Angelina Pina, Bernardo Soares e Mayco Rodrigues
Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir
Nosso Tempo de Carlos Drummond de Andrade
INTRODUÇÃO
A divisão do trabalho, a ampliação da produtividade e a busca desenfreada por um aumento dos lucros são características da Revolução Industrial, que se inicia no final do século XVIII. Esse processo que tem como berço a Inglaterra possibilita o desenvolvimento de novas técnicas de produção, principalmente no século XIX, alterando a sociedade até então existente, elevando a pobreza a níveis jamais vistos.
Antes da Revolução Industrial, os trabalhadores viviam uma vida melhor que a dos seus sucessores. Segundo Engels[1], estes não necessitavam trabalhar até a exaustão, faziam somente o que julgavam preciso, e apesar disto, ganhavam para cobrir suas necessidades. Apesar de viverem com humildade eles possuíam certa comodidade e autonomia que depois lhes foi arrancada, tornando-os miseráveis, segregados do restante da sociedade:
Eles estavam unidos pela crescente segregação da sociedade burguesa, cuja riqueza crescia dramaticamente enquanto a situação dos trabalhadores permanecia precária, uma burguesia que se tornava mais e mais inflexível na admissão dos que vinham de baixo.[2]
São esses homens e mulheres que irão compor uma nova classe, fruto direto da Revolução: a classe operária. Essa é a classe objeto de nosso estudo. Iremos analisar as condições de vida do operariado dentro e fora das fábricas.
A FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA
A Revolução Industrial inaugura novas formas de relação social e produtiva, e inicia o processo de criação de uma nova sociedade. Assim como afirmou Karl Marx, “O tear manual gerou a sociedade do senhor feudal, o tear a vapor, a sociedade do capitalista industrial.” Porém, não somente as fábricas e seus proprietários capitalistas são resultado deste processo. A classe operária também é gerada no bojo das mudanças inauguradas pelas novas formas de produção.
Porém ao trabalharmos com a idéia na qual a classe operária é também resultado das transformações sociais causadas pela revolução, não podemos ser simplistas e ignorar a participação ativa da mesma no processo de sua formação.
Muito já foi afirmado sobre o caráter transformador das novas formas de produção, tanto no âmbito econômico, quanto no âmbito social, ao ponto de se afirmar que tanto o aumento da produção de mercadorias quanto o surgimento do Movimento dos Trabalhadores resultam dessa característica. Pensando desta forma, a energia a vapor e as fábricas teriam dado origem à classe operária; objetos físicos teriam dado origem a novas formas de relações sociais, instituições e hábitos culturais.
O fazer-se da classe operária se deu não somente por características econômicas, mas também teve caráter cultural e político. Ela não foi resultado espontâneo do novo sistema fabril, não foi criada somente por forças externas. “A classe operária formou a si mesma tanto quanto foi formada” (E. P. Thompson).
O processo de surgimento da classe operária se dá a partir de dois elementos. Primeiro a tomada da consciência de classe, que é a identidade criada a partir dos interesses em comum entre os diversos grupos de trabalhadores contra os interesses das outras classes. E, em segundo lugar, a criação de espaços de organização e instituições de caráter político e industrial, como os sindicatos, as sociedades de auxílio mútuo, as organizações políticas, os movimentos religiosos e educativos, etc.
A “natureza verdadeiramente catastrófica da Revolução Industrial” [3], que se concretizava na exploração econômica e na opressão política, tem grande peso no processo de formação da classe operária. Essas formas de ataque ao trabalhador (exploração econômica e opressão política) estavam intimamente ligadas. O caráter da exploração se dá a partir das novas formas de relação de trabalho, que se tornam mais duras e impessoais. A opressão política por sua vez, se dava no momento que o operário tentava de alguma forma resistir às formas de exploração apresentadas anteriormente. Os principais agentes dessa eram os próprios patrões e o Estado.
A VIDA DO OPERÁRIO
A miséria não é uma realidade nova no século XIX, porém o seu tema como objeto de estudo surge neste período. Nem Victor Hugo, nem Engels são os primeiros a abordar o assunto, porém ambos em muito contribuíram para uma nova ótica sobre a pobreza.
Victor Hugo, em sua obra Os Miseráveis, procura traçar um panorama da sociedade francesa do século XIX, revelando as mazelas do povo e as degradantes situações a que eram submetidos através da vida de seus personagens.
Já Engels, para escrever seu livro A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, visita diversas “bairros de má fama” para observar de perto a situação do proletário. Todos esses bairros que visita são descritos de maneiras muito semelhante, ruas estreitas, tortuosas, sujas, a maioria sem rede de esgotos. Por algumas vezes esses bairros se encontram perto de suntuosos palácios dos ricos.
Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir
Nosso Tempo de Carlos Drummond de Andrade
INTRODUÇÃO
A divisão do trabalho, a ampliação da produtividade e a busca desenfreada por um aumento dos lucros são características da Revolução Industrial, que se inicia no final do século XVIII. Esse processo que tem como berço a Inglaterra possibilita o desenvolvimento de novas técnicas de produção, principalmente no século XIX, alterando a sociedade até então existente, elevando a pobreza a níveis jamais vistos.
Antes da Revolução Industrial, os trabalhadores viviam uma vida melhor que a dos seus sucessores. Segundo Engels[1], estes não necessitavam trabalhar até a exaustão, faziam somente o que julgavam preciso, e apesar disto, ganhavam para cobrir suas necessidades. Apesar de viverem com humildade eles possuíam certa comodidade e autonomia que depois lhes foi arrancada, tornando-os miseráveis, segregados do restante da sociedade:
Eles estavam unidos pela crescente segregação da sociedade burguesa, cuja riqueza crescia dramaticamente enquanto a situação dos trabalhadores permanecia precária, uma burguesia que se tornava mais e mais inflexível na admissão dos que vinham de baixo.[2]
São esses homens e mulheres que irão compor uma nova classe, fruto direto da Revolução: a classe operária. Essa é a classe objeto de nosso estudo. Iremos analisar as condições de vida do operariado dentro e fora das fábricas.
A FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA
A Revolução Industrial inaugura novas formas de relação social e produtiva, e inicia o processo de criação de uma nova sociedade. Assim como afirmou Karl Marx, “O tear manual gerou a sociedade do senhor feudal, o tear a vapor, a sociedade do capitalista industrial.” Porém, não somente as fábricas e seus proprietários capitalistas são resultado deste processo. A classe operária também é gerada no bojo das mudanças inauguradas pelas novas formas de produção.
Porém ao trabalharmos com a idéia na qual a classe operária é também resultado das transformações sociais causadas pela revolução, não podemos ser simplistas e ignorar a participação ativa da mesma no processo de sua formação.
Muito já foi afirmado sobre o caráter transformador das novas formas de produção, tanto no âmbito econômico, quanto no âmbito social, ao ponto de se afirmar que tanto o aumento da produção de mercadorias quanto o surgimento do Movimento dos Trabalhadores resultam dessa característica. Pensando desta forma, a energia a vapor e as fábricas teriam dado origem à classe operária; objetos físicos teriam dado origem a novas formas de relações sociais, instituições e hábitos culturais.
O fazer-se da classe operária se deu não somente por características econômicas, mas também teve caráter cultural e político. Ela não foi resultado espontâneo do novo sistema fabril, não foi criada somente por forças externas. “A classe operária formou a si mesma tanto quanto foi formada” (E. P. Thompson).
O processo de surgimento da classe operária se dá a partir de dois elementos. Primeiro a tomada da consciência de classe, que é a identidade criada a partir dos interesses em comum entre os diversos grupos de trabalhadores contra os interesses das outras classes. E, em segundo lugar, a criação de espaços de organização e instituições de caráter político e industrial, como os sindicatos, as sociedades de auxílio mútuo, as organizações políticas, os movimentos religiosos e educativos, etc.
A “natureza verdadeiramente catastrófica da Revolução Industrial” [3], que se concretizava na exploração econômica e na opressão política, tem grande peso no processo de formação da classe operária. Essas formas de ataque ao trabalhador (exploração econômica e opressão política) estavam intimamente ligadas. O caráter da exploração se dá a partir das novas formas de relação de trabalho, que se tornam mais duras e impessoais. A opressão política por sua vez, se dava no momento que o operário tentava de alguma forma resistir às formas de exploração apresentadas anteriormente. Os principais agentes dessa eram os próprios patrões e o Estado.
A VIDA DO OPERÁRIO
A miséria não é uma realidade nova no século XIX, porém o seu tema como objeto de estudo surge neste período. Nem Victor Hugo, nem Engels são os primeiros a abordar o assunto, porém ambos em muito contribuíram para uma nova ótica sobre a pobreza.
Victor Hugo, em sua obra Os Miseráveis, procura traçar um panorama da sociedade francesa do século XIX, revelando as mazelas do povo e as degradantes situações a que eram submetidos através da vida de seus personagens.
Já Engels, para escrever seu livro A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, visita diversas “bairros de má fama” para observar de perto a situação do proletário. Todos esses bairros que visita são descritos de maneiras muito semelhante, ruas estreitas, tortuosas, sujas, a maioria sem rede de esgotos. Por algumas vezes esses bairros se encontram perto de suntuosos palácios dos ricos.
Cena do filme Germinal, que ilustra um bairro pobre do século XIX[4]
As habitações são descritas como sendo úmidas e frias, as pessoas que ali viviam estavam em condições subumanas, não tinham quase nenhum móvel, os que o tinham sempre vendiam em busca de dinheiro ou o usavam para aquecimento. A personagem Fantine, do livro de Victor Hugo é um bom exemplo disso, ela é personificação da miséria. No início do livro é descrita como uma mulher linda, jovem, “loura e de lindos dentes”. “Como dote possuía ouro e pérola; ouro sobre a cabeça e pérolas na boca”[5]. Sempre muito alegre e dotada de pudor. Porém o autor desconstrói toda essa imagem na medida em que ela vai se tornando miserável. Desempregada e com uma filha pra sustentar, Fantine passa pelas situações mais humilhantes possíveis, se submetendo a trabalhos extremamente penosos e mal remunerados, que não lhe possibilitam pagar suas dívidas, a fazendo vender os poucos móveis que tinha. Já quase sem nenhum bem para vender, decide vender seus cabelos e posteriormente seus dentes, não tendo mais nada de resto, vende sua honra, torna-se prostituta.
“A que se reduz toda essa história de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava.
Para quem? Para a miséria.Para a fome, o frio, a solidão, o abandono, a nudez. Doloroso comércio! Uma alma por um pedaço de pão. A miséria oferece, a sociedade aceita.” [6]
Essa situação era comum a todas as grandes cidades do Reino Unido, nos relatos feitos sobre os bairros é comum todos falarem que nunca haviam visto tanta miséria antes. Ao analisar as condições de vida dos trabalhadores num bairro de Glasgow, o inspetor do governo diz:
(...) não acreditava que em qualquer país civilizado pudesse existir tanta monstruosidade, tanto pauperismo e tantas doenças.(...) Esses alojamentos [albergues] são geralmente tão sujos, úmidos e arruinados que ninguém gostaria de ter ali seu cavalo.[7]
As edificações eram feitas de maneira caótica, sem nenhum planejamento urbanístico, as casas eram construídas de maneira desordenada, empilhadas umas sobre as outras até não restar mais um centímetro livre entre as edificações antigas. “A estrutura urbana é um desafio a qualquer principio de ventilação, salubridade e higiene.”[8]
A sociedade industrial comete o que Engels chama de assassinato social, já que coloca os operários numa situação a qual não poderiam sobreviver por muito tempo.
“[...] Ela [a sociedade moderna] os atrai[trabalhadores] para as grandes cidades, onde respiram uma atmosfera muito pior que em sua terra natal. Põe-nos em bairros cuja construção torna a circulação do ar muito mais difícil que em qualquer outro local.”[9]
O alcoolismo também era um problema freqüente nessa sociedade, mas não devemos pura e simplesmente censurá-lo, pois nesse contexto, as condições que o prescindem (falta de informação, falta de perspectiva de vida, miséria) fazem com que ele deixe de ser um vício unicamente de responsabilidade individual.
Além das péssimas condições físicas, os trabalhadores também se encontram em péssimas condições intelectuais. Grande parte dos professores não possuía a mínima instrução para lecionar, sem contar que boa parte das crianças trabalhava, o que as impossibilitava de freqüentar a escola durante o dia, e a noite já estão exaustos de tanto trabalhar.
Furman Owen, 12 anos de idade. Não consegue ler. Não sabe o alfabeto. “Sim eu quero estudar, mas não posso porque trabalho o dia todo.[10]
Engels afirma que esta situação do ensino não poderia ser diferente, já que a burguesia tem muito mais a perder do que ganhar com o aumento da instrução do trabalhador. Afirma ainda que toda a instrução que a classe operária inglesa possui vem de sua educação prática, que substitui o fraco ensino escolar e as confusas idéias religiosas, o operário, apesar de ler e escrever mal, sabe muito bem quais são seus interesses e quais são os da burguesia.
“a burguesia inglesa é tão estúpida, tão grosseira e tão limitada por seu egoísmo que nem sequer se dá ao trabalho de inculcar nos operários a moral moderna, que ela mesma criou em seu próprio interesse e para sua defesa.”[11]
As cidades super povoadas possuem alto índice de violência. O desregramento sexual também constitui um problema na classe trabalhadora. Nas ruas de Londres contavam-se, todas as noites, cerca de 40 mil prostitutas. O que mais uma vez nos remete a personagem Fantine.
Essa ordem social por sua vez torna quase impossível ao operário a vida familiar. Como poderia ter uma boa vida em família em uma casa suja, fria, úmida, faminto, onde o homem trabalha o dia todo, assim como a mulher e talvez os filhos, e a noite há a tentação da bebida?
O OPERÁRIO EM SEU TRABALHO
Para produzir mais as fábricas necessitavam de contratar uma grande quantidade de mão de obra e encontravam o contingente que precisavam nas cidades, que passaram a receber um número cada vez maior de camponeses que vinham do campo para a cidade em busca de um sustento para si e para seus familiares.
Para que houvesse aumento de lucros era necessário que a fábrica tivesse um padrão organizacional, para que o trabalho dos operários rendesse o máximo possível. Funcionários eram designados nas fábricas com o objetivo de vigiar o restante, infligindo penas e castigos àqueles que se portassem de maneira considerada fora dos padrões de trabalho na fábrica. Até os corpos dos funcionários eram vigiados, cada movimento era controlado.
A poeira era tão densa que às vezes obscurecia a visão. Essa poeira penetrou cada reentrância do pulmão dos meninos. Um dos garotos às vezes ficava responsável por vigiar os demais espetando-os e chutando-os para que obedecessem.[12]
Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas [a partir do século XVIII] nessas técnicas. A escala, em primeiro lugar, do controle: não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica _ movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou não mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos.[13]
Foucault escreve isso ao analisar a formação de soldados a partir do século XVIII... Mas é impressionante notar como tal raciocínio cabe à nossa análise sobre as condições as quais eram submetidos os trabalhadores fabris durante o século XIX. Não só seus corpos eram vigiados e controlados, mas também seu tempo.
Criança, mulheres e homens do século XIX chegavam a trabalhar semanalmente quase duas vezes mais do que trabalhadoras e trabalhadores de nosso século XXI, ou seja, mais de 70 horas por semana!
Eu trabalhava das cinco da manhã até as nove da noite. Eu vivia a duas milhas do moinho. Nós não tínhamos relógio. Se eu chegasse atrasado ao moinho eu seria punido com descontos em meu pagamento. Eu quero dizer com isso que se chegasse quinze minutos atrasado, meia hora de meu pagamento seria retirado. Eu só ganhava um penny por hora, e eles iriam tirar metade disso.
Depoimento de Elizabeth Bentley, entrevistada por representantes do parlamento britânico em junho de 1832.
As relações anteriormente estabelecidas pelas corporações de ofício desapareceram. Geralmente o operário não mais conhece todas as etapas do processo produtivo. Ele não mais possui e domina seu meio de produção, é apenas mais uma peça na engrenagem das máquinas, é engolido por ela, como bem mostra o início do filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin. [14]
As más condições de trabalho prejudicavam a saúde dos trabalhadores e somada ao cansaço dos mesmos só poderia resultar em queda de rendimento. A solução encontrada pelos capitalistas era de contratar ainda mais funcionários, tornando o ambiente de trabalho insuportavelmente cheio e sufocante.
Eu tive freqüentes oportunidades de ver pessoas saindo das fábricas e ocasionalmente às atendi como pacientes. No último verão eu visitei três fábricas de algodão com o Dr. Clough, da cidade de Preston, e com o sr. Barker, de Manchester e nós não pudemos ficar mais do que dez minutos na fábrica sem arfar para respirar. Como é possível para aquelas pessoas que ficam lá por doze ou quinze horas agüentar essa situação? Se levarmos em conta a alta temperatura e também a contaminação do ar; é alguma coisa que me surpreende: como os trabalhadores agüentam o confinamento por tanto tempo.
Depoimento de Dr. Ward, de Manchester, entrevistado a respeito da saúde dos trabalhadores do setor têxtil em março de 1919.
No que diz respeito ás crianças, sabemos que eram colocadas para trabalhar em minas menores onde os adultos não conseguiam entrar. Nas fábricas ocupavam funções nas quais delicadeza era necessária. Suas pequenas mãos eram usadas para alcançar recantos de máquinas onde outros não conseguiriam atingir.
Pequenos meninos e meninas subiam nas máquinas de fiação para consertar fios quebrados e recarregar bobinas vazias.
Mulheres e crianças trabalhavam tanto quanto homens adultos, porém mulheres recebiam cerca de metade do que recebiam os operários do sexo masculino e as crianças recebiam cerca de um quarto do salário recebido por homens adultos.
CONCLUSÃO
A Revolução Industrial trouxe enormes avanços tecnológicos para a humanidade. Porém concomitantemente esse período foi de retrocesso para alguns. Grande parte da população dos países pioneiros (Inglaterra, Estados Unidos e França) não usufruía desses avanços tecnológicos, muito pelo contrário, vivia uma vida desgraçada. Estes só obtiveram melhorias quando se reconheceram como uma classe e se organizaram contra a opressão da qual eram vítimas, construindo espaços de organização, que se configuraram como espaços de questionamento das instituições políticas, e também da estrutura econômica e social do capitalismo. Estes espaços são um dos maiores legados deixados por esses trabalhadores.
CRONOLOGIA
1711 – Invenção da primeira máquina a vapor por Thomas Newcomen.
1764 - Invenção da fiandeira mecânica (spinning jenny) por James Hargreaves.
1785 - Invenção do tear mecânico por Edmund Cartwrigt.
1825 - Invenção do tear mecânico movido a vapor por Richard Roberts.
1844 - É fundando o primeiro sindicato operário na Alemanha1845 – Engels escreve A situação da classe trabalhadora na Inglaterra
1848 – Publicação de O manifesto comunista.
1852 – Proibido o trabalho para menos de 12 anos na Prússia.
1857 - No dia 8 de março, em uma fábrica têxtil, em Nova Iorque, 129 operárias morrem queimadas numa ação policial porque reivindicaram a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias e o direito à licença maternidade. Mais tarde foi instituído o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, em homenagem a essas mulheres.
1862 – Victor Hugo publica Os miseráveis.
1869 – Fundação do Partido Socialdemocrata alemão.
1871 - Comuna de Paris.
1886 - No dia 1º de maio, milhares de trabalhadores foram às ruas de Chicago, Estados Unidos, reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de trabalho de treze para oito horas diárias. Manifestantes morreram no confronto com a polícia. O dia 1 de março é tido como o Dia do Trabalhador em homenagem a essas mulheres e homens.
COMPLEMENTO
Além de Os Miseráveis, romance já citado em nosso trabalho, indicamos aos que se interessaram pelo tema, a leitura dos seguintes romances:
David Copperfield, de Charles Dickens
Obra ficcional publicada em 1849, em boa parte é inspirada na vida do próprio autor. Ao longo do romance, características contrastantes da sociedade londrina do século XIX são apresentadas através do olhar de David Copperfield, personagem principal, que transita por diferentes classes sociais durante o percurso de sua atribulada vida.
Tempos Difíceis, de Charles Dickens
Publicado em 1854, o próprio título já denuncia o assunto que será abordado durante a narrativa... É época de tempos difíceis na Inglaterra, e o autor se empenha em mostrar através de sua obra as dificuldades cotidianas dos trabalhadores ingleses.
O Primo Basílio, de Eça de Queirós
Esse clássico da literatura portuguesa que tantas vezes já foi leitura obrigatória em vestibulares de universidades brasileiras é uma clara crítica a sociedade burguesa de Lisboa, Portugal.
Indicamos também, além de Tempos Modernos, O garoto (The Kid) e O Germinal, o filme:
Oliver Twist
Baseado no romance de mesmo nome do escritor Charles Dickens, o filme conta a história de um garoto órfão que se junta a uma gangue de batedores de carteiras na grande Londres do século XIX. A história de Oliver provavelmente é igual a de centenas de crianças pobres dos grandes centros, que submetidos a condições extremamente miseráveis, enxergam no furto a única maneira de sobreviver, mostrando ao mesmo tempo a pobreza e a violência da sociedade em gestação. Há muitas filmagens deste filme, recomendamos a mais recente versão, de 2005 dirigido por Roman Polanski.
Vidas Marcadas
Mesmo não tento como cenário as grandes cidades da Europa, este filme nos mostra que os trabalhadores rurais não viviam em melhores condições que os urbanos. Dirigido por Bill Douglas, o filme se passa na década de 1830 e mostra o conflito entre os camponeses e fazendeiros.
A Classe Operária Vai ao Paraíso
Apesar de não se situar dentro do período abordado neste trabalho, este filme denuncia as condições de trabalhos nas fábricas fordistas. Dirigido por Elio Petri e tendo como principal ator Gian Maria Volonté, esta obra está entre as mais marcantes do cinema político italiano. Grandes questões podem ser debatidas através da análise do filme, como a condição subumana que os trabalhadores eram submetidos, tendo que cumprir as mais exigentes metas, dedicando todo seu tempo ao trabalho fabril ao invés de empregá-lo em atividades verdadeiramente produtivas.
BIBLIOGRAFIA
NEC-UFF
Excelente trabalho, caro Eduardo... farei link no próximo Leituras cruzadas.
ResponderExcluirAbraço.
Parabéns pelo blog, venho selecionando blogs temáticos que trabalhem na linha social, educacional, informativo e cultural. Sou presidente do Instituto de Pesquisa Histórica Regional (http://www.iphrpesquisa.blogspot.com/, vamos montar um banco de dados com páginas com conteúdo como a sua parabéns. Já estou te seguindo, o meu blog é: http://www.profludfuzzi.blogspot.com/
ResponderExcluirEsse seu trabalho em reviver a história é fantástico.
Olá Eduardo,
ResponderExcluirmuito obrigado pelo seu carinho.
A recíproca é verdadeira com relação ao História Viva também.Há propósito: parabéns por essa postagem e por todas as postagens aqui no maravilhoso HISTÓRIA VIVA!
Prezado Eduardo, sou professora de Língua Portuguesa e pretendo trabalhar nos próximos meses com meus alunos de 9ºano o livro "Os Miseráveis". Este texto do seu blog me ajudou muito a organizar o trabalho que farei com eles sobre a temática da injustiça social. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirCaro Eduardo,
ResponderExcluirMeu nome é Angelina Pina, sou aluna da UFF e uma das autoras do artigo "Os miseráveis do século XIX". Fico feliz em saber que o artigo escrito por mim, pelo Bernardo, e pelo Mayco tem agradado.Porém, sugiro que quando for postar artigos de outros colegas entre em contato com eles antes.
Abraço,
Angelina Pina
angelrpina@hotmail.com