segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ave Carolus Magnus, Imperador dos Romanos!

Não há uma figura histórica mais comentada, estudada e falada do que o primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que restaurou o Império Romano do Ocidente. É um soberano, ao mesmo tempo, venerado e considerado o protetor do chamado Renascimento Carolíngeo, a revalorização artística e cultural sob a égide da Igreja Católica.

Por James Andrade

Foi com a frase do título que o monge Eginhard (ou Eginardo), biógrafo real, descreveu a cerimônia realizada em 25 de dezembro de 800, em que o então papa Leão III - mais tarde São Leão III - coroou Carlos, Rei dos Francos1, como Imperador dos Romanos. Depois de mais de 300 anos, o papa da Igreja de Roma restaurou o título que havia desaparecido com a deposição do Imperador Augústulo (também conhecido como Augustinho) em 476, tido como o início da periodização chamada Idade Média. Estava iniciado aquilo que, logo nas primeiras revisões dos livros litúrgicos no séc. IX, seria chamado de Império Cristão (também chamado de Império Romano-Germânico e, após meados do séc. XIII, de Sacro Império Romano-Germânico).

A restauração não foi bem recebida pela corte romana em Constantinopla, que não o reconheceu e nem sequer mandou representantes para a cerimônia. O título só foi reconhecido pelo então Basileus Miguel I em 812, após intensas negociações que envolveram a entrega de territórios.
A coroação selou, em definitivo, uma política de aproximação entre a Igreja de Roma e os francos2. Aproximação esta que se iniciou com a conversão de Clóvis (466-511) ao Cristianismo, em 496, e que se consolidou no reinado do Imperador Carlos, "o Grande", "o Magno".

Como sempre, a partilha não agradou a nenhum dos dois. Várias disputas ocorreram, e Carlos demonstrou então sua inclinação para a guerra e a conquista. Surgiu Carlos Magno

Nesta cópia, datada do século X, vemos uma pintura feita entre 829 e 836, retratando Carlos Magno (sentado) e seu filho Pepino, o Corcunda

A Origem

Carlos, chamado "Magno", que significa "grande", pode ter recebido o epíteto tanto por seus feitos, que foram realmente grandiosos, como por sua estatura, era um homem alto, acima de 1,90m e "... de saúde e robusto, bom caçador, exímio nadador, adepto de costumes simples"; palavras do biógrafo Eginhard.
Aquele que seria o primeiro imperador do restaurado Império Romano (Ocidental) nasceu somente Carlos, no dia 2 de abril de 747, em local ainda desconhecido (há indícios de que pode ter nascido na região de Ingolheim, sudoeste da Alemanha). Era filho do rei dos francos, Pepino e Bertrada, filha de Cariberto, mulher pia e de extremo recato, de sabidas ações caridosas.

Seu pai, Pepino III, chamado "o Breve" (epíteto que obteve após sagrar-se vencedor em um evento onde foi o mais rápido a cortar fora a cabeça de um touro), que exercia a função de "Major Domus" (Prefeito de Palácio), destronou, em 751, Childerico III - o último rei da dinastia Merovíngea3 - colocando fim na linhagem dos "reis cabeludos". Pepino corta a barba e os cabelos de Childerico, e torna-se o primeiro rei da dinastia que, após o Tratado de Verdun (843), será conhecida como Carolíngea. A origem do nome da dinastia está relacionada com Carlos Martel (o "Martelo"), avô de Carlos Magno.
A tomada de poder contou com a aprovação da Igreja de Roma, que, em troca, recebeu o apoio necessário para a manutenção dos territórios centrais da região onde hoje é a Itália (os Estados Pontifícios).
A disputa destas terras com os lombardos, e bizantinos4, será uma das mais fortes razões da aproximação da Igreja de Roma com o Império Franco. Tanto que em 754, o papa Estevão II - Santo Estevão II - novamente acossado pelos lombardos, pedirá ajuda, indo até o rei franco. Durante sua estada ungiu, na abadia de Saint-Denis, o rei franco; na mesma ocasião também foram ungidos Carlos e seu irmão Carlomano.

Pintura de Ary Scheffer retratando a submissão do líder Sayão Widukind no ano de 785

Com 19 anos, em 766, Carlos realizou seu primeiro (de muitos) casamentos. Sua primeira esposa chamava-se Himiltrude e deste casamento nasceu Pepino, o Corcunda. Interessante ressaltar que não há documentação que mostre a anulação deste casamento.
Dois anos depois, em 768, sua mãe, buscando fortalecer a posição do filho, intermediou um novo casamento, porém, desta vez a esposa foi Desidéria, filha de Desidério, rei da Lombardia. Esta aliança com os lombardos, opositores da Igreja de Roma, não foi bem vista pelo papa Adriano I e a cúria romana.

No mesmo ano, com a morte de Pepino III, o Breve, o Império Franco, conforme a tradição, foi dividido entre os príncipes Carlos e Carlomano.
A Carlos coube a região da Austrásia, Norte da Nêustria e metade da Aquitânia; Carlomano ficou com o sul da Nêustria, a Borgonha, a Alemanha e a Turíngia, e metade da Aquitânia. Como sempre, a partilha não agradou a nenhum dos dois. Várias disputas ocorreram, e Carlos demonstrou então sua inclinação para a guerra e a conquista. Surgiu Carlos Magno.

Carlos Magno criou os missi dominici (enviados do Senhor), com poderes autorgados pelo rei para julgar questões, estabelecendo tribunais se necessário fosse

Retrato do imperador feito por Albrecht Dürer, com os símbolos de sua linhagem, incluindo a águia, a cruz e o leão

As Conquistas

Apenas três anos depois da morte de Pepino III, em 4 de dezembro de 771, morreu Carlomano, de causas ainda hoje desconhecidas, não sendo descartado nem mesmo o envenenamento. Apoiado pela mãe, Carlos Magno atacou os filhos e a esposa do irmão, anexando seus territórios. O Império Franco estava inteiro novamente, mas não era mais o suficiente.
No mesmo ano da morte de Carlomano, por interferência direta do papa Adriano I, que viu no casamento sem filhos do rei franco e a princesa lombarda uma oportunidade de encerrar a malquista aliança, Carlos Magno repudiou Desidéria, despertando a ira do rei da Lombardia.

Logo depois, ainda em 771, casou-se - terceiro casamento - com Hildergarda de Saboia. Uma união agraciada com muitos filhos, dos quais destacamos os varões, Carlos; Carlomano e os gêmeos Luiz e Lotário, que morreu sem sequer completar 2 anos de idade. Carlos Magno ainda se casou mais duas vezes, em 784 e em 794.
Aliado à pressão do papa para o repúdio da princesa lombarda estava o fato de que seu pai, o rei Desidério, insistia em defender os direitos dos herdeiros de Carlomano sobre os territórios anexados por Carlos Magno. Todos estes fatores, e ainda a constante insistência do papa Adriano I para uma ação militar contra os lombardos, levaram o rei franco a realizar sua primeira grande campanha militar, que foi coroada de êxito. Os lombardos foram derrotados em 774 e seus territórios entregues ao papa, pondo fim, naquele momento, às querelas pela posse da região e selando em definitivo a aliança entre os francos e a Igreja de Roma que, diante da estabilidade fornecida por Carlos Magno, pode fortalecer sua posição e ampliar sua influência, já que a cada ação militar se seguia uma ação evangelizadora.

O caráter expansionista foi uma das características mais marcantes do império de Carlos Magno. Em seus quase 46 anos de reinado empreendeu mais de 50 campanhas militares, a grande maioria auspiciosa, em parte devido a um "imposto sobre fortunas", a ser pago em soldados pelos senhores: quanto mais rico o senhor, mais soldados ele deveria fornecer ao rei.Disto resultou um poderoso exército.
As mais significativas campanhas foram as conquistas da Lombardia (774), confinando o rei Desidério em um convento e reivindicando para si a Coroa de Ferro5 dos lombardos, pondo fim às pressões sobre a Igreja Romana e fortalecendo a figura do papa; da região entre os Pirineus e o Rio Ebro (778-811), criando uma zona de contenção dos avanços muçulmanos, que na época dominavam a Península Ibérica (Califado Omíada); a vitória sobre os bretões (779); e a submissão da Saxônia (772-804).

A disputa com os saxões foi, sem dúvida, a mais arraigada. Em 32 anos de animosidades, Carlos Magno usou de todos os recursos disponíveis para conseguir seus objetivos, até mesmo do "braço forte" da Igreja, que promoveu uma conversão em massa do povo saxão ao cristianismo(evangelização forçada), com pena de morte para aqueles que rejeitassem os sacramentos. Na vitória deportou a população dos territórios ocupados.
No auge, o "Império Cristão" ocupou praticamente toda a Europa Central (ocidental), rivalizando com o Império Romano.

As vitórias contundentes, em regiões estratégicas, elevaram o prestígio (e o temor) do agora Imperador Romano, o que gerou uma certa estabilidade interna do reino, possibilitando ao rei implementar políticas administrativas que, à época, mostraram-se revolucionárias devido ao caráter de "centralização de poder". Em um panorama político de poder fragmentado, na mão de incontáveis "senhores", houve, por parte do império de Carlos Magno, uma clara tentativa, ainda que espelhada nas reminiscências do Império Romano (clássico), de criação daquilo que viria, na Era Moderna, configurar-se como Estado.

Se de um lado Carlos Magno foi fortemente influenciado pela religião, por outro havia nele certa inquietação com o saber, com o aprender, uma preocupação com a cultura formal

A Administração

Uma das principais preocupações estava na manutenção do território e na salvaguarda de suas fronteiras. Para tanto foram criados dois tipos de "zonas administrativas", as "internas" e as "periféricas", ou seja, os condados e as marcas. A origem dessas regiões está no costume antigo de recompensar os serviços prestados ao rei com a doação de terras, principalmente em tempos de guerra.
Os condados, regiões centrais do império, eram administrados pelos "condes". As marcas, regiões de fronteira, mais sensíveis, eram administradas pelos "marqueses".

Caso houvesse pressão da população local, os administradores poderiam ser substituídos. Tanto condes quanto marqueses exerciam poderes militar, administrativo, legislativo e tributário, contando com uma administração indireta de Carlos Magno, que, para garantir sua soberania, criou os missi dominici (enviados do Senhor), com poderes autorgados pelo rei para julgar questões, estabelecendo tribunais se necessário fosse, demitir funcionários e conferir o repasse da arrecadação de impostos.
Os missi dominici eram sempre dois, um clérigo e um laico. Na formação desses "enviados do Senhor" pode-se delinear claramente o que, no período medievo, imaginou-se como "administração ideal", Igreja e "Estado" juntos, um amálgama, funcionando harmonicamente.

É irônico constatar que, devido ao caráter de proximidade com a figura real que aqueles agraciados com estes territórios gozavam, muitas vezes os condes e marqueses se negarão a aceitar a presença dos missi dominici em seus territórios, criando situações de verdadeira insubordinação em relação ao poder real, gerando certa autonomia destas regiões. Com o passar do tempo esta autonomia crescerá, tanto que os títulos, que eram vitalícios, passarão a ser hereditários, levando ao aparecimento de domínios (sementes do feudalismo) independentes, dentro do império, provocando o seu esfacelamento. Mas isso virá depois de muito tempo. Quando de sua elaboração, a divisão em condados e marcas funcionou a contento, mantendo os nobres e senhores sobre relativo controle.

Apesar do apreço do rei por Aachen, região oeste da Alemanha, fronteira com a França, tida por muitos como a "nova Roma", onde está a capela de Aix-la-Chapele, a corte de Carlos Magno era itinerante, ficava em constante movimento, não possuindo uma capital fixa, o que ajudava na manutenção da integridade do império. Uma tentativa de criar, no imaginário de seus súditos, a ideia de um rei sempre presente.
Em paralelo, houve por parte de Carlos Magno a criação de um estatuto chamado "Capitulares", um conjunto de leis que propunha comum a todos os súditos do reino, porém, sua aplicação ficou restrita às regiões centrais, uma vez que, nos Estados anexados, não houve esforços para a substituição da cultura local, que mantiveram seus sistemas de leis tradicionais.
Junto com as leis vieram outros elementos que buscavam uma "unificação" do império, tais como um sistema de pesos e medidas padronizado e uma unidade monetária comum, que foi baseada em uma moeda de prata, o "dinar carolíngeo", que perdurou na região até ser substituído pelo sistema monetário criado por Luís IX - São Luís IX - baseado na moeda de prata de Tours (gros tournois) em 1266.

A Descendência de Carlos Magno

O imperador teve uma linhagem grande, com filhos legítimos e ilegítimos, num total de 20, com dez esposas ou concubinas. estes geraram apenas quatro netos legítimos, todos de seu terceiro filho, luís. Teve ainda um neto, Bernardo da itália, nascido ilegítimo, mas incluído na linha de herança.
sua primeira relação foi com Himiltrude. A natureza desta ligação é descrita de maneira diferente por várias fontes, como concubinato, casamento legal ou ainda um Friedelehe (uma espécie de casamento alemão vigente durante a idade Média que se assemelha com uma relação atual em que o casal vive junto sem obrigações legais). Daqui surgiram dois filhos: Amaudru, uma filha, e Pepino, o Corcunda.

Depois ele se uniu à sua primeira esposa, Desidéria, filha de Desidério, rei dos lombardos. o casamento durou de 770 a 771, quando foi anulado. Depois veio sua segunda esposa, Hildegard, união que foi de 771 a 783, quando ela morreu. originou nove filhos:
Carlos, o Jovem (768-814).
Adelaide (773 ou 774-774).
Pepino de Itália (773 ou 777-810), rei de Itália desde 781.
Rotrude (ou Hruodrud) (777-810).
Luís (778-840), gêmeo de Lotário, rei da Aquitânia desde 781 e imperador e rei dos francos desde 814.
Lotário (778-779 ou 780), gêmeo de Luís.
Berta (779-823).
Gisela (781-808).
Hildegarda (782-783).

A quarta esposa foi Fastrada, e a união durou de 784 a 794, quando ela morreu. ela gerou duas filhas: Teodrada (n.784), abadessa de Argenteuil. Hiltrude (n.787).

Sua última esposa foi luitgard, e o casamento durou de 794 a 800, quando ela morreu. não houve descendência neste caso. entre suas concubinas, a primeira a lhe dar filhos foi Gersuinda, que gerou Adaltrude (n.774). A segunda, Madelgarda, gerou Ruodhaid (775-810), mais tarde abadessa de Faremoutiers. A terceira, Amaltrud de Viena, gerou Alpaida (n.794). A quarta, Regina, deu à luz dois homens, Drogo (801-855, bispo de Metz desde 823) e Hugo (802- 844), que se tornou grão-chanceler do império. Por fim, de sua quinta concubina, Ethelind, veio Teodorico (n.807).

Carlos Magno morreu no dia 28 de janeiro de 814, na cidade de Aachen (que hoje pertence à Alemanha), aos 66 anos

Sarcófago de Carlos Magno, feito de mármore, hoje na catedral de d'Aix-La-Chapelle

Estátua

equestre de Carlos Magno datada de 1725, localizada na Basílica de São Pedro, no Vaticano

O Aspecto Cultural

Aquilo que se iniciou com Clóvis e a unificação dos francos em torno de um reino, o Reino Franco, que buscou ocupar o vácuo de poder deixado pelo desaparecimento do Império Romano do Ocidente, certamente alcançaram o esplendor na figura de Carlos Magno e no vasto Império por ele conquistado.
Somente esta constatação bastaria para ressaltar a importância deste personagem singular. Porém, seus feitos extrapolam a formação de um império e se inserem em elementos ainda mais significativos, que contribuirão sobremaneira para a formação do pensamento medievo, e até mesmo para sua superação.

Se de um lado Carlos Magno foi fortemente influenciado pela religião, por outro havia nele certa inquietação com o saber, com o aprender, uma preocupação com a cultura formal (que, à época estava intimamente ligada à Antiguidade Clássica), não só sua, mas também a de seus súditos.
Algo surpreendente em um homem tido como inculto, que só veio a aprender a ler com 32 anos. Tal inquietação, em que pese também a necessidade de pessoas letradas para ocupar os cargos administrativos exigidos pelo modelo de administração adotado, levou Carlos Magno a realizar uma das maiores revoluções no ensino de que se tem notícia.

O mentor desta revolução foi o monge bretão Alcuíno de York (732-804), que o rei franco conheceu na cidade de Parma, em 781. O monge foi o responsável pela criação da Academia Palatina, no complexo palaciano de Aachen, que era frequentada pela família real. Data deste período a formação de uma das mais espetaculares bibliotecas de autores da Antiguidade. Alcuíno também recebeu a incumbência de elaborar uma Bíblia "revisada", deste esforço surgiu a Bíblia Carolíngia, chamada de Vulgata Régia.
Em um mundo (o europeu) ainda ressentido com o quase desaparecimento das instituições políticas, das técnicas, da arte, da literatura e da cultura greco-romana, onde até mesmo o latim havia rareado, Carlos Magno ousou ao criar instituições de ensino, abertas tanto para os clérigos, quase todos analfabetos ou semianalfabetos, quanto para as crianças, sendo elas de origem nobre ou não, urbanas ou camponesas.

A formação erudita do clero, sempre tão criticada durante todo o período medievo e mesmo no moderno, sempre foi uma preocupação presente na Igreja.
A despeito do ensino ser religioso (impossível à época ser diferente), da Teologia tida como "ciência" e do passo embrionário da Escolástica, apesar de tudo isso, foi uma enorme contribuição para a cultura ocidental.
Não que o rei franco encarne somente em si os anseios pelo resgate da cultura greco-romana "perdida", porém, sua contribuição para tanto é inegável, uma vez que buscou se cercar de homens de elevada cultura e promoveu ações em prol da formação intelectual de seus súditos.

Desde 778 há registro de decretos orientando Bispos e Abades para a criação de novas escolas em suas instituições, bem como a restauração daquelas que se encontravam abandonadas. Pelos decretos as escolas podiam ser Palatinas, juntas aos palácios; Catedrais, juntas às sedes dos bispados; e Monacais, juntas aos mosteiros. Foram criadas então as "escolas internas" e as "escolas externas". As escolas internas eram voltadas para os clérigos e os filhos de famílias nobres; e as externas para a população em geral, desde que, claro, morassem nas proximidades das instituições.
O modelo pedagógico seguia o romano, em que os saberes eram divididos em Trivium (Dialética, Retórica e Gramática) e Quadrivium (Música, Astronomia, Geometria e Aritmética), tudo ministrado em latim, que foi revitalizado.

Neste período foi desenvolvida a "escrita minúscula carolíngea6", que foi usada para a elaboração de cópias de obras antigas. Muito do que está preservado da produção literária latina nos dias de hoje foram copiados nesta época. No processo de produção dos manuscritos surgiu também a arte das Iluminuras, belas pinturas de cores metálicas, brilhantes, com figuras e florais, representando cenas. Ocupavam os espaços das margens e molduras, algumas vezes invadindo o texto, buscavam representar, em imagens, o teor do que estava escrito, auxiliando a leitura, em uma realidade de analfabetismo generalizado, exerciam função didática.

O Fim do Império

Carlos Magno morreu no dia 28 de janeiro de 814, na cidade de Aachen, aos 66 anos. Encerrou-se assim o reinado daquele que seria conhecido, e venerado, como um dos maiores monarcas da Europa, que, muito embora não tenha produzido o "Renascimento" que muitos alardeiam, foi responsável sim por um renascimento, o da Igreja Romana.
Foi sucedido no trono por seu filho Luís I (778-840), que recebeu a alcunha de Piedoso. Diferente do pai, não foi capaz de manter a integridade administrativa do Império. Em 840, acusado pelos filhos de ter entregado a administração nas mãos dos clérigos, abdicou ao trono, passando a morar em um convento, onde faleceu.

Com sua abdicação, seus três filhos, Carlos, o Calvo; Luís, o Germânico; e Lotário iniciaram uma acirrada luta pelo poder que durou até 843, quando dividiram entre si o reino. A partilha foi ratificada pela Igreja no Tratado de Verdun.
Carlos Magno foi canonizado em 1165, a ellapedido do imperador Frederico I, sendo venerado, por francos e germanos, durante boa parte da Idade Média.

Para saber +
FRANCO JR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente.
São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.

LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais da Idade Média.
São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.

FAVIER, Jean. Carlos Magno.
Estação Liberdade, 2004.

SYSYPECK, Jeff. Becoming Charlemagne: Europe, Baghdad, And The Empires Of A.D. 800.
Harper USA, 2007.

WILSON , Derek. Charlemagne. Random House, 2007.

JAMES ANDRADE é cursando de Licenciatura em História e autor do livro "Getsêmani, a Verdade Oculta" (Giz Editorial, 2008)

1 A fragmentação do Reino Franco dará origem, após o Tratado de Verdun, à atual França e boa parte da atual Alemanha.
2 Povo de origem germânica que dominou a região da Gália (atual França). A origem da palavra é incerta, porém, pode estar relacionada ao termo (alemão arcaico) "frank", que significa "livre", "isento".3 A Dinastia Merovíngea tem origem em Meroveu (420-457). No fim da dinastia, seus reis, que delegavam praticamente todo o poder para o "Major Domus", passaram para a História como roi fait néant (reis que não fazem nada). 4 Império Bizantino é o nome dado ao Império Romano do Oriente, sediado na cidade de Constantinopla (antiga Bizâncio). 5 Conta-se que o arco interno da "Coroa de Ferro" foi feito com um dos pregos da crucificação de Jesus.6 Até este período a escrita era feita em letras maiúsculas, sem separação de palavras e sem pontuação. Com a escrita "minúscula carolíngea" são criados os pontos e acentos.

Revista Leituras da História

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