por Marie Helène Parinaud
Cabul, a capital do Afeganistão, onde se refugia Osama Bin Laden, o mais famoso seguidor de Bin Sabbah
Os seguidores de Bin Sabbah - que se intitulava a sétima encarnação do Imã Ismael - eram homens dispostos a obedecê-lo cegamente, aceitando até mesmo o sacrifício da própria vida.
Eu farei todo o Oriente tremer!"... No dia 4 de setembro de 1090, quando Hassan bin Sabbah Homairi proferiu sua ameaça, acabava de conquistar sua mais importante vitória. A fortaleza de Alamut, que ele cobiçava havia anos, estava em suas mãos, enfim. Essa posição estratégica, chamada de "fortaleza dos abutres", estava no coração das montanhas Elbourz, a 1.800 metros de altitude, no noroeste do Irã.
Dominando três vales férteis, o local era o centro de uma rede de comunicações que conduzia, principalmente, a Teerã. Hassan bin Sabbah usou a mesma operação já testada com sucesso em outras incursões: seus seguidores se misturaram com a população, penetraram na fortaleza e abriram passagem para o seu chefe. Dessa cidadela inexpugnável, que ele não abandonaria durante os 35 anos seguintes e que seus sucessores também usaram como apoio por mais de um século, Bin Sabbah impôs à região sua religião e a lei do terror.
Bin Sabbah era filho de uma poderosa família iraniana de Qom, centro de propagação, desde o século IX, do ismaelismo, ramo dissidente dos xiitas que, ultrapassando o Corão, acrescentou aos seis profetas do Verbo (Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maomé) um sétimo enviado, Ismael.
Hassan estudou na capital do Egito, Cairo. Ali viveu a partir de 1079, onde aperfeiçoou seu conhecimento do Corão, descobriu o Antigo e o Novo Testamentos e os textos vedas hindus, conhecidos desde as invasões de Alexandre, o Grande. Ele tentou fazer uma síntese de todas essas religiões, misturando ainda o zoroastrismo, crença abraçada pelas populações iranianas desde o século VII a.C. Nesta síntese, ele acrescentou ainda um pouco de neoplatonismo. Durante sua permanência no Cairo, Hassan relacionou-se com Nizar, filho do califa da dinastia fatímida, al-Mustansir.
O herdeiro foi afastado da sucessão pelo primeiro-ministro, o vizir al-Afdal. Talvez fosse desse período o ódio de Hassan à dinastia fatímida, que reinava naquela região que os ocidentais - desde os gregos e os romanos - chamavam de Pérsia, mas que os seus habitantes já chamam de Irã. Foi em torno do nome de Nizar - depois assassinado - que ele reuniu os seus primeiros fiéis, os nizaritas.
A fortaleza da fortuna
Ao retornar para o Irã, Hassan difundiu sua doutrina em Isfahan. Sua pregação religiosa inquietou as autoridades. Na Pérsia, os turcos seljúcidas controlavam o poder e, como adeptos da ortodoxia sunita, perseguiam os xiitas. Por respeito à sua rica família, Hassan foi apenas expulso. Suas andanças o levaram e a seus fiéis para a Síria e, depois, para as montanhas ao sul do Mar Cáspio, que se tornaram seu feudo.
Ele adotou como lema o "tudo ousar". Para si mesmo é Davi, e o resto do mundo muçulmano, Golias. As fortalezas caíram, uma após a outra, em suas mãos. Até que, em 4 de setembro de 1090, ele conquistou Alamut. A "fortaleza dos abutres" foi rebatizada como "fortaleza da fortuna". Bin Sabbah estava certo de que conseguiria controlar os reinos localizados entre o Mar Cáspio e o Mediterrâneo.
O dinheiro não era sua principal motivação, mas o instrumento que lhe permitiu liberar a Pérsia, restaurar sua raça e impor sua própria concepção dos ismaelismo. Revoltado com a ocupação de seu país - primeiro pelos abássidas (árabes que reivindicam a ascendência de Abbas, tio de Maomé) e depois pelos seljúcidas (turcos sunitas) - ele estava decidido a eliminar a dinastia reinante dos fatímidas (descendentes de Fátima, filha de Maomé).
Ele não queria, porém, recrutar mercenários, mas sim contar com homens que se entregassem de corpo e alma à sua doutrina. Seus discursos, em que se apresentava como o houdschet, a reencarnação do sétimo Imã Ismael, seduziam cada vez mais os fiéis. Os novos adeptos estavam dispostos a obedecer cegamente a seu grande líder, aceitando até mesmo o sacrifício supremo da própria vida. Na época, eram chamados de os "assassinos". Não sabemos, hoje, exatamente quais eram os ensinamentos e as práticas desses Assassinos, já que os textos da seita desapareceram. Restaram os testemunhos dos seus adversários e dos cronistas europeus que participaram das Cruzadas.
TUDO O QUE PUDESSE ENFRAQUECER OS INVASORES ÁRABES ERA BOM PARA O GRANDE SENHOR, CUJA MÁXIMA ERA "OS INIMIGOS DE MEUS INIMIGOS SÃO MEUS AMIGOS"
Seus inimigos contavam que, para assegurar a fidelidade de seus seguidores, Bin Sabbah levava-os, sob o efeito do haxixe, para um maravilhoso jardim perfumado onde fontes derramavam água fresca e jovens mulheres nuas faziam generosas carícias. Durante este estado, era fácil conseguir dos adeptos um juramento de obediência absoluta. Quando despertavam, os sectários eram convencidos de que o paraíso que conheceram brevemente na terra era o mesmo que os aguardava após a morte. Mas era preciso, ainda, que a morte servisse aos interesses do soberano, eliminando seus inimigos. Seus seguidores passavam por um treinamento físico para aprender, entre outras coisas, o uso do punhal com que eliminavam o inimigo. Além disso, eram submetidos à doutrinação religiosa, com nove etapas de iniciação.
No ponto mais baixo da hierarquia estavam os lassek, a massa dos fiéis, constituída pelos habitantes das regiões vizinhas. Acima deles estavam os mujib, os noviços. Dependendo das suas aptidões, eles estavam destinados a formar os quadros da seita ou a se tornar fedayin, os que se sacrificam. Os quadros, chamados de rafik, eram capazes de comandar uma fortaleza e dirigir a organização secreta no âmbito de uma cidade ou de uma província. Restavam os daï, os propagandistas, os missionários, os pregadores da nova religião. Por fim, no ápice dessa pirâmide, estava o grande senhor, o próprio Hassan.
Coube a Hussein Qâ\\'ini, seu melhor agente, a formação da organização clandestina. Os futuros Assassinos aprendiam a língua do país para o qual eram enviados, o modo de se vestir de seus habitantes, seus usos e costumes. Abû Ibrâhim Asibâdâsi, capturado durante uma missão suicida em Bagdá, resumiu de forma simples o modus operandi dos sectários. Quando os carcereiros levavam um Assassino para ser executado, ele solicitava a presença do califa e dizia: "Você pode me matar, mas poderá matar todos aqueles que se encontram em seu castelo?"
De fato, antes de praticar os atentados, os agentes do senhor de Alamut realizavam um longo trabalho de infiltração. Ganhavam a confiança da futura vítima e a matavam, quando ela acreditava estar segura no seio de sua fortaleza. Tal como resumia essa ameaça proferida por um outro seguidor: "O nosso senhor elaborou ciladas e armadilhas para prender nas malhas da morte os seus inimigos e os da religião.
Ninguém está ao abrigo de sua vingança: a vítima será atingida no coração de sua própria cidade e no centro de seu próprio palácio." Os príncipes temiam ver um de seus favorecidos se precipitar em sua direção com um punhal na mão.
O primeiro dignitário vítima da lâmina de um punhal foi o vizir de Isfahan, Nizam al-Mulk Tusi.
O atentado foi preparado pelo próprio Hassan bin Sabbah. Um dos Assassinos, Rachi al-Dîn contou: "O grande senhor nos convocou e perguntou qual dentre nós livraria nosso Estado do maligno Nizam al-Mulk Tusi. Era uma bela caça para os membros da seita. Um dos fedayim, Bu Tâhin Arrani, levanta-se e, colocando a mão no peito, oferece-se. Ele é assim eleito. Disfarçado de religioso muçulmano, ele se aproxima de Nizam e o apunhá-la."
A marca da adaga
Do Irã ao Cáucaso, da Síria ao Egito, acumulavam-se os cadáveres dos príncipes muçulmanos. Todos traziam a marca da adaga de Hassan bin Sabbah. A partir de então, nenhum chefe árabe ou turco "ousou sair de sua residência sem escolta, e todos usavam uma armadura sob a vestimenta, temerosos de ser atingidos pelo punhal dos Assassinos". Estava fora de questão o uso de veneno, que poderia fazer o crime passar por uma morte natural. O lema da seita era: "Só podemos curar a ferida do mundo com a lâmina que a gerou."
Príncipes, vizires, emires, sultãos: todos temiam, ignorando quando e de onde viria o golpe fatal. Mas avisos não faltavam. De fato, a melhor maneira de aterrorizar a vítima era deixá-la de sobreaviso. Assim, o cronista Djoueïny contou que Hassan bin Sabbah, ao perceber que um sultão estava decidido a proteger as caravanas de suas investidas e que organizava um exército para combatê-lo, corrompia membros da corte, em particular um dos eunucos.
"Subornado pelo dinheiro, o eunuco é encarregado de fixar um punhal ao lado do travesseiro do sultão enquanto este dorme e de depositar uma carta nas proximidades. Quando o sultão acorda, ele vê o punhal e lê a carta: \\'Se eu não te quisesse bem, esta lâmina estaria em teu peito e não em tua cama. Não recuses minhas ofertas, ou te farei mal\\'. Aterrorizado, o sultão decidia deixar que o grande senhor atacasse as caravanas. Entre a sua vida e a sua fortuna, o soberano fazia sua escolha.
Outros não ousavam nem obedecer nem desobedecer. Como o cádi que, intimado a abandonar sua fortaleza, decidiu destruí-la. Foi a única solução que ele encontrou para permanecer fiel ao seu sultão e não contrariar as ordens do terrorista.
Foi nesse Oriente Médio ameaçado pelos Assassinos que desembarcam os cruzados vindos da Europa cristã. O objetivo deles era recuperar Jerusalém, a cidade santa. Não é o caso de refazer, aqui, o percurso das oito cruzadas que se desenrolam entre 1096 e 1270. Mas o que chamaríamos hoje de "operações conjuntas" não perturbou em nada a política terrorista de Bin Sabbah.
Em várias ocasiões, os cruzados negociaram até mesmo a sua neutralidade. A cada um a sua guerra santa. Quando Bin Sabbah morreu, em 1124, era tempo da Segunda Cruzada e as tropas cristãs haviam fundado o reino latino de Jerusalém, o principado de Antióquia, os condados de Edessa e de Trípoli.
Um de seus filhos, Buzourg Umid, tomou o comando da seita e o nome do pai. Foi o início da lenda do Velho da Montanha. Ignorando a morte de Hassan bin Sabbah pai, seus adversários pensavam que o chefe dos Assassinos era imortal. Tal pai, tal filho: as rapinas e os atentados aos dignitários se sucediam: dois vizires, dois califas, um prefeito, um governador, um mufti feneciam sob o punhal dos assassinos.
Os aliados objetivos
Buzourg morreu em 1138, mas o fim do terror ainda estava longe. Muhammad, neto de Hassan pai e filho de Buzourg, tornou-se chefe da seita. Seu "reinado" de 23 anos viu a morte de sultãos, cádis, vizires, outros califas, e até mesmo um primeiro príncipe cristão, o conde Raymond II, de Trípoli, em 1150. A dinastia e a lenda do Velho da Montanha perpetuaram-se em 1161 com Qadal al-Dîn Hassan, um dos filhos de Muhammad.
Nada provocava medo neste quarto grande senhor, nem a seus seguidores. Decidido a pôr fim à dinastia dos Ayyubidas, ele ordenou, por três vezes, a morte de Saladino, seu mais célebre representante. A primeira tentativa ocorreu em 1174, a segunda, em 1175 e a última, em 22 de maio de 1176. Assassinos disfarçados de soldados da guarda pessoal de Saladino tentaram enforcar o sultão do Egito e da Síria. Antes da morte de Raymond II de Trípoli, os Assassinos consideravam os cruzados como "aliados objetivos".
Felipe Augusto e Ricardo Coração de Leão até mesmo se entenderam com o chefe da seita. O tratado foi regido pela máxima: "os inimigos de meus inimigos são meus amigos." O grande senhor considerava que tudo o que podia enfraquecer os invasores árabes era bom para os persas.
Ele começou, assim, a estabelecer em torno de Alamut uma rede de fortalezas, como postos avançados destinados a propagar sua autoridade e sua força. Lamiassar e Meimoundiz foram também anexadas à sua rede, que se estendeu da Síria até o Iraque.
Assim, quando São Luís desembarcou no Oriente, em 1248, os Assassinos eram uma força a levar, forçosamente, em conta. O apetite de dinheiro e de reconhecimento da seita permanecia igual. Após sua derrota em Mansoura, o rei franco recebeu uma mensagem que não poderia ser mais clara: "Os príncipes ocidentais anteriores, como o rei da Hungria e o imperador da Alemanha, pagaram-me um tributo, e o senhor, que foi derrotado, deve fazer o mesmo." Os embaixadores exibiam os atributos habituais do Velho da Montanha: o punhal, símbolo de sua força, e a mortalha com a qual envolvia suas vítimas. A ameaça era clara. Mas, se outros cederam à chantagem, São Luís resistiu.
Com isso, ele ganhou a consideração do grande senhor. Duas semanas mais tarde, o grande senhor ofereceu ao rei da França seu anel e a sua camisa: "A camisa é a vestimenta que está mais próxima do corpo; o grande senhor quer estar assim mais próximo do rei franco." Esta declaração de amizade foi acompanhada por presentes: um jogo de xadrez de âmbar perfumado, um elefante e uma girafa de cristal. O rei, em retribuição, ofereceu-lhe jóias e deixou no local um embaixador permanente, o dominicano Yves Le Breton.
Outro príncipe, Halagu, recusou a chantagem do Velho da Montanha. Era um chefe mongol e estava decidido a acabar de uma vez por todas com os Assassinos e seu chefe. Em 1256, ele conquistou e arrasou a cidadela de Alamut, pondo fim a 166 anos de terrorismo. Um cronista da época alardeava: "Eles ousaram ameaçar o tigre e este os esmagou." Passados nove séculos, uma ameaça semelhante se ergue, desta vez do Oriente rumo ao Ocidente.
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Marie Helène Parinaud é doutora em História, é autora de La Revolution Française a Paris.
Revista Historia Viva
Que história magnífica. Fica claro a obsessão, o fanatismo e a irrevogavel proteção aos ideais, de Bin Laden.
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