segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Teorias em queda

Teorias em queda
Descobertas da arqueologia mudam antigas certezas

Carlos Marchi

Peças indicam que civilizações avançadas viveram na Amazônia. Foto: Antônio Milena/AE

A história da Amazônia não ocorreu exatamente como nos contaram, revelam as modernas conclusões da arqueologia. Sabe-se, por exemplo, que às margens do Rio Amazonas viveram sociedades grandiosas e complexas até o século 16, quando chegaram os colonizadores. Não é possível quantificar com exatidão essas populações, mas estima-se que na Amazônia viviam entre 5 milhões e 5,5 milhões de pessoas, afirma o arqueólogo Eduardo Góis Neves, do Museu de Arqueologia da Universidade de São Paulo (USP). Havia aldeias com mais de 10 mil pessoas no Rio Amazonas, confirma o antropólogo Beto Ricardo, do Instituto Sócio-Ambiental (ISA). “Tinha mais gente na Amazônia no século 16 do que no começo do século 20”, observa Neves.

Embora alguns agrupamentos vivessem de caça e coleta, a maior parte dessa população amazônica era sedentária e dependia de uma agricultura com plantas domesticadas e semidomesticadas. Essa comprovação suscita dois novos fenômenos. Primeiro, derruba a idéia de que os índios da Amazônia eram, em sua maioria, meros caçadores-coletores e viviam mudando de sítio. Segundo, desconstrói a tese de que a derrubada de mata para a prática continuada de agricultura inutiliza a terra amazônica, que é pouco fértil. Deu-se o contrário, sinaliza Neves: a prática de uma agricultura ampla propiciou o depósito de matéria orgânica em largas faixas que os arqueólogos chamam de “terras pretas” – as únicas franjas férteis existentes hoje na Amazônia.

Há evidências de que, até a chegada dos colonizadores, os indígenas da Amazônia mantinham intensa troca de informações com populações do altiplano andino, relata Neves. Uma delas é surpreendente: ancestrais dos incas gravaram inscrições reproduzindo as imagens da mandioca e do jacaré-açu – e no altiplano não havia nem mandioca nem jacaré-açu. Surgem sinais de que as antigas teorias sobre a Amazônia, formuladas pela arqueóloga americana Betty Meggers, podem ter sido parcialmente equivocadas.

Meggers pregou que a Amazônia, por causa do seu meio ambiente frágil, nunca teria acolhido grandes populações, o que agora se comprova falso; ela também rotulou as sociedades amazônicas como periféricas, originadas de povos desgarrados do altiplano andino, onde teriam habitado as sociedades mais evoluídas. Para Neves, há indícios de que a mobilização pode ter ocorrido exatamente ao contrário.


Revela-se que as antigas populações amazônicas não eram tão toscas quanto as que sobreviveram à colonização. Neves exibe uma ponta de flecha de sílex coletada no sítio Dona Stella, em Iranduba, perto de Manaus, datada de 7000 a.C. A mandioca foi domesticada em 5000 a.C., no Alto Rio Madeira, por ancestrais dos tupis – uma época em que o antigo Império Egípcio ainda não estava organizado. No Alto Guaporé (entre Mato Grosso e Rondônia), há sítios que atestam presença humana em 12000 a.C. Cerâmicas encontradas em Santarém têm datações de 5000 a.C. (a mais antiga peça pré-incaica, localizada na Colômbia, é de 4000 a.C.).

Em Iauaretê, no extremo Noroeste do Brasil, Neves contou a índios tarianos que buscava sítios antigos. Eles o levaram a um lugar que teria sido o berço de seus ancestrais, segundo narrava a lenda tariana. Neves escavou lá e encontrou peças preciosas. A datação revelou que aquele povo vivera ali em 1415, quase 80 anos antes da chegada de Colombo às Américas.

Os conquistadores portugueses dizimaram as elites dessas populações extraordinárias. Os que conseguiram escapar fugiram para as cabeceiras dos rios, deixando para trás os melhores fundamentos de sua cultura.

Jornal O Estadão

4 comentários:

Em@ disse...

Todos os dias verificamos que o que era verdade ontem, não é bem assim hoje...:))

Joaquim Cunha da Silva disse...

A ideologia dominante produz argumentos para estigmatizar os povos dominados.
Primeiro falou ate que os Nativos da America eram todos índios e que não tinham alma(hhehehe).
Queriam esconder,que o motivo deles vir para America era Roubar
O que você quer de uma civilização que não tinha calendário,e estavam mantendo o poder com Dogmas,
que hoje crianças do pre escolar contestam.
Em Alta Floresta d´Oeste Rondônia-Brasil possui Geoglifos de temática Pre-Inca, Observatório Astronômico, Pirâmide
com idade acima de 2000 anos
Detalhes em meu Blog

http://eldorado-paititi.blogspot.com/

Gerardo Cailloma disse...

En realidad, todos los pueblos precolombinos fueron vistos como culturas atrasadas con el fin de realizar su proceso de adoctrinamiento y "civilización" de las culturas aborígenes. En nuestro país, María Rostorowsky ha hecho un estudio de esta terrible dualidad que ha escindido a nuestro país y que ha tenido reacciones tan violentas como "Sendero Luminoso". En los últimos sucesos de la selva peruana, en Bagua, la actitud de mucha gente (en incluso lo dijo el presidente imbécil que tenemos) con la gente de la selva, las etnias selváticas: eran un grupo de desadaptados, ignorantes, enemigos del progreso. Si el lenguaje "oficial" dice esto, ¿qué podemos esperar de los demás? Aquí hay toda una búsqueda interesante de culturas selváticas como en Chachapoyas. Antes los peruanos estudiábamos todo desde los inca; ahora tenemos que releer la historia: Moche, Cahuachi, Ventarrón, Caral, Las Aldas. En fin.

Fernanda Rocha Mesquita disse...

Eu vivo no estado de Alberta, Norte de Canada, onde os indios actualmente, sao protegidos pelos estado mas ao mesmo tempo postos de parte. Onde a raiva dos indios e calada por beneficios que o estado lhes oferece. Mas apesar da modernizacao ainda respiram no ar vestigios de uma civilizacao india que viveu aqui e que sofreu muitas atrocidades. O proprio museu de Edmonton expoe mortes atraves de pinturas e objectos de um povo que conta uma historia na historia humana.