sábado, 28 de agosto de 2010

PARA ONDE VÃO OS TRABALHADORES?

PARA ONDE VÃO OS TRABALHADORES?

Olhar para as transformaçõesdo capitalismo é o pontode partida para o desafio deentender o desemprego

Atualmente, um fantasma ronda a vida dos trabalhadores: o desemprego. Costuma-se atribuir à tecnologia (robotização) a culpa por esse fenômeno que atinge diferentes setores em todo o planeta. Alguns estudiosos sustentam que as mudanças ocorridas no modelo de desenvolvimento produtivo e tecnológico predominante nos países capitalistas mais avançados alteram a organização do processo produtivo e da esfera do trabalho no mundo e causam o chamado desemprego estrutural. Existem, porém, outras razões de ordem social, econômica e política que explicariam melhor esse processo.
O sistema capitalista sofreu grandes transformações ao longo de sua História. Nenhuma delas, todavia, foi suficiente para alterar sua essência – um sistema produtor de mercadorias cuja venda tem o lucro como principal objetivo. E para que as empresas capitalistas produzam cada vez mais mercadorias, com maior eficiência e melhores níveis de produtividade, ganhando competitividade e aumentando suas margens de lucro, é necessário criar novas técnicas de produção e formas de organização do trabalho. Quando essas formas estão em concordância com os demais aspectos da economia e da sociedade que interferem na dinâmica das próprias empresas – tais como regras do mercado, legislação trabalhista e ambiental, redes financeiras, comércio internacional etc. –, esse modelo se estabelece hegemônico e assim permanece até o advento de uma crise, na qual o modo de produção deverá ser ajustado.

Do fordismo ao toyotismo
Após a crise de 1929, o modelo de desenvolvimento que paulatinamente passou a vigorar nos países de tecnologia mais avançada (EUA, Japão e parte da Europa) ganhou o nome de fordismo (veja o quadro “O Fordismo”), pois se baseou nos paradigmas de produção e de trabalho colocados em prática nas fábricas de automóveis do empresário Henry Ford (1863-1947), entre as décadas de 1910 e 1920. Esse modelo produtivo conheceu seu auge após a Segunda Guerra Mundial, entre 1950 e 1960, os chamados “Anos Dourados”, marcados por uma explosão do consumo, sobretudo nos Estados Unidos.
O modelo fordista, entretanto, dependia do aumento constante dos salários para manter o mercado ativo, ou seja, sustentar os níveis de produção e consumo crescentes. O aumento salarial, porém, não podia ameaçar os lucros empresariais. A manutenção dos níveis salariais e dos lucros foi obtida a partir da elevação dos preços dos produtos, o quegerou uma crise inflacionária. Nos Estados Unidos, os gastos públicos aumentaram interna e externamente (principalmente devido à guerra do Vietnã), a moeda ficou debilitada (queda do dólar no mercado internacional), e a Europa e o Japão começaram a ganhar competitividade

A saída para a crise foi investir num novo modelo que rompesse com o que se considerava rígido no fordismo. Na década de 70, a ordem passou a ser flexibilizar, golpear a rigidez nos processos de produção,
nos modos de ocupação da força de trabalho, nas garantias trabalhistas e nos mercados de massa, então saturados. Pouco a pouco se abriu espaço para um novo modelo produtivo conhecido como pós-fordismo, modelo flexível ou toyotismo.
Em busca de rentabilidade, as empresas multinacionais desconcentraram-se cada vez mais em direção aos países pobres, onde puderam aumentar seus lucros à custa de uma legislação trabalhista frágil e permissiva. Surgiram os novos países industrializados (NPIs), os mercados externos se expandiram e o capitalismo internacional se reestruturou.
Esse novo modelo flexível – baseado nas tecnologias da informação, robotização e automação – vem ameaçando os empregos, modificando as relações de trabalho e aumentando a insegurança dos trabalhadores. Os mais otimistas sustentam que a própria tecnologia estimulará o surgimento de outros setores produtivos e de novas atividades ligadas a eles, gerando, assim, novos empregos. Também há os que afirmem que o sonho dos empresários com fábricas sem operários esteja prestes a ser realizado.
Seja como for, vivemos hoje profundas transformações que se refletem no mundo do trabalho. Nos noticiáriosé comum ouvirmos sobre as demissões em massa, seja no Brasil, seja em qualquer outro país. Até nos setores secundário e terciário, cada vez mais os trabalhadores são substituídos palas máquinas. Isso nos impõe, neste início de século, o desafio de descobrir para onde irão os trabalhadores.

Fabiana Zuliani de A. Corrêa é mestre em Geografia e professora do Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo.
Revista Discutindo Geografia

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