Gregos x Troianos, uma luta de homens e deuses
O que é verdade e o que é mito na lendária guerra de Tróia? Descobertas arqueológicas mostram o encontro da realidade com a ficção
por Carla Aranha
O mito da guerra de Tróia resiste à prova do tempo. Passam os séculos e a aventura narrada na Ilíada de Homero, um dos maiores clássicos de todos os tempos, continua a fascinar gerações, sendo considerada por muitos o ponto de partida da história da Grécia. Afinal, em meio aos escombros das muralhas troianas – localizadas numa esquina da Europa com a Ásia, na atual Turquia – estavam as sementes da civilização grega e de seus ideais de democracia e valorização do indivíduo. O conflito virou um marco na trajetória desse povo.
Mas o que o poeta grego, que teria vivido no século 8 a.C., conta na épica obra? Em primeiro lugar – é bom lembrar –, ele não presenciou o conflito. E compôs a Ilíada mais de 400 anos depois dos combates, com base em relatos orais. O resultado é um enredo de guerra, amor e morte em que até os deuses descem do Olimpo para os campos de batalha. No meio da escaramuça divina, Tróia foi varrida do planeta, por volta do ano 1200 a.C. Os gregos, liderados pela maior cidade da região, Micenas, cantaram vitória. Daí o fato de esses gregos anteriores à própria Grécia serem chamados de “micênicos”.
Segundo Homero, tudo começou com o rapto da bela Helena, esposa do rei Menelau, de Esparta. Páris, filho do soberano de Tróia, apaixonou-se por ela durante uma visita à Grécia e a levou na bagagem quando voltou para sua terra natal. Tomados pela ira, Menelau e seu irmão, Agamêmnon, rei de Micenas, arrastaram todos os conterrâneos para a briga e partiram para cima dos troianos.
Assim começou a luta. O cerco durou dez longos anos. E os gregos só conseguiram penetrar na cidade, que detinha uma posição estratégica para a navegação, na travessia entre o Mediterrâneo e o mar Negro, graças à astúcia. No relato de Homero, os micênicos construíram um gigantesco cavalo de madeira e o deixaram às portas da cidade rival. Os troianos aceitaram o presente como uma proposta de paz. Mas eles nem imaginavam que dentro da falsa oferenda estavam os melhores guerreiros inimigos, que abririam os portões de Tróia, decretando seu fim.
No final da história de Homero, a Grécia só tinha a comemorar: Tróia ficou em ruínas e Helena foi levada de volta para casa. Além disso, toda a família real troiana acabou morta, incluindo Páris, que – assim como Helena –, estava entre os seres mais belos do mundo. Era o início da civilização grega, que, mais tarde, influenciaria todo o Ocidente.
Mitos e verdades
A obra de Homero eternizou a guerra de Tróia. É óbvio, no entanto, que os versos da Ilíada não constituem um relato fiel do que aconteceu na cidade, localizada nas redondezas da atual Istambul, na Turquia. Até hoje, por exemplo, não foram encontradas evidências da existência da linda Helena ou do sedutor Páris. Por outro lado, descobertas arqueológicas indicam que, por trás da lenda, existem verdades. “Homero mistura na sua obra, como era típico da cultura grega da época, relatos históricos com narrativas míticas. Mas a história que ele conta é verossímil, apesar de ser muito difícil separar o joio do trigo”, avalia o historiador Francisco Marshall, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Já no final do século 19, pesquisas conduzidas na Turquia levaram à descoberta de Tróia. A existência da cidade estava, então, comprovada. E, recentemente, novas escavações permitiram mais revelações. “Esqueletos humanos, inscrições de cerâmica e as próprias muralhas da cidade comprovam que Tróia foi atacada diversas vezes em um curto período de tempo, vindo a sucumbir completamente”, conta o arqueólogo Manfred Korfmann, líder de uma equipe de 350 especialistas que vêm esmiuçando a região desde 1993. Segundo o arqueólogo, a descoberta de antigos muros que cercavam a cidade, além de cerâmicas que reproduzem o formato das muralhas, também indica que Tróia foi um local muito importante e um possível alvo de potências emergentes. A grandeza é reforçada em escritos do Império Hitita, importante civilização que habitou a Anatólia. De acordo com os registros, troianos e hititas tinham uma estreita relação.
Professor da Universidade de Tübingen, na Alemanha, Korfmann também sai em defesa de Homero. Segundo ele, o poeta grego descreveu corretamente a geografia local. “Não existe nenhum registro arqueológico que contradiga a percepção de que Tróia e a região ao redor da cidade formaram o cenário histórico da Ilíada”, diz o arqueólogo. “Hoje tudo sugere que o poeta deve ser levado a sério. Seu relato do conflito militar entre gregos e troianos é baseado na memória histórica dos eventos”, acredita.
Revista Aventuras na História
Uma bela história que nos mostra a ganância dos homens dês dos tempos gregos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir