POR SÉRGIO PEREIRA COUTO
Muito mais do que um ritmo que encantou gerações, o rock’n’roll tornouse uma espécie de fonte inesgotável para a criação de lendas. Praticamente todos os grandes nomes do rock, de todas as épocas, já foram protagonistas de uma ou outra história escabrosa. Algumas delas, o leitor já deve ter ouvido falar. Seja em tom de piada ou de assunto sério, esses mitos, que muitas vezes são estimulados pelos próprios artistas, espalham- se em conversas de bar, fã-clubes dos ídolos, e biografias (autorizadas ou não) das bandas.
O curioso é que a análise dessas histórias leva à conclusão que elas possuem uma tendência a se repetir. Isso porque se trata de um fator que tende a voltar à baila de uma maneira ou de outra, muitas vezes pela própria aproximação de estilos, como no caso dos cantores Alice Cooper e Marilyn Mason - guardadas as devidas proporções entre eles, claro.
Se analisarmos bem, muitas dessas lendas partem do princípio de que os fãs acreditam em qualquer coisa, mesmo que remotamente condizente com a maneira como seu ídolo se apresenta. Assim, é fácil inventar explicações bizarras para o comportamento de Ozzy Osbourne, ex-vocalista da banda Black Sabbath, ou de Gene Simmons, vocalista do Kiss. Embora esses dois cantores já tenham mostrado em seus programas de televisão The Osbournes e Gene Simmons: Family Jewels (ambos já transmitidos no Brasil) que estão mais para patriarcas bem comportados do que para os demônios do palco, que mordem cabeças de morcego ou colocam línguas de vaca implantadas na própria boca.
As lendas dos astros de rock comprovam que os fãs são capazes de acreditar em qualquer coisa
Gene Simons (à esq.), vocalista da banda Kiss, habita umas das lendas mais bizarras do rock: sua língua seria um implante
Mas, acreditar nessas histórias é uma vontade incontida dos fãs desses artistas que quebram barreiras e que ninguém diz a eles como devem se comportar. As lendas do rock continuam a proliferar nos dias de hoje, apesar de os astros atuais não darem tanto motivo para criá-las como os dos anos 60, 70 e 80. Porém, engana-se quem pensa que anedotas estranhas que envolvem os astros da música são exclusivas do rock. Se olharmos, por exemplo, para o blues, apontado como a principal influência para a criação do rock, veremos que histórias mais estranhas já foram veiculadas.
A ALMA PELO SUCESSO
A lenda mais famosa do blues envolve o cantor americano Robert Johnson (1911-1938), admirado e cultuado por grandes nomes do rock, como Robert Plant, Jimmy Page, Eric Clapton, Keith Richards, Brian Jones, Rory Gallagher e Jimi Hendrix. Robert Johnson influenciou grupos como Phish, ZZ Top, Lynyrd Skynyrd, Rolling Stones, Allman Brothers Band, Grateful Dead e Red Hot Chili Peppers. Dizem que a morte de Johnson, que ocorreu em circunstâncias misteriosas, em 16 de agosto de 1938, foi um dos primeiros casos de um cantor que teria feito um pacto com o demônio em troca de sucesso. Esse mito de vender a alma para receber em troca o sucesso se repetiu com as principais bandas do rock, de Beatles a Led Zeppelin, de Black Sabbath a Red Hot Chili Peppers, de Echo and the Bunnymen a Soundgarden.
CONTRATO COM O DIABO
Dizem que o bluesman Robert Johnson vendeu sua alma ao diabo
Toda a vida de Johnson está envolta em mistério. Como não existe nada muito bem documentado sobre o cantor, a grande quantidade de lendas que o cercam tornam qualquer pesquisa difícil. Estudiosos sérios sobre sua obra e biógrafos confiáveis não apareceram antes do final da década de 1960, sendo os principais Mack McCormack e Stephen LaVere. A maior parte das informações sobre a vida de Johnson veio de lembranças de familiares e amigos. Até mesmo as imagens mais difundidas do cantor só foram encontradas em 1973, em fotos que estavam em poder da meia-irmã dele, Carrie Th ompson, e só foram divulgadas no final de década de 1980.
O nome completo do artista era Robert Leroy Johnson. Ele nasceu em 8 de maio de 1911, em Hazlehurst, no Mississipi. Johnson era o 11o filho de Julia Major Dodds, que tivera dez outros filhos com seu marido, Charles Dodds. Como Johnson era um filho de relação extraconjugal, não recebeu o nome dos demais. Sua mãe tentou reunir a família, já que se viu obrigada a abandonar o lar de seu marido por causa da infidelidade, mas nunca conseguiu seu intento. O bebê ficou com o pai postiço, que chegou a aceitá-lo para que convivesse com seus demais fi- lhos, mas jamais perdoou completamente a mãe do menino. Foi apenas na adolescência que o garoto soube quem era seu pai verdadeiro, um trabalhador do campo chamado Noah Johnson.
Em 1914, com apenas 3 anos, Robert Johnson se mudou com os Dodds para Memphis, onde começou a tocar violão sob a proteção de um meioirmão mais velho. Anos mais tarde, ele caiu na estrada e se juntou a alguns amigos que já eram do meio musical, que viajavam por todo o território do delta do rio Mississipi.
De acordo com o folclore do blues, Robert, tomando pelo desejo de se tornar um grande músico, seguiu alguns conselhos para que pegasse sua guitarra (ou violão) e que a levasse para uma encruzilhada próxima a uma plantação por volta da meia-noite. Lá ele se encontrou com um enorme negro (que seria o demônio), que tomou o instrumento de Robert, afinou-o para que pudesse tocar o que quisesse, e a devolveu ao cantor. O preço: a alma do músico. Em menos de um ano ele teria a fama que tanto almejava.
A CONSPIRAÇÃO DOS JOTAS
Um prato cheio para teorias da conspiração: Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison morreram quase na mesma época, todos em circunstâncias misteriosas e aos 27 anos de idade
Mortes misteriosas costumam ser ponto de partida para as lendas que envolvem os astros do rock. A partir de uma morte que tenha acontecido em circunstâncias obscuras, os fãs aproveitam para imaginar que o ídolo possa ter sido calado de propósito por motivos políticos ou coisa parecida.
Certamente, a mais fantasiosa dessas histórias é a chamada “conspiração dos J’s”. Isso tudo começou, infelizmente, com uma fatalidade que levou três dos maiores nomes do rock dos anos 1960: Jimi Hendrix, em setembro de 1970, Janis Joplin, em outubro do mesmo ano, e Jim Morrison, em julho de 1971. De alguma maneira, todos eles estavam ligados ao blues, que dizem ser a música do diabo.
Além do blues, Jimi, Janis e Jim se envolveram com barbitúricos e outros tipos de drogas que eram muito comuns na década de 1960. Mas o fato de que os cantores tiveram carreiras meteóricas e mortes súbitas lançou as mentes dos fãs às alturas. Diz a lenda que nenhum dos três artistas teria escapado da morte porque eles teriam sido assassinados por agentes secretos ligados ao FBI, que estariam interessados em calar as vozes mais destacadas da juventude da época. O movimento “paz e amor” que esses músicos defendiam era radicalmente contra conflitos como a Guerra do Vietnã. Dessa maneira, segundo os boatos, “as forças ocultas” estariam tentando controlar as opiniões dos jovens e forçando-os a pensarem como o governo norte-americano queria. O fato de que a morte dos três até hoje não foram bem explicadas (embora todas envolveram o abuso de drogas), e aconteceram em um período curto de tempo, reforça a tese de que os “J’s” foram vítimas de alguma conspiração. Um outro detalhe: todos eles possuíam 27 anos quando morreram.
Mais um “J” faz parte do grupo de roqueiros que tiveram fins trágicos aos 27 anos de idade: Brian Jones, o guitarrista dos Rolling Stones. Jones foi encontrado afogado em uma piscina, em 3 de julho de 1969. Outros “J’s” da lista são John Bonham, baterista do Led Zeppelin, que morreu por intoxicação alcoólica, em setembro de 1980, e John Lennon, dos Beatles, que foi assassinado em dezembro de 1980. Mas nenhum dos dois tinha 27 anos ao morrer.
Até hoje, ninguém sabe se essa história foi inspirada em algum fato verídico. O fato é que Johnson, um músico de talento, tornou-se da noite para o dia o rei dos cantores do delta, capaz de tocar, cantar e criar algumas das maiores canções que o blues já conheceu.
Johnson gravou alguns títulos como Me and the Devil (Eu e o Demônio), em que diz: “No começo desta manhã, você bateu na minha porta/ E eu disse ‘Olá, Satanás, acho que é hora de ir’/ Você pode enterrar meu corpo ao longo da rodovia/ Para que meu velho espírito maligno possa entrar num ônibus e passear”.
A SINA DOS 27 ANOS
Johnson morreu aos 27 anos, um número cabalístico para os artistas do rock, já que foi com essa mesma idade que se foram outros ídolos da música: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones (guitarrista dos Rolling Stones), Alan Wilson (vocalista do Canned Heat), Brian Cole (baixista do Associations), Ron Pigpen McKernan (vocalista do Grateful Dead), Gary Th ain (baixista do Uriah Heep), Kurt Cobain (vocalista do Nirvana), entre outros.
BEATLES ETERNAMENTE Conta-se que Paul McCartney (seguindo da esquerda para a direita) morreu em 1966 e foi substituído por um sósia
A morte de Johnson, em 16 de agosto de 1938, aconteceu em uma encruzilhada (meio irônico, não?) próxima à cidade de Greenwood, no Mississippi. Dizem que, algumas semanas antes de morrer, ele começou a paquerar uma mulher de um clube onde tocava. Só que ela era casada e, por influência do marido ciumento, teria oferecido uma garrafa de uísque envenenado ao músico. De acordo com testemunhas, ele morreu dias depois, em estado convulsivo por causa da bebida. Relatos exagerados falam que, antes de morrer, Johnson teria começado a uivar como um cão, pois havia chegado a hora de pagar pelo pacto com o diabo.
A morte de Johnson também é contestada, como acontece com outros ídolos do rock. Assim como falam de Elvis Presley e Jim Morrison (vocalista do The Doors), há quem diga que Robert Johnson não morreu. Em contrapartida, tem gente que “quer matar” aqueles que estão vivos. A morte do cantor Lou Reed já foi anunciada pela internet, com direito até a papel de carta timbrado. Mais mirabolante ainda é o boato a respeito da morte de Paul McCartney, baixista dos Beatles. Dizem que o verdadeiro Paul morreu em 1966, em um acidente de carro, e foi substituído por um sósia.
O LADO ESCURO DE OZ
Um dos mitos mais famosos que envolve um álbum de rock fala a respeito de um suposto fenômeno de sincronia entre The Dark Side of Th e Moon (1973), trabalho da banda psicodélica inglesa Pink Floyd, e o filme O Mágico de Oz, de 1939. O disco levou a popularidade da banda para as alturas: a faixa Money invadiu as rádios norte-americanas ficou entre o Top 20; nas paradas britânicas, ficou entre as mais tocadas por 301 semanas. Dark Side possui efeitos sonoros incidentais e apresenta uma idéia completamente nova: coloca partes de entrevistas ao longo das músicas, a maioria gravada em estúdio. As letras desse álbum falam sobre as diferentes pressões no dia-a-dia do ser humano. O disco foi gravado no estúdio Abbey Road, em Londres, o mesmo em que os Beatles fizeram vários de seus álbuns. Segundo alguns conspirólogos (nome que se dá àqueles que estudam conspirações e que, muitas vezes, são os principais responsáveis por espalhar os boatos), só por ter sido gravada no mesmo estúdio dos Beatles, a obra mais famosa do Pink Floyd já seria uma espécie de “influência psíquica indireta” sobre os ouvintes.
MÚSICA PROFANA O Led Zeppelin (abaixo) se inspirou na música de Robert Johnson, cantor de blues que teria vendido a alma ao diabo
Quando a história da sincronia de Dark Side com o filme O Mágico de Oz foi divulgada, na década de 1990, muitos fãs se mostraram um pouco céticos sobre o assunto. Tal fato foi negado diversas vezes tanto por Roger Waters, compositor e vocalista da banda, quanto por David Gilmour, também vocalista e guitarrista do Pink Floyd. No entanto, os conspirólogos continuam insistindo no assunto.
DARK SIDE INFANTIL Cena do filme O Mágico de Oz, fonte de inspiração para Pink Floyd
DESENHO PSICODÉLICO
Com uma cópia do disco The Dark Side of the Moon e um exemplar do DVD do filme O Mágico de Oz é possível conferir a simultaneidade entre as obras na sua casa
A sincronia do álbum The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, com o filme O Mágico de Oz pode ser facilmente reproduzida em casa. Basta uma cópia do filme em DVD e o CD da banda inglesa psicodélica (as fitas VHS e os discos em vinil são mais difíceis de serem sincronizados).
Primeiro, coloque o CD para tocar e aperte o Pause. Em seguida, ponha o DVD no aparelho e aguarde ser carregado. Pressione a tecla Play de seu controle remoto para dar inicio ao filme. Quando as imagens começarem a aparecer na televisão, aguarde o leão símbolo do estúdio Metro- Goldwyn-Mayer rugir. Detalhe importante: a simultaneidade das obras só pode ser conferida com a versão original do Mágico de Oz, em que o começo do filme é em preto e branco. Se a versão for colorida, o resultado pode ter ligeiras diferenças.
Depois do terceiro rugido do leão, aperte o Play de seu CD e imediatamente acione a tecla mudo da sua TV. Há quem diga que uma sincronia maior entre as obras é obtida quando o CD é acionado após o primeiro rugido do leão. Depois, basta acompanhar o desenrolar do filme e prestar atenção na música. Importante: não se esqueça de programar o CD para tocar de novo quando acabar sua primeira execução.
Se você consegue entender bem a língua inglesa e as letras das músicas, a possibilidade de apreciar o efeito é maior, pois muito do que é cantado aparece na tela. Por exemplo:
• Look around (olhe ao redor), e Dorothy olha ao redor
• Dig that hole (cave aquele buraco) e o fazendeiro do filme aponta para o chão
• Moved from side to side (moveram- se de um lado para o outro), e os Munchkins correm de um lado para outro quando surge a Bruxa Má do Oeste.
• Black and blue (preto e azul), quando é dito black, a bruxa é vista, quando é dito blue, aparece o rosto azul dela
• Os sons de relógios na introdução da música Time começam a tocar assim que a personagem Elvira Gulch aparece na bicicleta, e cessam assim que ela pára de pedalar
• A canção The Great Gig in the Sky se inicia assim que o tornado se aproxima no filme, e suas mudanças de ritmo combinam com o clima
• A música Money começa quando Dorothy abre a porta para o mundo de Oz e o filme deixa de ser preto-e-branco e torna-se colorido
• As bailarinas do desenho dançam ao ritmo de Us and Them
Ninguém sabe ao certo como surgiu a idéia de simultaneidade entre o trabalho da banda inglesa e o filme baseado no livro do escritor norte-americano Lyman Frank Baum. Sabe-se apenas que em 1994 os fãs da banda já discutiam o assunto abertamente no grupo de discussão do site Usenet (alt.music.pinkfloyd). Desde então, o assunto foi estudado exaustivamente por músicos, pesquisadores da história do rock e até por profissionais de vídeo. Passou a ser uma referência de cultura popular já no ano seguinte, quando, em agosto de 1995, um jornal de Fort Wayne, no Estado norte-americano de Indiana, publicou o primeiro artigo na grande mídia sobre a sincronia.
Não demorou muito para que os fãs começassem a criar sites na internet, onde pudessem descrever suas experiências enquanto viam as coincidências entre as duas obras. A legião de interessados cresceu quase exponencialmente em 1997, quando um locutor de uma rádio de Boston discutiu o fenômeno no ar. Isso levou a mais uma chuva de artigos de revistas especializadas em rock e um segmento inteiro dedicado ao assunto no informativo da emissora de televisão MTV norte-americana.
MITOS CLÁSSICOS
São muitas as lendas excêntricas sobre os músicos e as bandas, mas algumas delas já foram tão difundidas que viraram histórias tradicionais do rock
- As maquiagens do Kiss foram criadas para esconder as feições do guitarrista Ace Frehley que, na verdade, é Jim Morrison
A insistência da banda em usar máscaras surgiu na década de 1970 e terminou em 1983, com o lançamento do álbum Lick It Up. O mistério sobre as circunstâncias que levaram à morte de Jim Morrison, o célebre vocalista do The Doors, em 1971, fez com que os conspirólogos afirmassem que o líder do Doors poderia estar por trás de um dos rostos da banda. Para reforças ainda mais a lenda, Frehley sempre teve fama de beberrão, como Morrison, e nunca se arriscou a cantar, pelo menos não nos primeiros discos. E como o guitarrista mascarado quase não falava nada, começaram a dizer que ele era o cantor-poeta, que não abria a boca para não ser reconhecido. O fato de Frehley não se parecer fisicamente com Morrison nem foi levado em consideração, muito menos o fato de que Jim não tocava guitarra, enquanto que o membro do Kiss é considerado um dos melhores guitarristas dos anos 1970
- Ozzy Osbourne mordeu a cabeça de um morcego durante uma aparição promocional, seguindo ordens de sua empresária e futura esposa, Sharon
Em 20 de janeiro de 1982, durante um concerto em Iowa, nos Estados Unidos, Ozzy de fato mordeu um morcego. Durante a apresentação, ele atirou carne crua para a platéia, que por sua vez atirou várias coisas no palco, inclusive o tal morcego. Não se sabe se o animal estava vivo ou morto, mas para ser atirado, é de se supor que estivesse morto. Ozzy afirma até hoje que fez isso porque acreditava ser um brinquedo. Por causa da brincadeira, ele acabou tendo que tomar vacinas antirrábicas, e jurou em seu programa na MTV que jamais quer ver um morcego de novo na vida. Quanto à Sharon, dizem que ela sempre controlou a carreira do marido, a ponto de estabelecer limites em suas bebedeiras e controlar seus acessos de ansiedade. Mas, com certeza, ela não foi responsável pela mordida de Ozzy
Stairway to Heaven, música da banda britânica Led Zeppelin, é de cunho satânico e possui uma mensagem subliminar que comprova esse fato
Mensagens ocultas são encontradas em quase todos os clássicos do rock. No caso de Stairway to Heaven, a canção já foi usada por grupos religiosos como exemplo da prática do backmasking, a ocultação de uma mensagem, colocada de trás para frente em uma gravação, para que o inconsciente do ouvinte memorize. O verso “cause you know sometimes words have two meanings” (porque você sabe que às vezes as palavras têm dois significados) seria a prova dessa teoria. Ainda por cima, dizem que a frase significa algo como “here´s to my sweet satan” (aqui para o meu doce satã), ou ainda “I will sing because I live with Satan” (eu vou cantar porque vivo com satã). No começo dos anos 90, o vocalista da banda, Robert Plant, desmentiu esse boato em uma entrevista à revista Rolling Stone e indagou: “Quem iria perder tempo com algo tão inútil?”
Interessado em atrair a atenção para o fenômeno, o canal por assinatura norte-americano Turner Classic Movies (TCM) exibiu O Mágico de Oz junto com Dark Side, como trilha sonora opcional. Os fãs que se interessam pelo sincronismo falam que já juntaram mais de 100 momentos de conexão entre o filme e o disco. É claro que o álbum em si é de menor duração que o filme, por isso o correto é fazer com que o disco recomece depois que termine sua primeira execução. E os fãs afirmam que o fenômeno chega a se repetir.
Dizem que os exemplos de sincronismo podem ser percebidos nas seguintes passagens: o verso balanced on the biggest wave (balançado na maior das ondas), da música Breathe, é cantando enquanto a personagem Dorothy se balança em cima de um muro; quando Roger Waters canta “who knows which is which” (quem sabe quem é quem), na balada Us and Them, as bruxas boa e má do Mágico de OZ se confrontam no filme; e o verso the lunatic is on the grass (o lunático está na grama), da faixa Brain Damage, é cantado enquanto o Espantalho, cujo corpo é preenchido com grama seca, age freneticamente como um louco.
COINCIDÊNCIA OU INSPIRAÇÃO?
Há quem jure que há uma sincronia perfeita entre os temas de certos discos e filmes
Paul’s Boutique (1989), dos Beastie Boys / Curtindo a Vida Adoidado (1982)
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles / Fantasia (1940), da Disney
Post (1995), de Björk / Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977)
About Face (1984), de David Gilmour / Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982)
Waiting For The Sun (1968), do The Doors / Evil Dead II - Uma Noite Alucinante (1987)
Fire on High (1975), da Eletric Light Orchestra / 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)
The Lamb Lies Down on Broadway (1974), do Genesis / Tron, Uma Odisséia Eletrônica (1982)
Three Friends (1972), do Gentle Giant / As Bicicletas de Belleville (2003)
Ritual de lo Habitual (1989), do Jane´s Addiction / Trainspotting (1996)
Electric Ladyland (1968), do Jimi Hendrix / O Massacre da Serra Elétrica (1974)
The Black Album (1991), do Metallica / Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980)
Dummy (1994), do Portshead / Psicose (1960)
A Night At The Opera (1975), do Queen / abaret (1972)
Rage Against The Machine (1992), do Rage Against The Machine / Faça a Coisa Certa (1989)
2112 (1976), do Rush / Contato (1997)
CONEXÃO BEM SUCEDIDA
Apesar de desmentida diversas vezes pelo próprio Pink Floyd, a relação entre Dark Side e O Mágico de Oz ainda é cultuada pelos fãs
Alguns especialistas em psicologia arriscam um palpite sobre o fenômeno. Para eles, tudo não passa de uma coincidência que pode ser explicada pela psicanálise de Carl Jung. Dizem os junguianos que o sincronismo entre o filme e o disco não passa de um evento onde fatores coincidentes parecem relacionados, mas não podem ser explicados pelos mecanismos convencionais de casualidade. Em outras palavras, a tal sincronia seria resultado de “uma tendência da mente de pensar que reconhece padrões desordenados por descartar informações que não se encaixam”. Essa tendência, segundo eles, teria o nome técnico de “confirmation bias”.
O guitarrista David Gilmour chegou a falar sobre o assunto durante uma entrevista realizada no 25o aniversário de Dark Side, em 1998. Para ele, o tal fenômeno de sincronismo foi obra de “algum cara com muito tempo livre” que “teve essa idéia de combinar O Mágico de Oz com The Dark Side of the Moon”. Em 2002, mesmo separados, os membros do grupo afirmaram em um especial para a MTV americana que a coincidência não seria possível, simplesmente porque entre 1972-1973, época em que o álbum foi gravado, não havia tecnologia disponível para que o efeito fosse produzido. Porém, a afirmação pouco interessa para os fãs que, não satisfeitos com o disco do Pink Floyd, foram buscar outros casos de sincronia. A tabela (abaixo) mostra outros exemplos de supostos casos de simultaneidade que, segundo algumas pessoas que se atreveram a observá-los, funcionam tanto quanto o caso do filme O Mágico de Oz e o disco do Pink Floyd.
REFERÊNCIAS:
Brunvand, Jan Harold. Encyclopedia Of Urban Legends. WW Norton, 2002 Sherman, Dale. Urban Legends Of Rock & Roll (You Never Can Tell). Collector´S Guide Publishing, 2003 Flynn, Mike & Brown, Yorick.
The 500 Best Urban Legends Ever! Ibooks, 2003 Fleming, Robert Loren & Boyd Jr., Robert F. The Big Book Of Urban Legends. Paradoxx Press, 1998
SÉRGIO PEREIRA COUTO é jornalista formado com passagem por revistas como Discovery Magazine e Ciência Criminal. É autor de mais de vinte títulos, todos enfocando aspectos curiosos da história universal, entre eles os romances Sociedades Secretas, Investigação Criminal, Renascimento e os livros de pesquisa A Extraordinária História da China e Segredos e Lendas do Rock.
Revista Leituras da Historia
Olá Eduardo,
ResponderExcluirAdoro música, prefiro a erudita, mas gosto de todos os gêneros. O Rock romântico do ídolo Elvis Presley morreu com ele, os Beatles se desuniram e fizeram carreira solo. Kiss quando surgiu, fez uma apologia às drogas e ao mal. Surgiram outras ramificações, como o Rock Pauleira, impossível para mim . En fim, também na música, o mundo decaiu. Os tempos áueos do Rock fizeram parte da nossa HISTÓRIA VIVA.
Parabens, pela postagem
Abraços
Mirze