneira racional os acontecimentos, conjecturando através de indícios, refutando o que não é plausível ou provável. Em suas investigações, Heródoto mostra-se primeiramente preocupado em não deixar que as memórias dos traços e das atividades humanas se perdessem no tempo, ou que se tornassem privados de fama ou glória (kléos).
Como por ele indicado na abertura de suas Histórias:
“Ao escrever a sua História, Heródoto de Halicarnasso teve em mira evitar que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que as grandes e maravilhosas explorações dos Gregos, assim como as dos Bárbaros, permanecessem sem fama7; desejava ainda, sobretudo, expor os motivos que os levaram a fazer guerra uns contra os outros” (HERÓDOTO, I, 1).
Visão essa, diferente das atribuições dos aedos e seus cantos, que “inspirados pelas musas, viam como a Musa, como se ele também tivesse estado presente8”, glorificavam os heróis e deuses do Olimpo cantando e contando suas narrativas, celebrando os grandes feitos dos homens, para que eles se perpetuem na memória.
Em sua obra O mundo de Ulisses, M. I. Finley aborda o papel desempenhado pelos aedos e por outros especialistas da memória na cultura grega. Para Finley, a epopéia homérica apresenta uma sociedade palaciana onde as transformações aconteciam em abundância, entre os séculos X e IX a. C., porém, onde o pensamento mítico ainda era o pensamento comum. Ainda sobre Homero, Finley esclarece:
“Homero, é essencial recordá-lo, não era precisamente um poeta; ele era um contador de mitos e de lendas. A elaboração de uma mitologia tinha evidentemente começado bem mais cedo entre os gregos; jamais ela tinha cessado onde quer que houvesse gregos, sempre oral e solenemente. Tratava-se de uma atividade social de alto nível e não do devaneio fortuito de um poeta ou do excesso de um camponês”. (FINLEY, 1972: 24)
As obras de Homero, a Ilíada e a Odisséia estão “no limite entre a plena maturidade da mitologia [...] e a idade rigorosa da crítica inaugurada por Heródoto, herói fundador da História (DETIENNE, 1998: 52). E encontra-se justamente nestas obras “o primeiro estágio na história do controle que a Grécia impôs a seus mitos”. (FINLEY, 1972: 29)
Em Heródoto, já encontramos em seu método críticas ao mythos, ao maravilhoso e a tudo o que lhe parece inverossímil. Em todos os sentidos, ele busca de alguma maneira, satisfazer sua curiosidade e, compreender e interpretar as informações que coleta em suas viagens. Nas inúmeras vezes onde o rapsodo viajante encontra informações diferentes sobre um mesmo evento, ele estabelece seus princípios de investigação (historíe). Sobre os métodos de investigação em Heródoto, citamos a obra de Cynthia Morais9:
“Seu método é, portanto, deduzir fatos implícitos nas informações disponíveis, o que, para Detienne constitui um ‘manifesto racionalista em todos os sentidos da palavra, pois os diversos métodos que ele instaura implicam ao mesmo tempo rigor crítico, dedução lógica e, até, o estabelecimento de grandes princípios gerais que permitam a comparação analógica’” (MORAIS, 2004: 41).
A escrita de Heródoto está situada no período de transição entre o mythos e o lógos.
Os resquícios de mythos em Heródoto podem ser compreendidos pelo momento histórico (aproximadamente, entre 480/420 a.C.) de efervescência cultural e pela mentalidade grega do século V. Então, é dentro texto contexto que devemos pensar na obra de Heródoto.
Quais foram então, as mudanças ocorridas no imaginário grego do século V?
Podemos tentar responder a pergunta, inicialmente, atribuindo essa mudança de mentalidade às primeiras manifestações de um pensamento racional, vindo das terras da Ásia Menor, com Tales de Mileto, assim como as influências do Oriente (Egípcios, babilônios, persas), porém, sem esquecermos da influência advinda da poesia, que “exerceu nos gregos um grande papel educador” (MORAIS, 2004: 21).
O mito em Heródoto, é um resquício, uma herança do passado grego que ainda mantinha-se viva no imaginário social dos helenos. Marcel Detienne apresenta seu ponto de vista:
“[...] nas investigações de Heródoto, o mito também não é um objeto; é apenas um simples resto, às vezes rumor excitado, palavra de ilusão, sedução enganadora, às vezes narrativa incrível, discurso absurdo, opinião sem fundamento. O mito permanece apenas uma palavra, como um gesto apontando o que ele denuncia como incrível, o que ele repele ou descarta10”. (DETIENNE, 1998: 101-102)
Finley perguntaria: “Que outra coisa poderia ter feito Heródoto? Uma herança ancestral de lendas e de mitos sagrados e profanos11 era tudo o que constituía os princípios da história grega” (FINLEY, 1972: 27). Através dos poemas de Homero, os gregos, incluindo Heródoto, tomavam conhecimento de seu passado mítico, de sua história.
O mito, então, encontra seu “teórico mais intransigente12” no final do V século. Podemos dizer que não somente o mito, mas também Heródoto encontra seu crítico mais intransigente. Como nos esclarece Detienne:
“[...] o ‘mito’ encontra seu teórico mais intransigente no finalzinho do século V. Isto se dá além das avaliações de Heródoto e da honestidade dos logógrafos eruditos: na autonomia afirmada do saber histórico, com Tucídides e a Guerra do Peloponeso” (DETIENNE, 1998:.102).
Com Tucídides, o mito sofre uma serie de ataques, e é deixado em suspensão qualquer tipo de pensamento que possa estar, de uma forma ou de outra, “em conluio com o que se chama mitoso (mythodes)13”. Porém, quando se parte para a análise semântica da utilização da palavra mito e suas variáveis na obra de Tucídides, encontramos o mesmo número reduzido já percebido nas Histórias de Heródoto de Halicarnasso.
É lá na chamada Arqueologia de Tucídides, onde encontra-se as posições do historiador ateniense em relação ao mito, mais exatamente, entre os capítulos 20 e 22 do livro I, quando apresenta sua metodologia de pesquisa:
“A luz da evidência apresentada até agora, todavia, ninguém erraria se mantivesse o ponto de vista de que os fatos na antigüidade foram muito próximos de como descrevi, não dando muito crédito, de um lado, às versões que os poetas cantaram, adornando e amplificando os seus temas, e de outro considerando que os logógrafos compuseram as suas obras mais com a intenção de agradar aos ouvidos que de dizer a verdade uma vez que suas estórias não podem ser verificadas, e eles em sua maioria enveredaram, com o passar do tempo, para a região da fábula (mythos) , perdendo, assim, a credibilidade (apístos)” (TUCÍDIDES, I, 21)14.
Ainda esclarece seus princípios narrativos – que nós modernos, entendemos tradicionalmente por metodológicos15 – e adverte que a falta do fabuloso em seu texto possa ser menos agradável “ao ouvido” do que as antigas histórias de poetas e logógrafos, que adornavam e amplificavam suas narrativas:
“Pode acontecer que a ausência do fabuloso (mythodes) em minha narrativa pareça menos agradável ao ouvido, mas quem quer que deseje ter uma idéia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em conseqüência de seu conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida apenas no momento da competição por algum prêmio” (TUCÍDIDES, I, 22)16.
Porém podemos discutir qual sentido de mito ou mítico era compreendido pelo ateniense Tucídides. Segundo o professor Anderson Zalewski Vargas:
“Não há como ter certeza. Podemos supor que é um fato com elementos tais que faz dele inconfiável. Como Tucídides criticava poetas e logógrafos, certamente eram da esfera do mito a maioria (ta pollà) – não todos – dos fatos relatados por ambos17”. (VARGAS, 2002: 02)
Ainda pode-se perceber que as noções de mito ou fábula, assim como em Heródoto – que foi amplamente criticado por Tucídides – não receberam “definições estritas e claras18” por parte do historiador ateniense.
Por que alguém que criticava tanto a fábula e o fabuloso (mythos e mythodes) , os poetas e logógrafos e a “aversão de certos homens pela pesquisa meticulosa da verdade” (TUCÍDIDES, I, 20), ainda preserva em sua narrativa muitas das “estórias tradicionais”?
Segundo Vargas:
“Ele apenas depura esses fatos preservados por poetas, logógrafos e pela memória dos gregos comuns, dos elementos que julgava improváveis – a(s) interferências de deuses na guerra contra os troianos, por exemplo” (VARGAS, 2002: 03).
Na apresentação de sua obra Mithistória, Francisco Murari Pires nos apresenta outra resposta interessante ao questionamento anteriormente proposto. Segundo o autor:
“Tucídides [...] pretendia inaugurar a história opondo-se à poesia épica, especialmente homérica, pela recusa do primado do mito de que ele agora denunciava as limitações de um deficiente (des)apego à verdade dos fatos. Todavia, prisioneiro de seu tempo, instruído por suas categorias e padrões de pensamento, sua obra fora vitimada por verdadeira peripécia irônica afim dos destinos trágicos, pois Tucídides, insciente mas inexoravelmente, acabou por conformar as preposições de sua história no e pelo quadro do pensamento mítico [...]19” (MURARI PIRES, 2006: 9).
Seguindo este raciocício, podemos encontrar os resquícios dos poemas homéricos no discurso narrativo tucidideano, pois já na abertura de sua obra, os nexos com a poesia épica estão presentes:
“O ateniense Tucídides escreveu a história da guerra entre peloponésios e os atenienses, começando desde os primeiros sinais, na expectativa de que ela seria grande e mais importante que todas as anteriores, pois via que ambas as partes estavam preparadas em
todos os sentidos; além disto, observava os demais helenos aderindo a um lado ou ao outro, uns imediatamente, os restantes pensando em fazê-lo. Com efeito, tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos, estendendo-se também a alguns povos bárbaros – a bem dizer à maior parte da humanidade” (TUCÍDIDES, I, 1)
Notamos que a guerra – é o mesmo tema privilegiado da narrativa da história, tanto em Homero e Heródoto – quanto em Tucídides. Outro resquício herdado, parte da “herança ancestral” da história dos antigos gregos. Como corrobora Murari Pires: “[...] também o privilegiamento da guerra como campo temático especial da narrativa, a história herda da tradição épica” (MURARI PIRES, 2006: 152).
Tucídides tinha por preocupação registrar a guerra entre atenienses e peloponésios, pois ela seria “grande e mais importante que todas as anteriores”, e “tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos”, além de estender-se a “alguns povos bárbaros – a bem dizer à maior parte da humanidade” (TUCÍDIDES, I, 1). E ao escrever sua obra, pensava-a como um “patrimônio sempre útil” (ktema es aiei):
“[...] mas quem quer que deseje ter uma idéia clara tanto dos eventos ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em circunstâncias idênticas ou semelhantes em conseqüência de seu conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará. Na verdade, ela foi feita para ser um patrimônio sempre útil, e não uma composição a ser ouvida apenas no momento da competição por algum prêmio20”. (TUCÍDIDES, I, 22).
Sua história teria a utilidade de lembrar os homens, ser memória escrita, uma aquisição a qual se poderia consultar sempre, diferentemente das “estórias dos tempos anteriores, transmitidas por tradição oral, mas muito raramente confirmadas pelos fatos, deixaram de ser incríveis [...]”. (TUCÍDIDES, I, 23).
Tucídides marca este distanciamento entre a tradição oral (akoé), tradição memorial e o escrito. Pois é a memória falível, como afirma Detienne, “ela não apenas apresenta lacunas, brancos, como é incapaz de relatar com exatidão os discursos ouvidos uma vez” (DETIENNE, 1998: 105).
Tucídides ainda proclama novo reclamo contra a tradição memorial, pois o “mítico” é a obra-prima de artesãos elaborada justamente para encantar auditórios diferentes.
Detienne compreende que com o discurso narrativo tucidiano é completada a transição entre a oralidade e a escrita:
“Com Tucídides completa-se a partilha: de um lado, a tradição que se reflete até nas récitas públicas e nas declamações do fim do século V; de outro, a escrita, segura de si mesma, recusando o prazer e o maravilhoso, e querendo se dirigir somente a um leitor silencioso e isolado” (DETIENNE, 2008: 43).
Em conclusão, Tucídides rejeita a tradição oral, a tradição da memória, pois acredita não ser possível buscar a verdade dos fatos em narrativas baseada na falha memória humana e nas interpretações de “homens que tem aversão pela pesquisa meticulosa da verdade, e tão grande é a predisposição para valer-se apenas do que está ao alcance da mão” (TUCÍDIDES, I, 20). Pois de acordo com o pensamento de Vernant:
“Memória, oralidade e tradição: são essas as condições de existência e sobrevivência do mito”. (VERNANT, 2000: 12)

Revista Alétheia

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