sábado, 26 de junho de 2010

Vida e Morte no Cristianismo Primitivo (parte 2)

Vida e Morte no Cristianismo Primitivo
Marcos Caldas*

À medida que se fechava o cerco em relação à religião cristã, o rigorismo moral (ortopraxia) e a preocupação social aumentaram. Em termos práticos, isto significava que a leitura semanal dos profetas e da Lei[33] fazia-se tendo em vista o cotidiano mais imediato. Idéias contidas na Bíblia
acerca, por exemplo, do desrespeito por viúvas e órfãos - como em Timóteo[34] - aparecem com toda força e não se restringem apenas às camadas sociais mais desprivilegiadas, mas também a alguns setores da elite imperial. Alguns aspectos sociais de época são também ressaltados nos textos do NT, como é o caso da Escravidão. Os escravos lhes são naturais e não há qualquer tentativa de impedir a escravidão[35], pois a vida econômica dependia, ao menos no ocidente, de sua permanência[36]. No plano político, a mensagem do evangelho alcançava vagarosamente os estratos sociais mais elevados, tornando-se aos poucos uma real ameaça à política imperial[37]. Entre as personalidades de grande prestígio que abraçam a mensagem cristã nessa época podemos citar a figura singular Quintus Septimus Florens Tertullianus (160-220 d.C.). Nascido em Cartago, cidade do norte da África, Tertuliano filho de oficial romano, impressionado e entusiasmado com movimento cristão, passa a defender vigorosamente o novo credo em face à opressão religiosa estatal. Em suas obras, a ressurreição dos mortos abre caminho ao desenvolvimento das visões do além-mundo.
Nelas, o reino dos mortos ganha uma sistematização ainda não vista, de modo a assegurar aos post mortes a justa recompensa ou a severa punição.
Em seu De anima[38], uma obra que pelo menos em parte servia como resposta à doutrina platônica da alma, Tertuliano descreve de maneira clara e didática sua visão da hierarquia do além-túmulo: em primeiro lugar encontramos o Paraíso, repouso por excelência dos mártires; em segundo plano, aparece o senus (seio) de Abraão, onde os justos aguardam julgamento; em terceiro está o Hades, morada das almas perdidas. A nãopolarização absoluta entre Luz e Trevas amenizava o traço punitivo e irrevogável presentes, por exemplo, nas teologias orientais[39]. Com isso, Tertuliano conseguia enriquecer o imaginário soteriológico cristão e garantir novas e maciças filiações à nova fé. Simultaneamente, em especial no Egito e na Ásia Menor, a então nascente Igreja Oriental iniciava um movimento intelectual que, entre outras coisas, considerava os castigos infernais não como vingança divina, mas antes como sublimação dos pecados. Titus Flavius Clemens ou Clemente de Alexandria (150-215), mas principalmente Orígenes (185-252) proclamavam a função corretiva das punições. Para Orígenes, também filósofo da chamada ‘escola de Alexandria’, a salvação seria alcançada por todas as almas, até mesmo por Satã, levando-nos, ao final, à reconciliação com a verdade divina. As noções escatológicas de Orígenes insinuavam uma espécie de ciclo cósmico, em que a alma, após sua queda no pecado original, investe-se de um corpo, cuja existência é incerta e efêmera; daí sua necessidade intrínseca de ‘retorno’ às suas origens e conseqüentemente à morada divina. Através dos tempos, haveria um ‘progresso’ no processo de purificação da alma, até que, enfim, o mal seria definitivamente vencido, e todas as almas retornariam à criação, ao que ele denominou a)pokata/stasij pa/ntwn (‘apokatastasis panton’, ou ‘restauração de tudo’)[40]. Para ele, a piedade de Deus era infinita e por isso as penas impostas no mundo dos mortos jamais seriam perpétuas. As idéias de Orígenes tiveram um profundo impacto na determinação do comportamento dos crentes da igreja primitiva, uma vez que possibilitariam a remissão, em algum momento, de todos os pecadores[41]. Entre seus adeptos encontramos grandes expoentes da teologia de então como Gregório de Nazianzo (329/330-389/390) e Gregório de Nyssa (335-394).

(Cena de um martírio).

No ocidente, a incipiente teologia ocidental, muito menos voltada para as questões contemplativas e místicas, em contraste com seus problemas institucionais e políticos no mundo romano, reagiu com cautela aos ensinamentos de Orígenes. A resposta mais vigorosa veio ao tempo de Santo Agostinho, com a condenação eterna de todos os pecadores.[42]. No entanto, ao contrário do que ocorria no Oriente, onde o indivíduo era o foco das atenções, os benefícios de uma vida reta e justa recaíam sobre toda comunidade, cuja pedra fundamental era o amor cristão[43]. Não é sem razão que o chamado ‘martírio voluntário’, isto é, o oferecimento feito pelo crente de seu próprio corpo para imolação, geralmente ao poder local, tornara-se algo tão comum no oriente cristão[44]. Já no ocidente, comunidades inteiras eram vítimas das perseguições promovidas pelos respectivos governadores de províncias[45]. No entanto, as inúmeras tentativas de desbaratar o ateísmo cristão[46] mostraram-se vãs em ambos os casos e alimentaram com toda a força o cristianismo missionário a fazer a propagação universal do evangelho, agora não mais exclusivamente apenas no mundo urbano[47].

CONCLUSÃO:

O início do século IV foi marcado pela última grande perseguição aos cristãos (Diocleciano 303) e pela promulgação do edito de tolerância do imperador Galerius, caracterizando o início e o fim de uma nova era[48]. Daí para frente, o Cristianismo não era apenas tolerado, mas assumia cada vez mais, principalmente depois de Teodósio, entre 380-395, o status de religião do Estado[49]. Sua liturgia tornou-se muito mais definida, ao mesmo tempo em que a canonicidade de sua tradição fora quase totalmente fixada[50]. Nesses três primeiros séculos de história, vimos que longe de seguir um desenvolvimento coeso e unilinear, a Igreja primitiva provou, dentro e fora dela, de várias batalhas. Seu principal desafio não foram os homens, mas suas idéias. Sua principal força tampouco estava nas mãos de indivíduos, soldados ou mártires, mas em uma nova fé. O Mundo Antigo então chegava ao fim[51].



(Desenvolvimento da Cristandade até 1300 d.C.).
(Cristãos ceando – pintura de uma catacumba)
A Vida dos Primeiros Cristãos
a) Uma reunião dominical (Justinus, apologia I 67)*
Mas nós continuamos sempre após tudo nos lembrando uns aos outros (destas coisas), que se nós pudermos socorrer a todos, que têm necessidade, e estarmos sempre todos uns aos outros unidos. Para tudo aquilo que nos for ofertado, louvemos o criador de todas as coisas por intermédio de seu filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. E no dia, o qual é chamado o dia do Sol (Domingo), para todos os que habitem as cidades ou os campos que se reúnam e recitem as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas até quando for possível. Então quando o recitador tiver cessado a leitura, um representante exortará, com uma advertência e um convite, pela palavra a todos para que imitem tudo de belo do que foi dito. Depois, todos se levantam juntos e lançam votos. E como já foi dito antes (cap. 65), quando nossos votos tiverem cessado, será ofertado pão, vinho e água, e o representante da mesma maneira votos e agradecimentos, com toda força dada a ele, e o povo assentirá dizendo amém. E então tem lugar a distribuição e a troca de todas as graças a cada um e para aqueles que não estão presentes lhes será enviado pelos diáconos. E aqueles que possuem em abundância e por desejo, conforme a preferência de cada um, dê o que deseja e aquilo que for coletado será depositado junto ao representante e
ele socorrerá os órfãos e as viúvas, e aqueles que por doença ou por qualquer outro motivo são privados de algo, a aqueles que estão em cadeias e a aqueles que são estrangeiros hóspedes, numa palavra, a todos que estão em necessidade ele lhes será um protetor. Então no dia do Sol (domingo), fazemos um encontro todos juntos, pois esse é o primeiro dia em que Deus realizou uma mudança nas trevas e na matéria e fez o cosmos (o universo), e Jesus Cristo nosso salvador nesse mesmo dia surgiu dos mortos. Pois no dia antes de Cronos (antes de Sábado), o crucificaram, e no dia após Cronos, isto é, naquele que é o dia do Sol (domingo), ele apareceu aos seus apóstolos e discípulos, e os ensinou tais coisas, que nós entregamos a vós para vosso exame.
BIBLIOGRAFIA:
Fontes Primárias:
Acta Eupli, ed. H. Musurillo, The acts of the Christian martyrs. Oxford: Clarendon Press, 1972. I, 1-2.
Santo Agostinho. De civitate Dei e De doctrina christiana. (excertos). In: Boehner, Ph. e Gilson, E. – História da Filosofia Cristã – desde as origens até Nicolau de Cusa. Trad. R. Vier, O.F.M. 4ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
Apocalypsis Petri,. Bonn: ed. E. Klostermann, Apocrypha I: Reste des Petrusevangeliums, der Petrusapokalypse und des Kerygma Petri, 2nd edn. Kleine Texte 3. Bonn: Marcus & Weber, 1908.
Aristophanes – Sämtliche Komödien. Newiger, H.-J. e Seeger, L. (ed.) – Munique: Deutscher Taschenbuch, 1976.
Arnobius - Adversus gentes. Edinburg: T& T, 1871. III, 28, VII, I. Bíblia de Jerusalém – São Paulo: Paulinas, 1980.
Boecio De consolatione philosophiae. (excertos). In: Boehner, Ph. e Gilson, E. – História da Filosofia Cristã – desde as origens até Nicolau de Cusa. Trad. R. Vier, O.F.M. 4ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
Codex Theodosianus. –, Mommsen, Th. (Krüger, P e Meyer, P. M.) (ed.) - I/I, I/2, II, Berlin: ed. Hildesheim, 1990. Theodosius Magnus (CTh. 16, 1 de 380 a.C.).
(dxyh Krs - Serekh-ha-Yahad – A ordenação da Unidade) de Qumran (1QS I). Transcrição por David S. Washburn, 1997. Disponível em http://www.nyx.net/~dwashbur/1qsintro.htm. Acesso em 10.08.2004.
Oracula ed. J. Geffcken, Die Oracula Sibyllina [Die griechischen christlichen Schriftsteller 8. Leipzig: Hinrichs, 1902.
Origenes – C ontra Celsum e D e Principiis. (excertos). In: Boehner, Ph. e Gilson, E. – História da Filosofia Cristã – desde as origens até Nicolau de Cusa. Trad. R. Vier, O.F.M. 4ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
Plinio – Briefe. Kasten, H. (ed.) - Zuerich: ed Duesseldorf, 1995.
Georgios Syncellos - Ecloga Chronographica 650. Mosshammer, A. A. (ed.). Leipzig: B. G. Teubner, 1984
Tertuliano - De anima. Waszink, J. H. (ed.) Mit Uebersetzung und Kommentar. Amsterdam, 1933.
Fontes Secundárias:
1 - Afnan, R. – Zoroaster’s Influence on Anaxarogas, the Greek Tragedians, and Sokrates. New York: Philosophical Libraty, 1969.
2 - Armstrong, A. H. – Filosofia Grega e Cristianismo. In: Finley, M. I. (org) – O Legado da Grécia – uma nova avaliação. Trad. Y. V. Pinto de Almeida. Brasília: ed. UnB, 1998. pp. 381-408.
3 - Barrera, J. T. – A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã – Introdução à História da Bíblia. 2ª.ed. Trad. Pe. R. Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. pp. 284-289).
4 - Barth, H.-L. – D ie Maer vom antiken Kanon des Hippolytos – Untersuchungen zur Liturgiereform. Koeln: ed. Uma Você, 1999.
5 - Burkert, W. – Religião Grega na Época Clássica e Arcaica. Trad. M. J. Simões Loureiro. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1993. p.404.
6 - Frend, W. H. C. – El fracaso de las persecuciones en el imperio romano. In: Finley, M. I. (ed). – Estúdios Sobre Historia Antigua. Trad. R. López. Madrid: ed. Akal, 1981. pp. 289-314.
7 - Klauck, H.-J. – Religion und Gesellschaft im fruehen Christentum. Neutestamentliche Studien. Tuebingen: Mohr Siebeck, 2003. p. 193.
8 - Kuhoff, W. - FLAVIUS CLEMENS, T(itus). In: Biographisch-Bibliographisches Kirchenlexikon. Vol. XX, colunas 503-519. Traugott Bautz, 2001.
9 - Malitz, J. - Philosophie und Politik im frühen Prinzipat. In: Antikes Denken - Moderne Schule. Beiträge zu den antiken Grundlagen unseres Denkens. H.W. Schmidt e P. Wülfing (org.). (Gymnasium. fascículo. 9.). Heidelberg: Carl Winter Universitätsverlag, 1988. pp. 151 - 179.
10 - Momigliano, A. - La Religione ad Atene, Roma e Gerusalemme nel primo secolo a.C. In: Momigliano, A. – Saggi di Storia della Religione Romana – Studi e lezioni 1983-1986. Di Donato, R. (org.). Brescia: Morcelliana, 1988. pp. 27-43.
11 - Pellistrandi, St.-M. – O Cristianismo Primitivo. Col. Grandes Civilizações Desaparecidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1978
11 - Simon, M. e Benoit – Judaísmo e Cristianismo Antigo: de Antíoco Epifânio a Constantino. Trad. S.M.S. Lacerda – São Paulo: Ed. Pioneira – Edusp, 1987. pp. 311-332.
12 - De Ste. Croix, G.E.M. – Por que fueron perseguidos los primeros cristianos?. In: Finley, M. I. (ed.) – Estúdios Sobre Historia Antigua. Trad. R. López. Madrid: ed. Akal, 1981. pp. 233-273.
13 - _________________ - The Class Struggle in the Ancient World – from the Archaich Age to the Arab Conquests. Ithaca, New York: Cornell University, 1981. III, iv e IV, iii.


* Professor de História Antiga da Universidade Federal Fluminense
[1] Conforme a tradição cristã, o ato inaugural da primeira comunidade tem lugar logo após os Pentecostes (cf. At. 2, 1 sqq.), quando ocorre o arrependimento, o batismo e a partilha dos bens dos neoconvertidos (At. 2, 42 sqq.).
[2] Todas as datas são depois de Cristo, salvo indicação contrária
[3] Ambas as datas, do ponto de vista histórico, são questionáveis. Em realidade, a maior parte dos autores prefere tratar o ‘cristianismo primitivo’ a partir do período do apóstolo Paulo, principalmente após a composição das epístolas paulinas aos thessalonicenses (ca. 51). (Cf. as datas em Barrera, J. T. – A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã – Introdução à História da Bíblia. 2ª.ed. Trad. Pe. R. Mincato. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. pp. 284-289).
Da mesma forma, grande parte dos especialistas ainda discute a data da presumida conversão de Constantino. Na maioria dos casos, todos estão concordes de que em algum momento Constantino I realmente se convertera, resta pois saber em que data (312, 324 ou 325 e 337). Cf. Simon, M. e Benoit – Judaísmo e Cristianismo Antigo: de Antíoco Epifânio a Constantino. Trad. S.M.S. Lacerda – São Paulo: Ed. Pioneira – Edusp, 1987. pp. 311-332.
[4] Com Theodosius Magnus (CTh. 16, 1 de 380 a.C.).
[5] Aos olhos romanos uma ‘superstitio’ (superstição) (cf. a famosa carta no. 96 do livro X de Plínio, o Jovem, ao Imperador Trajano)
[6] Gl 4, 3 sq.
[7] Um esboço desse princípio já é encontrado na chamada (dxyh Krs - Serekh-ha-Yahad – A ordenação da Unidade) de Qumran (1QS I). Transcrição por David S. Washburn, 1997. Disponível em http://www.nyx.net/~dwashbur/1qsintro.htm. Acesso em 10.08.2004. (1QS I, passim). (Compare também com Lv 19, 18).
[8] Simon, M. e Benoit, A. – op.cit.pp. 147-161
[9] Simon, M. e Benoit, A. - op.cit. pp. 177-180.
[10] Barrera, J. T – op.cit. pp. 272-302.
[11] Klauck, H.-J. – Religion und Gesellschaft im fruehen Christentum. Neutestamentliche Studien. Tuebingen: Mohr Siebeck, 2003. p. 193.
[12] O caso do sumo-sacerdote Jasão pode ser interpretado nesse sentido (2 Mc 4).
[13] Burkert, W. – Religião Grega na Época Clássica e Arcaica. Trad. M. J. Simões Loureiro. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1993. p.404.
[14] Burkert, W. – op.cit. p.403.
[15] Esse pensamento foi especialmente representativo em estóico como Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca (1-65 d.C.), e posteriormente em Boécio (480-524 ).
[16] Pensamento esse desenvolvido plenamente por Boécio (470-525) em De consolatione philosophiae
[17] Para isso confira as importantes informações em Malitz, J. - Philosophie und Politik im frühen Prinzipat. In: Antikes Denken - Moderne Schule. Beiträge zu den antiken Grundlagen unseres Denkens. H.W. Schmidt e P. Wülfing (org.). (Gymnasium. fascículo. 9.). Heidelberg: Carl Winter Universitätsverlag, 1988. pp. 151 - 179.
[18] As idéias equivalentes à consolatio romana são, tanto no mundo grego, quanto na Palestina helenizada, de pi/stij e e)lpi/j (pistis e elpis) - fé e esperança, respectivamente - ainda que, como ressalta A. Momigliano a popularidade dessas duas noções entre os judeus de Jerusalém seja bastante questionável (pp. 32-33). Cf. Momigliano, A. - La Religione ad Atene, Roma e Gerusalemme nel primo secolo a.C. In: Momigliano, A. – Saggi di Storia della Religione Romana – Studi e lezioni 1983-1986. Di Donato, R. (org.). Brescia: Morcelliana, 1988. pp. 27-43.
[19]1Cor. 15, 12 e passim.
[20]Aproximando-o das ‘religiões de mistério’ gregas. Cf. Armstrong, A. H. – Filosofia Grega e Cristianismo. In: Finley, M. I. (org) – O Legado da Grécia – uma nova avaliação. Trad. Y. V. Pinto de Almeida. Brasília: ed. UnB, 1998. pp. 381-408.
[21] 2 Cor. 5, 10.
[22] Rm. 2, 5 e 2 Cor. 5, 10: “Por quanto todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (Trad. Bíblia de Jerusalém – São Paulo: Paulinas, 1980.
[23] Rm 1, 28-32 e Gl. 5, 19-21: “Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus.” (Trad. A Bíblia de Jerusalém).
[24] Rm 2 e 3.
[25] Ap 1, 18.
[26] Por exemplo em Mt 16, 18 ou Ap. 20.
[27] Aristoph. Aves – 693-702.
[28]Lc. 16.19-31. Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico (mas ninguém lho dava). E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado (Vulg. Foi sepultado no Inferno). Na mansão dos mortos (Hades), em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seus seios (o(r#= to\n A)
braa/m a)po/ makro/qen kai\ La/zaron e)n toi=j ko/lpoi au)tou=). Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama’. Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quisessem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós’.
Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este tormento’.
Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’. (Trad. A Bíblia de Jerusalém).
[29] Mt. 25, 31-46.
[30] Cf. por exemplo o chamado ‘Apocalipse de Pedro’, manuscrito provavelmente composto no Egito por volta de 135 d.C. em que o autor nos conduz em uma ‘excursão’ no
mundo dos mortos. Apocalypsis Petri,. Bonn: ed. E. Klostermann, Apocrypha I: Reste des Petrusevangeliums, der Petrusapokalypse und des Kerygma Petri, 2nd edn. Kleine Texte
3. Bonn: Marcus & Weber, 1908.
[31] Principalmente Ap. 20 sqq.
[32] Entre a literatura escatológica apócrifa mais impressionante produzida nessa época estão os chamados ORACULA SIBYLLINA produzidos entre os séculos II a.C. e IV, com uma extensa e variada coleção de punições e recompensas no além-túmulo. Cf. Oracula ed. J. Geffcken, Die Oracula Sibyllina [Die griechischen christlichen Schriftsteller 8.
Leipzig: Hinrichs, 1902 e também os Fragmenta, ed. J. Geffcken, Die Oracula Sibyllina [Die griechischen christlichen Schriftsteller 8. Leipzig: Hinrichs, 1902.
[33] At 13, 15; 15, 21. Lc 4, 16-17.
[34] 1Tm 5, 1-16
[35] 1 Tm 6, 1-2.
[36] No oriente da época helenística, ou em regiões deste, pelo menos no campo, a força de trabalho era formada em sua maioria por camponeses e artesãos dependentes. Cf. Kreissig, H. – A escravatura na época helenística. Trad. Y. Garlan e M. Tailleur. In: Annequin, J., Claval-Levêque, M. e Favary, F. – Formas de Exploração do Trabalho e Relações Sociais na Antiguidade Clássica. Trad. M. da L.. Veloso. Lisboa: ed. Estampa, 1978. pp.
113 – 121. Entretanto, nos dois primeiros séculos da era cristã a situação da força de trabalho parece variar sensivelmente nas áreas estudadas. O impacto da expansão romana no oriente resultou na retração da servidão como forma de exploração do trabalho. Ainda assim, os casos eram diversos de região a região. Cf. – De St. Croix, G.E. M. - The Class Struggle in the Ancient World – from the Archaich Age to the Arab Conquests. Ithaca, New York: Cornell University, 1981. Espec. III, iv e IV, iii.
[37] A seguirmos a tradição cristã da Idade Média (Georgios Syncellos Eclog. Chronogr. 650), essa tendência vinha pois se confirmando desde de o
final do século I d.C., a partir do período do imperador romano Domitianus (89-96) quando Flavius Clemens (63-95), seu primo, foi executado por
sua crença cristã. Sua mulher, Flavia Domitilla passou a ser honrada como a primeira mártir. No entanto, a historiografia atual parece desautorizar
essa interpretação. Cf. Kuhoff, W. - FLAVIUS CLEMENS, T(itus). In: Biographisch-Bibliographisches Kirchenlexikon. Vol. XX, colunas 503-519.
Traugott Bautz, 2001.
[38] De anima, principalmente capítulos LIV, LV e LVII.
[39] Representada, por exemplo, no dualismo zoroastrista, influente também no pensamento grego. Cf. Afnan, R. – Zoroaster’s Influence on
Anaxarogas, the Greek Tragedians, and Sokrates. New York: Philosophical Libraty, 1969.
[40] Cf. p. ex. Orig. Cont. Cels. VII, 3, 24.
[41] Cf. Orig. De princ. I, 6.
[42] Cf. St. Aug. De civitate Dei XXI, 23 : « Quod ibi dictum est aeternum, hic dictum est in saecula saeculorum”
[43] Como parece esboçado em St. Aug. De civitate Dei XXII, 30. A metáfora utilizada por Santo Agostinho em De doctrina christiana do espetáculo teatral cuja atmosfera serve de amálgama entre os espectadores nos parece aqui ser exemplar: “Esta função do amor consta da nossa experiência cotidiana. Todos já tivemos oportunidade de verificar, ao assistir a um espetáculo, como um belo drama costuma criar uma atmosfera de mútua simpatia entre os espectadores. O aficionado do teatro que ama um ator particular, estende, muito naturalmente, a sua estima a todos quantos compartilham do mesmo sentimento. E, quanto mais alta a sua estima pelo ator em questão, tanto mais se esforçará por fazê-lo amar e admirar do maior número possível de pessoas. Procurará excitar os que manifestem pouco entusiasmo, e irritar-se-á contra os que ousam criticá-lo. Como se vê, o amor é uma força plasmadora (grifo meu) de sentimentos comunitários. Dá-se o mesmo com o amor de Deus. O homem que tem amor a Deus, há de tê-lo também aos seus semelhantes. Ama-os como a si mesmo, por consideração a Deus. Seu desejo
é que eles amem a Deus, mas com um amor mais forte do que as coisas criadas poderiam despertar, pois amar a Deus, e fruir dele, é ser feliz. Por isso, o justo ama a todos, em Deus, sem excetuar os próprios inimigos. Com efeito, não tem razão para temê-los, pois não podem arrebatar-lhes o seu Deus; antes, ele os deplora, por vê-los separados do amor de Deus. Também eles o amariam se decidissem converter-se ao seu amor” (St. Aug. De doctr. Christ. 1, 29, 30; 34,30.
[44] É obvio que essa diferença entre a perseguição no ocidente e no oriente não deve ser observada stricto sensu. Para isso, basta lembrarmos do dramático martírio de Euplo (Acta Eupli, ed. H. Musurillo, The acts of the Christian martyrs. Oxford: Clarendon Press, 1972. I, 1-2.), que no entanto revela-se um errante. To‹j kur…oij ¹mîn Dioklitianù tÕ oennaton kaˆ Maximianù tÕ Ôgdoon Øp£toij, tÍ prÕ triîn kalandîn Ma wn ™n tÍ
™pifanest£tV Kat£nV ™n sikritar…J prÕ b»lou, æj oekraxen Eâploj aÙto‹j e pen· 'Apoqane‹n qšlw, CristianÕj g£r e„mi. KalbisianÕj Ð lamprÒtatoj korr»ktwr e pen· E‡selqe, Ð kekragèj. kaˆ æj e„sÁlqen ™n tù sikritar…J Ð mak£rioj Eâploj t¦ ¥cranta eÙaggšlia ™piferÒmenoj, M£ximoj Ð lamprÒtatoj e pen prÕj aÙtÒn· 'Aprep j pr©gma katšceij kaˆ ¢ penant…aj tîn prostagm£twn tîn aÙtokratÒrwn ¹mîn. KalbisianÕj korršktwr e pen· Taàta pÒqen e„s…n e„ ™k tÁj o„k…aj sou ™xenšcqhsan Ð mak£rioj Eâploj e pen· OÙk oecw o„k…an· toàto kaˆ Ð kÚrioj o den.
“Aos nossos senhores Diocleciano, em seu nono consulado, e Maximiano, em seu oitavo consulado (isto é, em 304 d.C., para ambos), no a. d. III
Kalendas Maias (ou seja, 29 de abril), na ilustrissima (cidade) de Catane (Sicília), no ‘sicritário’, defronte ao cortinado, quando Euplos gritou e disse a eles: “Eu desejo morrer, pois sou cristão”. Kalbisianos, o mais impetuoso (ou ilustre) governador corrector disse: “Que entre o vociferador!”. E quando ele entrou no sicritario, o bem-aventurado Euplos, portando os imaculados evangelhos, Máximos, o mais vigoroso, disse-lhe: Tu realizaste
um ato indecoroso e contrário aos preceitos de nossos imperadores. Kalbisianos, o governador ‘corrector’ disse: “se existem objetos onde quer que eles estejam, eles serão retirados de tua casa”, ao que o bem-aventurado Euplos respondeu: “eu não tenho casa, portanto o imperador nada tem”.
Citado também por De Ste. Croix, G.E.M, Cf. nota 45, mas que omite a última parte.
[45] Cf. De Ste. Croix, G.E.M. – Por que fueron perseguidos los primeros cristianos?. In Finley, M. I. (ed.) – Estúdios Sobre Historia Antigua. Trad.
R. López. Madrid: ed. Akal, 1981. pp. 233-273.
[46] A palavra ‘ateísmos’ significa aqui a não adoração dos deuses do panteão divino pagão, resumida na fórmula ‘deos non colere’ (não cultuar os deuses), e não aquele que não crê em Deus. Ateu era então aquele que não honrava ou sacrificava aos deuses do panteão romano. Cf. p. ex. Arnob.
Adv. Gentes III, 28, VII, I.
[47] Frend, W. H. C. – El fracaso de las persecuciones en el imperio romano. In: Finley, M. I. (ed). – op.cit. pp. 289-314.
[48] Ste. Croix, G.E.M – op.cit. p. 235.
[49] CTh. 16. I. 2, a. 380 (d.C.).
[50] Veja p. ex. um estudo resumido sobre o início dos diferentes elementos da liturgia cristã em Barth, H.-L. – Die Maer vom antiken Kanon des Hippolytos – Untersuchungen zur Liturgiereform. Koeln: ed. Uma Você, 1999.
[51] Em português existem poucas obras de fácil acesso ao grande público sobre o tema em questão. A melhor ainda é, apesar dos pesares, a obra de Pellistrandi, St.-M. – O Cristianismo Primitivo. Col. Grandes Civilizações Desaparecidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1978, rica em detalhes arqueológicos.
* Tradução livre.

Revista Cantareira

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