domingo, 19 de abril de 2009

O freguês tem razão


Um país que se encontra nas feiras
Bartolomeu Figueirôa de Medeiros

Quem visitar a Feira de Caruaru encontrará por lá “de tudo o que há no mundo”, como diz a música do compositor caruaruense Onildo Almeida. Declarada Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro em 7 de dezembro de 2006, a feira existe na cidade pernambucana há mais de 200 anos. Ela é realizada aos sábados e inclui 15 feiras com diferentes tipos de mercadorias, incluindo gado, roupas baratas – provenientes de inúmeras “fábricas de fundo de quintal” e de pequenas griffes populares –, produtos importados, artesanato, bolos e doces, flores e plantas ornamentais.

Assim como em Caruaru, feiras grandes existem por todo o país. A variedade de produtos, aliás, é um dos maiores atrativos dessa que é uma das mais tradicionais opções de lazer e comércio dos brasileiros. Nas chamadas Feiras Livres se vendem gêneros de primeira necessidade, calçados, roupas baratas, materiais de limpeza. Quem procura produtos especializados pode ir a uma das muitas Feiras de Troca-troca de veículos e outros objetos usados. Já as grandes e pequenas Feiras do Artesão e do Artesanato aliam, com seus estandes criativamente decorados, os aspectos de exposição e comercialização. Por aqui, feira é o que não falta – tem de tudo: livros, discos, antiguidades, animais etc.

Além de fazer compras – muitas vezes barganhando um “precinho camarada” com o vendedor –, os consumidores descobrem nas feiras uma grande concentração de formas de lazer. Pode-se viver uma experiência estética agradável contemplando os artesanatos, as flores, a beleza dos pratos típicos que entram pelos olhos e narizes, atiçando a gula! É sempre divertido passear pelos boxes olhando as novidades, se encantando com o colorido das peças, roupas e artigos expostos, num tranqüilo “não fazer nada”, num “andar por andar”, pelo puro prazer de ver, sentir, tocar, paquerar... Há ainda a alegria de rever os amigos que se dedicam ao mesmo tipo de atividade, como acontece nas feiras de gado, espaços de convivência entre iguais – criadores ou compradores-vendedores.

Um dos locais de lazer importantes dessas feiras – como pode ser observado na Feira do Fumo, em Caruaru, na Feira das bicicletas, em Goiana (PE), e em feiras de carros usados – são os ambientes de convívio masculinos. Os homens vão a esses eventos pelo puro prazer de encontrar velhos amigos, fazer novos, “jogar conversa fora”, contar “causos”, trocar informações sobre qualidade de fumo, carros, motos...

Muitas famílias viajam de suas cidades ou vilas para os centros maiores, onde as feiras têm mais variedade de ofertas. As compras são ocasiões para rever amigos e parentes de outros lugares, comentar os fatos da semana e para as crianças se socializarem. Os homens se reúnem para beber nos bares ou nas calçadas próximos à feira, as mulheres conversam “assuntos de mulher” e os raros jovens paqueram. Uma grande fonte de diversão, principalmente para as classes populares, as feiras são também espaços de incremento dos laços familiares, de amizade, de circulação de saberes. O prazer que isso traz após uma semana de trabalho talvez seja proporcional apenas ao tamanho da Feira de Caruaru.

Bartolomeu Figueirôa de Medeiros (Frei Tito) é professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Revista de Historia da Biblioteca Nacional

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