sábado, 2 de maio de 2009

Do Xá ao Aíatolá: os 30 anos da Revolução Iraniana

A República Islâmica do Irã apresenta uma trajetória complexa, na qual a Revolução Iraniana, de fevereiro de 1979, surge como ponto de inflexão. Modernidade e tradição, ocidentalização e religião, foram alguns dos elementos contraditórios que levaram à insurgência

POR CRISTINA SOREANU PECEQUILO


Dona da terceira maior reserva de petróleo do mundo, a República Islâmica do Irã é hoje a quinta maior exportadora mundial: são mais de 2,5 milhões de barris por dia. Mas apesar desse recurso valiosíssimo, o Irã permanece como um país subdesenvolvido. Assim como outras nações ricas em petróleo, o bem que gera fortuna também produz vulnerabilidade e funciona como elemento de dependência e cisão.

A descoberta de petróleo na região, em 1903, motivou a exploração britânica no território iraniano. A dominação estrangeira somada à posição estratégica do Irã no Oriente Médio, a pobreza da população e os dogmas do Islamismo resultaram na revolução de 1979, que transformou o país em uma república teocrática islâmica. Por isso, para entender como se deu a insurreição, é preciso entender o contexto histórico e político do Irã desde os primeiros anos do século XX.

A EXPLORAÇÃO ESTRANGEIRA E A DINASTIA PAHLAVI

A partir de 1903, o Irã passou a ter com a Grã- Bretanha uma relação semicolonial. A potência européia controlava a exploração do petróleo por meio da Companhia de Petróleo Anglo-Persa (APOC). Em 1907, a Pérsia (como era chamada a região onde atualmente fica o Irã) foi dividida em zonas de influência entre a Grã-Bretanha e a Rússia. Mas os russos perderam o controle da área devido à Revolução Socialista de 1917 - posteriormente, já como União Soviética, o domínio reforçou-se no Cáucaso e Ásia Central. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi a vez de os EUA projetarem sua influência política e econômica sobre o Irã.

Encaradas como fonte de subordinação, falta de autonomia e corrupção, as relações entre o Irã e o ocidente foram ampliadas pela dinastia Pahlavi (1925-1979), que foi instaurada por meio de um golpe militar pelo general Reza Khan (1878-1944), em 1925. Nesse período, os governantes eram chamados de Xá, título que corresponde ao posto de rei ou imperador.

A dinastia Pahlavi caracterizou-se por diversos fatores, como a relação próxima com o ocidente, o difícil intercâmbio com os árabes devido à identidade persa e islâmica, o projeto de criação da potência regional e a falta de democracia e agenda social, o que gerou uma sequência de crises. Os Pahlavi inseriram a ocidentalização e secularização, que contrariava o clero muçulmano tradicionalista, como as graves confrontações que ocorreram devido ao banimento do uso do véu para as mulheres.

para as mulheres. A situação política do Irã agravou-se com a Segunda Guerra, quando o exército alemão tentou avançar pela região, o que levou à ocupação britânica e soviética no Irã, para defender os campos petrolíferos. Nesse período, a oposição a Reza Pahlavi cresceu. Em 1941, o Xá renunciou em benefício de seu filho Mohammad Reza Pahlavi (1919-1980). Com Mohammad, que governou até 1979, instaurou-se uma monarquia constitucional, dividindo o poder com o Parlamento (Majilis).

AS DISPUTAS PELO PETRÓLEO NA ÉPOCA DA GUERRA FRIA

Depois de um breve período de estabilidade, em 1946 o Irã foi palco de uma das primeiras disputas da Guerra Fria, quando a União Soviética manteve suas tropas em território iraniano e apoiou o socialista Partido Tudeh, criado em 1941.

Ao lado do clero, o Tudeh foi uma força de oposição ao Xá e desempenhou papel significativo: enquanto os mulás (líderes religiosos das mesquitas islâmicas) detinham o apoio das massas rurais e defendiam a agenda conservadora, o Tudeh era urbano e moderno. No entanto, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos rechaçaram os soviéticos, mantendo seu controle. Mas isso não significou o cessar das tensões internas iranianas, o que resultou na nomeação de Mohammad Mossadegh (1880-1967) como primeiro- ministro, em 1951. Mossadegh tinha idéias nacionalistas queria o controle do Irã sobre suas reservas petrolíferas.

Até 1953, Mossadegh, que fora presidente do Comitê do Petróleo no Parlamento, governou como primeiro-ministro. Atuando contra a exploração injusta do petróleo, ele promoveu a nacionalização do combustível e criou a Companhia Nacional Iraniana de Petróleo (NIOC). As potências anglo-saxãs não aceitaram perder seus benefícios e impuseram um embargo. Temendo a ascensão de um governo comunista e para retomar o fornecimento de petróleo, EUA e Grã- Bretanha derrubaram Mossadegh com a Operação Ajax compartilhada entre os serviços secretos CIA (agência norte-americana) e MI6 (agência britânica). Os norte-americanos e os britânicos restituíram todo o poder ao Xá Mohammad Reza Pahlavi, que era visto como um aliado do ocidente. Mohammad, por sua vez, adotou um regime mais repressivo, simbolizado pela criação da polícia secreta Savak, em 1957.

A oposição ao Xá reunia diversos grupos sociais, entre liberais, socialistas e o clero islâmico


Criada por Mossadegh, a NIOC foi mantida e, em termos desiguais, ocorreu a redistribuição das divisas entre o Irã e o consórcio multinacional (norte-americano, britânico, francês e holandês), que controlava a exploração. Mas a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC), em 1960, gerou na década de 1970 uma mudança na postura do Irã e dos demais países produtores, que passaram a buscar maiores ganhos com sua produção.

CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES
Depois do fim da Guerra Fria, teorias como a do "Fim da História" e a do "Choque de Civilizações" surgiram para tentar explicar como seria o mundo despolarizado

Com o fim da Guerra Fria, muitas foram as hipóteses construídas para interpretar o sistema internacional pós-bipolaridade, como as do "Fim da História" e do "Choque das Civilizações". Faces opostas da mesma moeda, essas interpretações analisadas respectivamente pelos cientistas políticos norte-americanos Francis Fukuyama, em 1989, e Samuel P. Huntington (recentemente falecido), em 1993, percebiam o mundo pelo prisma da cooperação e da confrontação. Originalmente, as obras desses autores foram escritas na forma de artigos, publicados nas conceituadas revistas do establishment norte-americano The National Interest e Foreign Aff airs, e, posteriormente, ambas foram editadas e deram origem aos livros O fim da história e o último homem, de Fukuyama, e O choque das civilizações e a recomposição da nova ordem mundial, de Huntington.

Enquanto Fukuyama avaliou a queda do muro de Berlim como um momento de disseminação e universalização da democracia e do capitalismo liberal, Huntington previu a substituição do conflito político-ideológico pelo civilizacional, com linhas de fratura religiosas e culturais, opondo "o ocidente e o resto". O "resto" era apresentado como o mundo islâmico e se pregava a necessidade de unir o oeste para combater este suposto inimigo. Quando lançada, mesmo conquistando diversos adeptos, que desde 1979 alertavam para o "risco islâmico", a visão não se tornou dominante (no Irã, inspirou o "Diálogo das Civilizações", em 1997). A tese ressurgiu com força em 2001, com os atentados às torres do World Trade Center, e instrumentalizou o medo para justificar o combate ao terrorismo fundamentalista, prioridade do governo George W. Bush que, todavia, negou repetidamente a associação entre a prevenção e o choque.

Imagem de 1961 mostra a construção do muro de Berlim, símbolo máximo da Guerra Fria


Bomba de gasolina abandonada durante a crise do petróleo de 1973, em Washington, nos Estados Unidos


A REVOLUÇÃO BRANCA E A "GRANDE CIVILIZAÇÃO DO IRÃ"

Em 1963, mais uma crise abalou o Irã: a Revolução Branca, uma tentativa de Mohammad Pahlavi de modernizar o país, que incluía a reforma agrária e o voto feminino, aprofundou a secularização e ocidentalização. Por causa dessas medidas, o Xá ficou conhecido como o "inimigo do Islã". As relações com as potências anglo-saxãs, em particular os EUA, cresceram. Até mesmo de Israel o Irã se aproximou. Porém, a voz dos clérigos levantou-se, com inúmeros protestos na cidade sagrada de Qom, além de greves gerais violentamente reprimidas. O movimento foi comandado pelo Aiatolá (o mais alto dignatário na hierarquia religiosa islâmica) Ruhollah Khomeini (1900- 1989), que acabou sendo preso e exilado de 1965 a 1978, no Iraque (e um breve período na França).

Depois desses conflitos, o Irã viveu relativa estabilidade devido ao aumento dos preços do petróleo por conta da OPEP. Outros setores industriais expandiram-se gerando urbanização e crescimento populacional, sem correspondente melhora nas condições de vida. O sistema manteve- se fechado e o projeto do Xá, de modernização e fortalecimento, amparado pela compra de armamentos norte-americanos e a política pró-regimes autoritários do presidente norte-americano Richard Nixon (1913-1994), da década de 1970, somente acentuava as contradições internas. Os EUA toleravam durante a bipolaridade abusos aos direitos humanos, desde que o país fosse definido como aliado e "pilar da estabilidade regional".

O Xá vislumbrava a construção da "Grande Civilização do Irã": o maior poder do Oriente Médio e quinta maior potência econômica do mundo. Um dos marcos da irracionalidade foi, em 1971, a gigantesca celebração em Paris em homenagem à dinastia Pahlavi, enquanto a população carecia de salários, infra-estrutura e serviços básicos de educação, alimentação e saúde. A situação agravou-se com a primeira crise do petróleo, em 1973, tendo como um de seus fatores a guerra do Yom Kippur (dos Estados árabes contra Israel), o declínio dos EUA e a recessão das economias desenvolvidas. Essa política encontrou seu limite entre 1976 e 1977, com a crescente oposição da população e a perda de apoio dos EUA. Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, reverteu as políticas de Nixon, privando o Irã de ajuda. Nesse meio tempo, o estado de saúde do Xá piorou com a posterior confirmação de seu câncer. Nesse contexto caótico, abriu-se o caminho para a revolução.

OS DEFENSORES DA LIBERDADE
Para evitar o avanço do comunismo sobre os países então chamados de "terceiro-mundo", os Estados Unidos financiaram grupos guerrilheiros, como o Talibã
Uma das táticas mais polêmicas dos EUA durante a Guerra Fria foi o apoio a grupos anticomunistas, independentemente de sua orientação, retrógrada ou agressiva, visando ao enfraquecimento da União Soviética. Os talibãs, os contras na Nicarágua, as guerrilhas de direita em Angola e Moçambique foram algumas das forças insurgentes patrocinadas, definidas como "defensoras da liberdade". O idealizador dessa postura foi o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos durante o governo de Jimmy Carter, o polonês Zbigniew Brzezinski, que durante a campanha eleitoral de 2008 foi um dos conselheiros do atual presidente democrata Barack Obama. No caso do Oriente Médio, Brzezinski o definia como "Arco das Crises", estratégico por suas reservas de petróleo.

Na época do governo Carter, no Afeganistão do Talibã, Bin Laden foi aliado dos EUA para, depois, tornarse seu principal inimigo, responsável pelos atentados de 11 de setembro, à frente da Al-Qaeda. Na administração Reagan, essa política gerou o escândalo Irã-Contras. Inicialmente, o plano era patrocinar forças iranianas moderadas contra Khomeini, mas o projeto fracassou e foi redirecionado à obtenção de recursos financeiros para ajudar os "contras" nicaragüenses, que lutavam contra o presidente socialista Daniel Ortega. Negados pelo Congresso, os recursos para arcar com essas políticas saíram da venda secreta e ilegal de armas ao Irã, em guerra com o Iraque (a quem os EUA igualmente repassavam armamentos). Membros da equipe de Reagan foram denunciados e condenados, mas, na administração seguinte, de George H. Bush (vice de Reagan na época), receberam perdão presidencial.

CICLO REVOLUCIONÁRIO

Em 1978, a deterioração da situação social, política e econômica era patente e o governo intensificou sua ação antioposição. A cidade iraniana de Qom foi palco de manifestações contra o Xá, que terminaram com mais de mil mortos. Em setembro, na capital Teerã, ocorreu mais uma violenta repressão, que ficou conhecida como Sexta-Feira Negra (reivindicação contra o regime do Xá). Além das constantes reclamações populares, greves gerais minavam a sociedade e as finanças iranianas.

O seqüestro na Embaixada dos Estados Unidos em Teerã, gerou protestos no mundo todo. Na imagem, homem norte-americano, em Washington, segura cartaz com os dizeres: "Deportem todos os iranianos. Saiam do meu país"

A oposição ao Xá reunia diversos grupos sociais, entre liberais, socialistas e o clero islâmico, cuja influência crescia exponencialmente sob a liderança do exilado Aiatolá Khomeini. Dentre os opositores ao Xá, encontravam-se os mujahedin (combatentes que praticam a Jihad, a luta islâmica) e a guerrilha Fedayin-e-Khalk (de ideologia marxista e islâmica) e a burguesia (bazaar). O clero islâmico supria com seu discurso e o carisma populista de Khomeini, elemento unificador que faltava e que mesmo os religiosos moderados apoiaram.

Reunião do Xá Mohammad Reza Pahlavi (do lado esquerdo da foto) com o presidente americano Jimmy Carter (segundo da direita para a esquerda), em 1977

Do rural ao urbano, o projeto islâmico era simbolizado pela autonomia política e a recuperação da identidade e orgulho a partir da religião. Os vícios ocidentais e da modernidade seriam superados pela adoção da sharia (lei islâmica), permitindo a construção de uma sociedade mais justa, que respeitasse os preceitos fundamentais do Islã amparados pelo Alcorão. De acordo com o plano islâmico, o Irã não seria mais explorado, tornando-se responsável por seu destino e recursos estratégicos.

Isolado, o Xá deixou o Irã em janeiro de 1979, falecendo pouco tempo depois no exílio. Em uma tentativa de contornar a crise, o país foi deixado sob o comando do então primeiro-ministro Shapour Bakhtiar (1915-1991). Porém, a tentativa de manter a mesma administração da dinastia Pahlavi falhou e, em fevereiro de 1979, o retorno do Aiatolá Khomeini do exílio significou o fim do antigo regime.

O IRÃ DA REVOLUÇÃO

De fevereiro a abril de 1979, quando foi proclamada a República Islâmica do Irã, o país enfrentou diversas convulsões internas. Enquanto as forças tradicionalistas lideradas pelo Aiatolá Khomeini possuíam uma visão clara do poder, de acordo com as normas do Islã, os demais setores dividiam-se, o que favoreceu os mulás. A indicação do liberal Mehdi Bazargan (1907-1995) ao cargo de primeiro- ministro, com Khomeini como chefe da República Islâmica, representava a dualidade entre o secular e o religioso, superada com o crescimento da influência de Khomeini e a saída de Barzagan do poder, em novembro, por conta da invasão da embaixada norte-americana e a crise dos reféns (Bazargan foi substituído por Bani-Sadr, que ficou pouco tempo no cargo, sendo sucedido por Ali Khamenei entre 1981 e 1985). A invasão da Embaixada representou o rompimento das relações diplomáticas bilaterais EUA-Irã, prolongando-se por 444 dias - na ocasião da invasão, pessoas que estavam na embaixada foram feitas reféns e liberadas somente em 1981.

Naquele período, intensificou-se a repressão e partidos como o Tudeh foram banidos. A ascensão de Khomeini ao poder representou a segunda fase da revolução, com a consolidação de sua liderança e do clero, o que refletiu na estrutura de poder, prevista pela Constituição de dezembro de 1979, e nas novas relações internacionais.

O GOVERNO DE ACORDO COM A SHARIA

A unidade entre Estado e religião foi formalizada na subordinação de todo o sistema social, político e jurídico pós-revolucionário ao Líder Supremo. O Líder Supremo, que era Khomeini, atuou como chefe de Estado e autoridade religiosa máxima (faqih). Sob sua responsabilidade, encontravam- se tarefas do Executivo, como a condução da política externa e interna, o comando das Forças Armadas, a declaração de guerra ou a paz e o controle da mídia. Ao presidente da República coube a política econômica, com o cargo definido como o segundo mais importante, seguido pelo Parlamento. Ambos eram eleitos pela população, mas subordinados ao líder.

Os desígnios da vida social, política e jurídica passaram a ser definidos pelo Líder Supremo de acordo com a sharia, o que indica a subordinação do Judiciário. O Líder é auxiliado pelo Conselho dos Guardiões, composto por doze juristas - seis deles indicados pelo Líder e outros seis pelo líder do judiciário. O Conselho é um órgão bastante poderoso e ligado ao Líder, com ampla autoridade para interpretar a Constituição e avaliar se as leis são aplicadas de acordo com a sharia. Possui autonomia para examinar, autorizar ou impugnar candidaturas a cargos eletivos, o que é essencial para o controle do sistema. Quando existem disputas entre o Conselho e o Parlamento, essas são julgadas e resolvidas por um órgão especial, o Conselho de Discernimento, também conservador. Deve ser mencionada a Assembléia dos Peritos, composta por membros do clero e que se reúne anualmente. Nas relações internacionais e de defesa, as agências do Conselho de Segurança Nacional e Inteligência são controladas pelo Líder Supremo, composto por um exército regular e a Guarda Revolucionária Islâmica, que possui como tarefa proteger a revolução, assim como o Ministério da Inteligência e Segurança (MOIS).

A partir daí, a sociedade iraniana reorganizou- se, eliminando vestígios do regime do Xá e da ocidentalização. No campo externo, houve uma profunda cisão com o ocidente, em particular com os EUA (considerado como o "Grande Satã"). Os EUA reagiram à revolução de 1979 com a Doutrina Carter, que aumentava sua capacidade de projeção no Oriente Médio, e patrocinaram o processo de paz entre Israel e Egito.

As prioridades externas apresentavam ambigüidades relacionadas à exportação da revolução (sudur-i inqilab), à preservação do Estado e ao petróleo. Inicialmente, um dos objetivos declarados era disseminar a revolução além das fronteiras, o que gerou o temor da "onda verde" (expansão do Islã fundamentalista). Essa política correspondia mais ao mito do que à realidade, uma vez que o Irã não tinha condições materiais ou ideológicas para introduzi-la, e foi substituída pela defesa da soberania. Mesmo com os armamentos adquiridos dos EUA pelo Xá, o exército iraniano e forças de segurança voltavam-se para a garantia do regime com poucos recursos humanos e financeiros. Essas limitações seriam percebidas na Guerra Irã-Iraque, a partir de 1980. No campo ideológico, a visão de um Islã unitário não era compartilhada por todos.

O IRAQUE DE SADDAM HUSSEIN
De aliado a inimigo dos Estados Unidos, o ditador iraquiano foi acusado de ser cúmplice do terrorismo, o que resultou em sua morte por enforcamento

Presidente do Iraque de 1979 a 2003, Saddam Hussein (1937-2006) representou um elemento central na estabilidade e instabilidade do Oriente Médio. Inicialmente considerado pelos EUA como um líder árabe moderado e secular, que conteria as expansões revolucionárias da República Islâmica do Irã, Hussein recebeu considerável ajuda financeira e militar norteamericana. Ao desempenhar esse papel, o Iraque ainda conseguiu agregar recursos soviéticos, mas foi incapaz de impor uma vitória decisiva a seus adversários iranianos na guerra de 1980 a 1988. Enfraquecido por quase uma década de conflito, só que poderosamente armado pelas antigas superpotências, o Iraque transitou da cooperação à confrontação com seus aliados.

No vácuo de poder do período pós-Guerra Fria, Hussein buscou conquistar uma hegemonia regional que desagradou abertamente norte-americanos e o mundo árabe, a despeito de suas tentativas de remontar ao nacionalismo e unidade desse povo. Com a invasão do Kuwait, detonou a Guerra do Golfo com os EUA, entre 1990 e 1991, com a nação iraquiana sofrendo pesadas perdas. Preservado no poder, sofrendo restrições e embargos, Hussein manteve-se como inimigo norte-americano, assumindo com os atentados de 2001, ao lado de Bin Laden, a face do terrorismo para o governo George W. Bush. Em 2003, com a invasão do Iraque, Hussein foi destituído pelos norte-americanos, preso, julgado e condenado sumariamente à morte, em 2006. Ocupado militarmente, o Iraque hoje, diferentemente do Irã, é foco de crises e fragmentações, com baixa projeção regional e global.

Imagem de 1953 mostra soldados iranianos em frente ao Parlamento, em Teerã, durante derrubada do governo de Mossadegh pela Operação Ájax, liderada pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha

Soldados iranianos (incluindo crianças) lutam na guerra Irã-Iraque. Foto de novembro de 1982

AS RELAÇÕES DO IRÃ PÓS-REVOLUÇÃO

Mesmo sem exportar a revolução, o Irã ajudava (e ainda ajuda) política e financeiramente aliados que compartilhavam sua agenda. Essa posição fez que o país fosse definido pelos EUA como patrocinador de grupos radicais fundamentalistas (como Hezbollah, no Líbano, e Hamas, na Palestina). Porém, esse papel por vezes é exacerbado, assim como a "onda verde" que fundamentou o "Choque de Civilizações", de Samuel P. Huntington, no pós-Guerra Fria (ver boxe Choque de civilizações).


Com a Revolução de 1979, houve uma profunda cisão entre o Irã e o ocidente. Os EUA passaram a ser considerados o "Grande Satã"

A URSS também temeu a "onda verde" no Cáucaso e na Ásia Central, o que motivou a intervenção soviética no Afeganistão, em 1979, devido aos talibãs. Ligados à interpretação mais retrógrada do Islã e contrários à presença soviética, os talibãs conquistavam apoios políticos no Afeganistão, mas como grupo de guerrilha, não possuíam condições suficientes para derrotar o governo apoiado por Moscou. No contexto da Guerra Fria, contudo, o Talibã foi apoiado material e financeiramente pelos EUA. Paradoxalmente, enquanto no Irã os presidentes norteamericanos Jimmy Carter e Ronald Reagan esforçavam- se para minar os aiatolás, no Afeganistão os mulás recebiam apoio dos Estados Unidos (ver boxe Os defensores da liberdade).

No Oriente Médio, os países encaravam o projeto iraniano com receio. A Guerra Irã-Iraque é um exemplo. Iniciada pelo Iraque, em 1980, ao romper o acordo prévio de 1975, com relação à exploração conjunta de petróleo na região do Shatt al-Arab, a guerra prolongou-se sem vencedores até 1988, mas impôs pesadas perdas materiais e humanas aos dois lados, agravadas pelo uso de armas químicas por parte do Iraque (ver boxe O Iraque de Saddam Hussein).

Outro fator que limitou a assertividade do Irã foi a necessidade de retomar a exportação de petróleo. Sem poder contar com os EUA, voltou-se aos mercados da Europa Ocidental e Ásia. A NIOC negociava com seus consumidores, não dependendo mais das multinacionais. Em 1979, o sistema viu-se assolado pela segunda crise do petróleo. Pressões adicionais foram o ataque de Israel a um reator nuclear em 1981, as tensões no Líbano e Síria com envolvimento norte-americano e israelense e a Primeira Intifada em 1987. Com os norte- americanos, entre 1986 e 1988, mais momentos de tensão entre forças militares e a derrubada de um Airbus civil iraniano, "por engano".

Durante esse período conturbado, Khomeini manteve-se como Líder Supremo, com Khamenei na presidência. Em 1989, quando se completou a primeira década da revolução, Khomeini morreu e Khamenei assumiu o posto de Líder Supremo, reforçando o poder do clero, com Hashemi Rafsanjani na presidência, reeleito em 1993. Um episódio que se tornou famoso e antecedeu a morte de Khomeini foi a publicação de um decreto religioso (fatwa), condenando o escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie à morte pela publicação do livro Os versos satânicos. Por isso, até recentemente, Rushdie esteve sob proteção dos serviços secretos britânico e norte- americano.

Para Bush, o Irã faz parte do "Eixo do mal", ao lado do Iraque e da Coréia do Norte

Entre 1990 e 1991, a Guerra do Golfo, que envolveu o Iraque e os EUA, criou um novo impasse. Para o Irã, a presença norteamericana era percebida como ameaça e, no pós-Guerra Fria, o país e o Iraque passaram a ser classificados como Estados bandidos (detêm políticas agressivas e não cumprem as regras internacionais). Na administração de Bill Clinton (de 1993 a 2001), a política aplicada foi a "Dupla Contenção" Irã-Iraque, com reforço do embargo. Mas, a essa época, algo já mudava no Irã.

KHATAMI PRESIDENTE: NOVA REVOLUÇÃO?

Perto de completar sua segunda década, em 1999, a Revolução Iraniana entrou em um processo de renovação. A participação popular democrática e o acesso à educação constituíam-se em pilares de mudança que se chocavam com o baixo desenvolvimento econômico e o tradicionalismo. Desse embate, emergiu, com a vitória de Mohammad Khatami nas eleições presidenciais de 1997, uma voz reformista que se não desejava o retorno pleno do alinhamento ao ocidente, buscava um Irã moderno. O avanço se consolidou nas eleições de 1999 (municipais e legislativas) e na reeleição de Khatami, em 2000. Os votos provinham do eleitorado feminino, jovens, intelectuais e profissionais liberais, de foco urbano. Com quase 70 milhões de habitantes, o Irã é um país com média de idade jovem, 26 anos, com mais de 70% da população na faixa de 15 aos 64 anos, uma geração que mescla os que fizeram a revolução com os que nela nasceram.

Mohammad Khatami, presidente do Irã de 1997 a 2005, em visita a um centro judeu em Teerã. Khatami buscava um país mais moderno e aberto social e politicamente

Apesar do apoio, os reformistas não conseguiram levar o projeto adiante. A reação dos conservadores gerou endurecimento na aplicação das leis e atuação da polícia religiosa, repressão aos partidos políticos, censura e fechamento de jornais, revistas e associações e a anulação e invalidação sistemática de candidaturas reformistas. Se em 1997, 1999 e 2000 permitiu-se um amplo espectro de candidatos, nos anos seguintes a situação foi diferente.

Khatami falhou em sustentar a abertura social e política diante das pressões. Se parte disso pode ser explicado pela estrutura de poder, outra deriva de certa timidez em fazer uso do apoio popular para pressioná-la. O aprofundamento da crise econômica (inflação, desemprego, dependência do petróleo) representou fator de debilidade. O projeto externo, o "Diálogo das Civilizações" (em oposição ao "Choque"), não se completou. >> Kathami chegou a ser chamado de "Gorbachev do Oriente Médio", mas, diferentemente do exlíder soviético, as respostas ocidentais foram tímidas, principalmente dos EUA (levantamento parcial do embargo e leve descongelamento).

O atual presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, governa o país de maneira populista e nacionalista. Sua atitude mais famosa no ocidente é insistir no enriquecimento de urânio

As tentativas de reaproximação foram interrompidas por George W. Bush, que, com os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, intensificou suas acusações contra os países islâmicos. Em 2001, com a guerra do Afeganistão, em 2002 com a inclusão do Irã no "Eixo do Mal" e a Doutrina Bush e, em 2003, com a guerra do Iraque, acentuou-se a preocupação iraniana com sua autonomia e soberania: o país sofria um "cercamento". Em 2005, todos esses fatores culminaram com a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, apoiado pelo Líder Supremo Khamenei, atual presidente.

PASSADO E FUTURO

A presidência de Ahmadinejad é exemplo das contradições que permanecem no Irã. Ahmadinejad esteve na linha de frente da revolução de 1979 e é apontado pelos norte-americanos como um dos responsáveis pelo episódio do seqüestro na Embaixada. Ahmadinejad é um presidente que representa os conservadores e o tradicionalismo, mas que não pode impedir que, mesmo alijados da presidência e do parlamento, os reformistas mantenham sua influência e presença. Interrompida, mas não encerrada, a "revolução" de Khatami permanece latente.

Além do programa nuclear, o Irã desenvolve parcerias estratégicas com a China e a Venezuela

Externamente, o Irã recorreu ao programa nuclear para reforçar-se, em uma postura que soa agressiva, só que simultaneamente é defensiva. Por conta disso, o país tem sido objeto de diversas inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Outra válvula de escape são as parcerias estratégicas com a China e a Venezuela de Hugo Chávez, com seu discurso antiimperialista e antiamericano, que tenta reativar o Movimento Não-Alinhado, assim como a retomada de um relacionamento mais próximo com a Rússia pós-soviética.

Por meio dessas alianças, o Irã tenta preservar- se e, apesar das pressões, desempenhar um papel importante no Oriente Médio que, pela geografia, recursos e história, deveria ser de estabilidade. Mas globalmente, entre as demais populações e países islâmicos, estabilidade novamente deveria ser a chave: para isso, não só o mundo, mas também o Irã necessitam encontrar um equilíbrio. A Revolução Iraniana pode ser vista, em vez de um movimento religioso, como um ato político, um repensar entre modernidade e tradição.

IRÃ LINHA DO TEMPO

1903 - Descoberta de petróleo e concessão de exploração aos britânicos

1906 - Revolução Constitucionalista contra poderes monárquicos e a exploração estrangeira do petróleo. Criação do Majilis (Parlamento) e limitação dos poderes monárquicos

1907 - Divisão da Pérsia em Zonas de Influência entre Grã-Bretanha e Rússia

1921 - Encerramento da dinastia Kajar e golpe de Reza Khan Pahlavi. Começa o processo de ocidentalização (banimento do véu) e tensões religiosas

1932/1933 - Pressões internas iranianas para a revisão das concessões britânicas para exploração de petróleo

1935 - Mudança do nome de Pérsia para Irã (APOC transforma-se em AIOC - Companhia Anglo- Iraniana de Petróleo)

1941 - Ocupação britânica e soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Abdicação do Xá em favor de seu filho Mohammad Reza Pahlavi

1946 - Crise com a União Soviética. EUA pressionam e conseguem a retirada. Um dos marcos iniciais da Guerra Fria

1951 - Início do governo de Mohammad Mossadegh. Nacionalização da indústria petrolífera. Embargo econômico ao Irã provocado pela Grã- Bretanha e EUA

1953 - Derrubada do governo de Mossadegh pela Operação Ajax, liderada pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha; o Xá Mohammad Reza Pahlavi volta ao poder

1960 - Criação da OPEP

1963 - Revolução Branca. Prisão do líder do movimento, o Aiatolá Khomeini

1964 - Libertação e exílio de Khomeini no Iraque

1972/1976 - Aprofundamento dos laços bilaterais Irã-EUA durante governo Nixon. Irã recebe armas e ajuda para se tornar o principal poder militar na região

1973 - Primeira Crise do Petróleo

1978 - Do Iraque à França, Khomeini lidera os primeiros movimentos revolucionários contra o Xá; intensificação da crise econômica e da repressão à oposição

1979 - O Xá deixa o país e segue para o exílio, em janeiro, transferindo o poder ao primeiro-ministro Shapur Bakthiar

Fevereiro - Retorno de Khomeini ao país

Abril - Proclamação da República Islâmica do Irã

Novembro - Invasão da Embaixada dos EUA. São feitos 64 reféns

Dezembro - Ratificação da Nova Constituição. Estabelecimento da autoridade religiosa máxima do Líder Supremo, baseada na sharia

1980 - Início da Guerra Irã-Iraque (1980/1988)

1981 - Libertação dos 64 reféns norte-americanos; ataque ao reator iraniano Osirak por forças israelenses; uso de armas químicas pelo Iraque na Guerra; solidificação do poder de Khomeini com violenta repressão interna; presidente Bani Sadr é destituído. Rajai é indicado como presidente, mas é assassinado em disputas políticas internas com as forças socialistas. Sobe ao cargo Ali Khamenei

1982/1984 - Crise nas fronteiras de Líbano e Síria envolvendo Israel, Irã e os EUA

1986/1988 - Crises entre forças militares iranianas e norte-americanas no Golfo Pérsico

1989 - Khomeini morre em junho e é substituído por Ali Khamenei como Líder Supremo, mantendo os conservadores no poder. Eleição do presidente Hashemi Rafsanjani (reeleito em 1993)

1990/1991 - Guerra do Golfo (Iraque X EUA)

1995/2000 - Embargo comercial dos Estados Unidos

1997 - Eleição do presidente reformista Mohammad Khatami

1999 - Vitória Reformista nas eleições municipais

Kathami visita a Itália - primeira visita ao ocidente de um líder iraniano em duas décadas

Início do lento processo de descongelamento bilateral EUA-Irã, comandado por Madeleine Albright, então Secretária de Estado norteamericana. Diminuição de sanções sobre o país (alimentos e medicamentos)

Começo da ofensiva tradicionalista contra reformistas, protestos reformistas contra o aumento da censura

2000 - Vitória reformista nas eleições parlamentares; continuidade do descongelamento entre relações bilaterais EUA-Irã

Albright reconhece oficialmente a participação dos EUA no golpe contra Mossadegh, em 1953

Por meio de Khamenei, os conservadores expressam seu desagrado com a reaproximação do ocidente

2001 - Reeleição do presidente Mohammad Khatami

Presidente Bush pára o processo de descongelamento

Ataques ao World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro

Acordo militar Irã-Rússia

Programa nuclear iraniano é denunciado pela CIA, assim como o patrocínio do terrorismo internacional armado

2002 - EUA denunciam o Irã como membro do "Eixo do Mal", ao lado do Iraque e da Coréia do Norte; repúdio norteamericano ao programa de enriquecimento de urânio iraniano

2003- Invasão norteamericana ao Iraque; construção de reatores nucleares iranianos em Natanz e Arak; EUA consideram invadir o Irã; AIEA não declara o Irã em violação com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares

2004 - Tradicionalistas vencem eleições parlamentares; reformistas não conseguem concorrer: desqualificação de candidatos, fechamento de partidos e mídias livres; resolução da ONU condena as atividades nucleares secretas do Irã. Crise nuclear se intensifica

2005 - Junho: vitória de Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais; Irã anuncia que não abdicará de enriquecimento de urânio para fins pacífico e energético (apoio russo e chinês); ameaça do uso da força pelos EUA. Em agosto, a AIEA declara o Irã em violação com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares

2006 - Condoleezza Rice, Secretária de Estado norte-americana, diz que o Irã é o maior inimigo dos Estados Unidos; oferta de conversações diplomáticas sobre o Iraque é recusada pelos EUA, que acusam o Irã de patrocinar milícias xiitas; continuidade do programa nuclear iraniano e pressões por parte dos EUA e da UE

2007 - Agravamento da situação iraquiana leva a conversações entre EUA e Irã

Março - Embaixador norte-americano Zalmay Khalilzad e diplomatas iranianos encontram-se na cúpula dos vizinhos do Iraque

Setembro - Ahmadinejad anuncia que três mil centrífugas estão enriquecendo urânio. Khamenei sugere que Bush seja julgado por crimes contra a humanidade por causa da operação no Iraque

Dezembro - Relatório da CIA afirma que o Irã parou de produzir armas em 2003, ainda que tenha continuado a enriquecer urânio. Rússia fornece combustível nuclear às usinas e pressiona Irã para encerrar seu programa de enriquecimento de urânio

2008 - Janeiro - Khamenei menciona a possibilidade de reativar relações diplomáticas com os EUA; Bush continua afirmando que o Irã é o país que mais patrocina o terrorismo internacional; surgem hipóteses de reabertura de embaixada dos EUA no Irã

2009 - Prosseguem os ataques israelenses à Faixa de Gaza, iniciados em dezembro de 2008.

REFERÊNCIAS
BRAUDEL, Fernand. A history of civilizations. NY, Penguin Books, 23rd ed, 1995
COGGIOLA, Osvaldo. A revolução iraniana. São Paulo, Ed. Unesp, 2007
HALLIDAY, Fred. Islam and the myth of confrontation. London/ NY I.B Tauris, reprint, 2003 HUNTINGTON, Samuel P. O choque das civilizações. SP, Objetiva, 1997
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Oriente Médio e Afeganistão- um século de conflitos. Porto Alegre, Leitura XXI, 2002

CRISTINA SOREANU PECEQUILO é professora de Relações Internacionais da Unesp, pesquisadora associada do NERINT/UFRGS e colaboradora do site Mundorama. Autora de A política externa dos Estados Unidos (2ª ed. 2005, Ed. UFRGS) e Introdução às relações internacionais (5ª ed., 2007, Ed.Vozes).

Revista Leituras da Historia

Nenhum comentário:

Postar um comentário